PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: A Revolução de 1930 e a ascensão nacional de José Américo de Almeida - Por Sérgio Botelho

Até a escolha do sobrinho João Pessoa para presidir a Paraíba, o ex-presidente Epitácio Pessoa (1865-1942), que governara o país entre 1919 e 1922, ditava as ordens na política paraibana. Na função, ele havia substituído o ex-governador e ex-senador Álvaro Machado (1857-1912), que comandara a política local por cerca de 20 anos.
Sob a batuta de Epitácio, presidiram a Paraíba João Castro Pinto (1912-1915), como solução de consenso entre os alvaristas e os epitacistas, seguindo-se o irmão do próprio Epitácio, Antônio Pessoa (1915-1916), Sólon de Lucena (por duas vezes, a primeira, substituindo Antônio Pessoa, em 1916, e depois, governando entre 1920 e 1924), Camilo de Holanda (1916-1920), João Suassuna (1924-1928) e o sobrinho João Pessoa (entre 1928 e 1930, quando foi assassinado em Recife).
Nesse ínterim, o areense José Américo de Almeida (1887-1980) se construía intelectualmente, após seminarista, estudante do Lyceu e da Faculdade de Direito do Recife, de onde saiu advogado. Nos anos 1920, publicou os livros Reflexões de uma cabra (1922), A Paraíba e seus problemas (1923) e A bagaceira (1928). Com o último, conquistou prestígio nacional, após elogios do festejado crítico literário Alceu Amoroso Lima (1893-1983), também conhecido pelo pseudônimo de Tristão de Athayde, em crônica publicada em 11/3/1928, no O Jornal, sob o título “Uma revelação”.
Foi em meio ao governo de João Pessoa, que José Américo começou se erguer na política, no âmbito estadual, primeiro como Secretário do Interior, depois, em plena crise provocada pela reação de coronéis paraibanos, ao governo estadual, na função de Secretário de Segurança. No cargo, assumiu pessoalmente o comando da reação oficial à chamada Revolta de Princesa, quando retomou algumas cidades em poder dos revoltosos.
Nas eleições de março de 1930, na qual a chapa Júlio Prestes-Vital Soares venceu a de Getúlio Vargas-João Pessoa, José Américo alcançou 23.000 votos, para deputado federal, sendo, na expressão da época, “degolado” pela Comissão de Reconhecimento de Poderes da Câmara, uma prática comum durante a chamada República Velha.
Após o assassinato de João Pessoa e a assunção do vice, Álvaro de Carvalho, ao governo, José Américo permaneceu na condição de Secretário de Segurança, quando se tornou peça fundamental para a vitória da Revolução de 1930, na Paraíba.
Com a posse de Getúlio na Presidência da República, ele assumiu o governo do Estado e a função de Chefe Civil da Revolução no Norte, que incluía os estados amazônicos, ao lado do cearense Juarez Távora, Chefe Militar, no mesmo espaço geopolítico, iniciando sua ascensão nacional. A essas alturas, o poder de Epitácio Pessoa, apesar de seu apoio à Revolução de 1930, iniciou processo de declínio, especialmente após atingido pela morte do sobrinho João Pessoa.
Deixou o governo estadual para assumir o Ministério da Viação, no governo da Aliança Liberal. Em 1935 foi eleito Senador pela Assembleia Constituinte da Paraíba, alcançando o posto de Secretário do Senado. Porém, renunciou ao mandato em função do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas, quando se tornou um dos possíveis candidatos da Revolução à Presidência da República, nas eleições marcadas para 1937. O pleito terminou não acontecendo por força do golpe de Estado sob patrocínio de Getúlio, quando foi instalada uma ditadura, a do Estado Novo, que durou até 1945.
Por sinal, foi uma entrevista concedida por José Américo ao jornalista Carlos Lacerda (1914-1977), do jornal Correio da Manhã, em 22 de fevereiro de 1945, que acabou precipitando a queda do Estado Novo, que já não ia muito bem das pernas.
Em 1950, venceu a disputa para governador do Estado, se licenciando para assumir, mais uma vez, o Ministério da Viação do governo então eleito de Getúlio. Com o suicídio do presidente, reassumiu o governo estadual, tomando a inciativa de criar a Universidade da Paraíba (hoje, Universidade Federal da Paraíba), tendo sido o seu primeiro reitor.
Em 1958, tentou outra vez o Senado, quando foi derrotado por Rui Carneiro (1906-1977). Já em 1967 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tomando posse em 1968. José Américo é fundador da Cadeira 35, da Academia Paraibana de Letras, cujo patrono é o taperoense Raul Machado.
Atualmente, o governo do estado mantém a Fundação Casa de José Américo (FCJA), no prédio que foi residência do político e intelectual paraibano, na Praia do Cabo Branco, instituição que preserva e divulga sua vida e sua obra, além de promover a cultura e a história da Paraíba. É um espaço de museu, biblioteca, arquivo, hemeroteca, galeria e mausoléu, com o objetivo de fomentar a pesquisa, o ensino e a extensão.

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.