Opinião

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: Rua Índio Piragibe - Por Sérgio Botelho

Há uma pertinente e histórica rua, em João Pessoa, que homenageia um indígena, chamada rua Índio Piragibe.

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: Rua Índio Piragibe - Por Sérgio Botelho

Há uma pertinente e histórica rua, em João Pessoa, que homenageia um indígena, chamada rua Índio Piragibe. Bem extensa, a via é uma das que ligam diretamente as partes alta e baixa da cidade.

Ela começa na Praça Venâncio Neiva (a do Pavilhão do Chá) e termina à beira do rio Sanhauá, quando é sequenciada, rumo à cidade de Bayeux, por meio da avenida Nova Liberdade, em rota paralela ao antigo corredor formado pela avenida Liberdade e pela rua da República, no caso, ligadas pela desativada Ponte da Batalha. Em sua trajetória, a rua Índio Piragibe delimita, ao norte, o tradicional bairro Cordão Encarnado, e margeia toda a lateral norte do Cemitério Senhor da Boa Sentença.

São perpendiculares a ela a João Tavares, no coração do Cordão Encarnado, a Beaurepaire Rohan, tradicional rua do Comércio (que tem na outra extremidade a Praça Pedro Américo), e a rua Padre Ibiapina, cruzando, na sequência, as ruas São Miguel (que marca a oeste o limite urbano do Cordão Encarnado) e a Visconde de Itaparica, margeando ao norte a Praça 2 de Novembro, em frente ao Senhor da Boa Sentença.

Bem perto dali, tem a Ilha do Bispo, justamente onde parte da tribo dos índios Tabajaras, chefiados por Piragibe (Braço de Peixe) foram aldeados após a conquista da Paraíba pelos portugueses. Piragibe, homenageado com o seu nome na referida rua, teve papel destacado na vitória final dos lusitanos sobre os potiguaras, quando da conquista da capitania paraibana, consolidada em 5 de agosto de 1585, data em que foi fundada a Cidade Real de Nossa Senhora das Neves.

Piragibe, nascido na região do rio São Francisco, chegou à Paraíba após brigas mortíferas com os portugueses, e um extenso e penoso processo migratório de 11 anos, com sua tribo, entrando pela atual região de Monteiro, na nascente do Rio Paraíba. Seguindo o rio, rumo ao mar, os Tabajaras acabaram se encontrando com os Potiguaras, moradores da região há séculos.

Inicialmente, as duas tribos se entenderam, e a paz reinou entre eles. Contudo, os portugueses, empenhados em conquistar a Capitania da Paraíba, arrumaram um encontro com Piragibe, em meio a uma luta entre os dois lados, e o convenceram de que seria melhor uma aliança dos Tabajaras com os europeus, com a justificativa de que era iminente uma traição potiguar, com relação aos liderados de Piragibe.

Firmado o acordo, foi então possível derrotar os naturais da terra, estabelecer um armistício geral, e fundar a atual João Pessoa, quando o sonho de conquistar a Paraíba, várias vezes inviabilizada pela resistência potiguar, com incentivo dos franceses, interessados no pau-brasil, foi enfim logrado pelos europeus.

Para alguns, Piragibe figura como patrocinador de uma traição aos interesses indígenas. Mas há quem o defenda em nome da complexidade da situação, naquela época, especialmente de sua tribo, natural de outras plagas, e a cujos membros deveria conduzir a bom destino, após todo o processo migratório enfrentado.

Piragibe, que já era bastante velho durante todo esse episódio histórico, teria falecido na Ilha do Bispo, convertido ao cristianismo.

(A foto é da rua Índio Piragibe, onde se vê a lateral da Igreja Nossa Senhora da Conceição)

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba