opinião

OS ERROS DE JOÃO AZEVEDO 1 - Por Flávio Lúcio

O desfecho dos embates em torno do controle do PSB paraibano, depois do anúncio da destituição de todo o diretório estadual do PSB paraibano, e da posterior criação de uma comissão provisória para dirigir o partido, feito hoje pelo presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, merece uma longa reflexão, que será feita aqui em capítulos.

Se o anúncio representa uma inquestionável vitória para Ricardo Coutinho, numa demonstração de força e liderança interna contra o “poder da caneta” de João Azevedo, é preciso ainda saber se serão interrompidos os movimentos feitos até agora para produzir p rompimento entre o ex e o atual governador da Paraíba, ou se marcharemos para um consenso entre os dois.

MOVIMENTOS ATABALHOADOS

Desde que assumiu o governo, o maior dos erros políticos cometidos por João Azevedo foi sua tentativa malograda de isolar Ricardo Coutinho dentro e fora do PSB. A multiplicidade de movimentos que fez João Azevedo nessa direção eram explícitos demais para não serem percebidos.

Mesmo assim, um dos mistérios que permanecem indecifráveis, a não ser na cabeça deNonato Bandeira, o cérebro por trás dessa estratégia, é a razão pela qual João Azevedo decidiu abrir tão cedo o confronto com Ricardo Coutinho.

Rupturas entre criatura e criador sempre aconteceram na política brasileira, e a Paraíba tem numerosos exemplos disso.

Carlos Mangueira foi eleito vice-prefeito de João Pessoa, em 1988, e assumiu o cargo em definitivo quando o titular, Wilson Braga, renunciou para se candidatar ao governo estadual, em 1990. Quando Ronaldo Cunha Lima tomou posse, Mangueira cuidou de mudar de barco.

Na eleição seguinte foi a vez de Chico Franca. Do mesmo grupo político de Wilson Braga, Franca era um ilustre desconhecido para o eleitorado até ser lançado vice na chapa de Lúcia Braga. Como a titular foi impugnada dias antes da eleição, Franca foi eleito beneficiado em razão de não ter havido tempo para imprimir novas cédulas − as já impressas constavam Lúcia Braga na cabeça de chapa.

O que há de comum entre os dois casos? Primeiro, que tanto Carlos Mangueira como Chico Franca romperam com Wilson e Lúcia Braga depois do segundo ano de mandato. Segundo, os dois adquiriram depois dos mandatos a marca da deslealdade e desapareceram da política paraibana.

Por isso, se esse foi o objetivo delineado por João Azevedo antes de assumir a cadeira de governador, os movimentos que anteciparam o confronto com a liderança de Ricardo Coutinho foram tão atabalhoados que só os mais ingênuos não perceberam.

Isso ficou tão evidente que até a imprensa de oposição, à unanimidade, deixou de detratar o atual governador e se converteu, com uma rapidez sui generis, em “conselheiros” do governador, incensando-o a se “diferenciar” de Ricardo Coutinho, recomendando que desse uma “outra cara” a um governo que fora eleito com um discurso de continuidade da obra iniciada nos oitos anos anteriores.

Os tapetes de todos os cantos, antes azuis, hoje verde-amarelos, logo foram estendidos ao governador, numa sincronia tão perfeita que parecia regida por um maestro: Nonato Bandeira regia a imprensa de oposição, enquanto os aliados se viam num constrangimento que dava dó.

E então, o rei se fez nu: tão cioso em evitar ter a imagem de alguém manipulado pelo ex-governador, a quem deve a eleição, João Azevedo caiu feito um patinho na armação urdida por Nonato Bandeira para separá-lo de Ricardo Coutinho.

Porque foi isso que Nonato sempre teve em vista: sem Ricardo Coutinho por perto, Nonato teria toda a liberdade para definir os rumos políticos do governo, em razão do imberbe governador, apesar de afeito ao mundo da administração pública, não conhecia os meandros do jogo bruto da política.

E essa característica o atual secretário de comunicação ajudou a difundir desde logo: João Azevedo, o “técnico” que dialoga, ou seja, que está aberto a fazer acomodações políticas, a negociar o que fosse possível para ter paz − o resultado mais evidente desse novo tempo foi o nascimento do G10, um grupo de deputados ansioso por “dialogar” com o novo governador (com a faca no pescoço do dito-cujo).

Ou seja, foi Nonato Bandeira o grande responsável por meter o governo de João Azevedo num grande e desnecessário imbróglio, cuja estratégia passava por confrontar a maior liderança política da Paraíba, uma das maiores do país, e o principal responsável pela eleição do atual governador.

Amanhã eu voltou para tratar de um dos possíveis medos de João Azevedo: 2022.

Fonte: Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio