entre a cruz e a espada

O perde-e-ganha de Moro: evita a CPI mas fica sem cadeira no Supremo - Por Nonato Guedes

Se não chegou a convencer os parlamentares ou a opinião pública, bombardeada com dez horas de sessão-sabatina, o ministro aparentemente saiu da CCJ com um trunfo nas mãos: evitou fornecer ao Congresso Nacional justificativas que fundamentassem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar abuso de autoridade de sua parte na troca de mensagens com o procurador Deltan Dallagnol e outros procuradores da Operação Lava-Jato. A rigor, Moro saiu por cima da carne seca porque pairam dúvidas sobre a compactação dos diálogos travados e, mais ainda, sobre a alegada gravidade dos episódios. Por assim dizer, o ministro escafedeu-se no vácuo de provas elucidativas e irreversíveis. Mas..

Sejamos honestos: a “via-crúcis” do ministro Sérgio Moro, ontem, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, foi uma orquestração engendrada para escalpelar o titular da Justiça e defenestrá-lo do cargo através do desgaste. Se possível, para provocar consequências danosas à sua reputação, forjando ilações capazes, quem sabe?, de pô-lo atrás das grades. Seria a vindita suprema dos opositores do governo do presidente Jair Bolsonaro e dos lulopetistas que não perdoam, jamais perdoarão Sérgio Moro por ter tido a coragem de decretar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma espécie de “santo” da política brasileira nesses tempos que estão se escoando.

Se não chegou a convencer os parlamentares ou a opinião pública, bombardeada com dez horas de sessão-sabatina, o ministro aparentemente saiu da CCJ com um trunfo nas mãos: evitou fornecer ao Congresso Nacional justificativas que fundamentassem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar abuso de autoridade de sua parte na troca de mensagens com o procurador Deltan Dallagnol e outros procuradores da Operação Lava-Jato. A rigor, Moro saiu por cima da carne seca porque pairam dúvidas sobre a compactação dos diálogos travados e, mais ainda, sobre a alegada gravidade dos episódios. Por assim dizer, o ministro escafedeu-se no vácuo de provas elucidativas e irreversíveis. Mas..

Mas o desgaste foi inevitável, o que confere à performance do ministro Sérgio Moro o epíteto de “vitória de Pirro”. Apriorísticamente, há uma tendência de acentuar-se o enfraquecimento do titular da Justiça, originalmente recrutado por Bolsonaro para sua equipe na condição de “reserva moral”, com a incumbência de emprestar credibilidade a uma gestão bagunçada e sem planos concretos de ação. O enfraquecimento a que se alude significa que Moro caminha para ser uma espécie de “zumbi” no ministério de Bolsonaro, ejetado do bloco dos “notáveis”, do qual era uma das expressões juntamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes. O grande projeto de Moro, o pacote anticrime, independente do barulho provocado pelas revelações do site “The Intercept Brasil”, não tem caminhado a contento no Congresso Nacional e parece mesmo não ser levado a sério pelos próprios aliados do governo Bolsonaro.

Em paralelo, ou de forma colateral, poderá haver reflexo negativo para a Operação Lava-Jato, que no nascedouro trazia o sinete de mais bem-sucedida operação de combate à corrupção ou a crimes de colarinho branco num país que sempre fez vistas grossas para esses abusos, com as conivência de ministros do Supremo Tribunal Federal e de outros tribunais superiores estabelecidos em Brasília. A Lava-Jato é questionada por erros, até por excessos, e deve ser mesmo patrulhada, discutida, pela sociedade e pelos doutores da Lei. Mas o seu esvaziamento só interessa de perto, mesmo, aos corruptões, os malandros títeres da política brasileira, distribuídos nas siglas pulverizadas que não são de esquerda nem de direita, são uma contrafação do risível sistema partidário que prevalece no país. Por pouco, ontem, não se expediu um indulto generalizado, que de forma automática iria dar o benefício da liberdade a milhares de marginais da política que estão vendo o sol nascer quadrado.

Há uma outra consequência desfavorável a Sérgio Moro e que está intrinsecamente associada a uma ambição particular: a vaidade de ser ministro do Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte de Justiça do país. Moro vinha acalentando essa hipótese, segundo as versões, desde a campanha eleitoral em que deixou de ser magistrado para demonstrar sinais de torcida por um candidato – Jair Bolsonaro. A sua convocação na hipótese de vacância, que está iminente, na composição de cadeiras do STF, havia sido mesmo apalavrada por Bolsonaro, e Moro pôs-se na expectativa de “chegar lá”. Enquanto isso, iria tocando o barco, agilizando o que precisa ser agilizado na conjuntura que tramita neste Brasil de Mãe Preta e Pai João. Pois, agora, toda essa arquitetura ameaça ir pelos ares. Refém de circunstâncias nebulosas, de episódios não suficientemente esclarecidos, Moro está, por assim dizer, “bichado” para o cargo de ministro do Supremo.

Pode ser que por honra da firma ou por coerência com seu estilo ciclotímico, o presidente Bolsonaro insista em levar Moro ao pódium do Supremo. Mas os sinais que estão no ar nem de longe conspiram mais para essa hipótese, o que significa que a oposição, até certo, logrou um dos objetivos que perseguia: o de balear a imagem do grande expoente da Lava-Jato, evitando que ela ficasse blindada, como foi a estratégia do governo e seus aliados na memorável sabatina de ontem. O Brasil, decididamente, não é para principiantes. Nunca foi!

Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes