preocupante

O exercício da política e o movimento da antipolítica - Por Rui Leitão

Há um esforço estratégico para estigmatizar a classe política. O lavajatismo cuidou de promover, com espetacularização, esse intento. O objetivo é fazer com que a grande maioria da opinião pública nacional passe a encarar a classe política como corrupta de forma generalizada. A última eleição para presidente da república foi bem um reflexo disso. O eleitorado elegeu alguém que se apresentava como um outsider, num discurso de combate à velha política. Percebe-se, agora, que a prática vem contrariando o que pregavam durante a campanha. O que estamos vendo é o cometimento dos mesmos vícios históricos, por aqueles que se diziam os “diferentes”.

Há um esforço estratégico para estigmatizar a classe política. O lavajatismo cuidou de promover, com espetacularização, esse intento. O objetivo é fazer com que a grande maioria da opinião pública nacional passe a encarar a classe política como corrupta de forma generalizada. A última eleição para presidente da república foi bem um reflexo disso. O eleitorado elegeu alguém que se apresentava como um outsider, num discurso de combate à velha política. Percebe-se, agora, que a prática vem contrariando o que pregavam durante a campanha. O que estamos vendo é o cometimento dos mesmos vícios históricos, por aqueles que se diziam os “diferentes”.

Não podemos deixar de reconhecer que a nossa cultura política concorre para a formação desse julgamento popular. São frequentes e inúmeros os exemplos de má conduta de muitos dos que fazem política neste país. Não exercitam a política na sua expressão mais legítima, e sim a “politicagem”. Troca de favores, tráfico de influência, compra da consciência dos eleitores, fraudes eleitorais, procedimentos ilícitos na esperança de que ficarão impunes, má gestão do dinheiro público, absoluta falta de comprometimento com as causas sociais. Só para citar alguns exemplos que caracterizam a parte podre dos homens públicos brasileiros.

Mas não podemos generalizar, existe muita gente voltada para os interesses da sociedade, atuando de forma desprendida no exercício de mandatos que lhes são outorgados pelo povo ou em cargos públicos para os quais foram nomeados. Fogem à regra, com certeza. O fato é que a classe política está fortemente estigmatizada. Entretanto, nós cidadãos comuns, que nos apressamos em fazer nossas críticas, de julgá-los, de impor a nossa censura, nada fazemos para mudar essa cultura política nacional. Muito pelo contrário, contribuímos para que os comportamentos sejam os mesmos, as posturas sejam confirmadas como ideais, o clientelismo e o assistencialismo sejam marcas de qualidade dos que se oferecem para disputa de mandatos eletivos. O poder econômico e a ação das máquinas administrativas desequilibram a concorrência nas eleições. Boa parte da população vive esperando o ano das eleições para disso tirar proveito. É profundamente lamentável que isso aconteça. Mas é a triste realidade.

O mais preocupante é que esse movimento antipolítica faz com que se entenda como normal o direito de destruir reputações, inclusive desrespeitando as leis. As instituições democráticas são atacadas com o propósito de fragilizar a confiança popular nelas. Estigmatizar o exercício da política é um erro que destrói o estado democrático de direito. É falso esse ataque às instituições com o pretexto de que estão querendo salvá-las. A retórica pautada na disseminação de inverdades, sedimenta o estabelecimento de um cenário em que tudo o que acontece de ruim é por conta das ações de agentes políticos

A antipolítica tem encontrado terreno fértil para sua proliferação. Guerras culturais são estimuladas, fazendo com que não se dê importância à necessidade de examinar se os discursos estão ancorados na realidade. Desqualificar desafetos é um recurso bastante utilizado, muitas vezes apoiado na mentira. O ambiente nacional, por conta disso, se divide entre o “nós e eles”, os considerados “mocinhos” e os que são apontados como “bandidos”. Procura-se valer da máxima de que “a verdade sou eu”, os pseudomoralistas, fixando falácias na opinião pública.

Sou um otimista teimoso. Acredito que o exercício da política “stricto sensu” haverá de ser resgatado. Confio no despertar de uma consciência coletiva que faça desaparecerem os politiqueiros profissionais, substituindo-os por políticos sérios, comprometidos com o bem estar comum. Tenho esperança de que essa revolução cultural acontecerá, desde que antes de sermos críticos dos políticos, apenas porque não gostamos deles, sejamos críticos de nós mesmos. Será que votamos a cada eleição com a consciência firme da responsabilidade que estamos transferindo àqueles que recebem os nossos sufrágios? Será que não pensamos, em primeiro lugar, se o eleito vai nos beneficiar diretamente, esquecendo de pensar prioritariamente no bem coletivo? Será que não nos deixamos levar pelas paixões políticas e a influência da propaganda, na hora de decidirmos a nossa opção nas eleições? São questões que precisam ser levadas à reflexão.

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba