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O desencanto de Bruno - Por Júnior Gurgel

Foto: Reprodução

A crônica política que noticia o cotidiano do prefeito de Campina Grande vem fazendo registros simplórios e às vezes subliminarmente deletérios sobre seu desempenho – caracterizando como mortiço – no terceiro ano de sua gestão, fato diagnosticado pelos seus opositores em avaliação “qualificada”, como incompetência.

Entretanto, seu comportamento funcional pode ser enxergado sob outros prismas: inapetência, desencanto, desapontamento com os que o cercam – figuras do seu próprio meio (político) – cuja maioria são carreiristas, imediatistas; desleais; defensores de projetos meramente pessoais, afastados do interesse público; insensíveis às nítidas aspirações dos aguerridos e sonhadores habitantes da Rainha da Borborema.

Neste aspecto (no momento) Bruno Cunha Lima pode ser considerado a pessoa certa, no lugar errado. Fazendo uma analogia ao futebol, um “canhoto” – que só chuta com a perna esquerda – escalado para ponta direita. A exigência precípua para personalizar ou configurar uma liderança política – além de um mínimo de vocação – é a capacidade de conquistar simpatizantes para condescender com seus ideais altruístas, inspirados nos anseios da população, que os elegem através do voto, para conduzir seus destinos.

Existem políticos que espontaneamente atraem votos (carismáticos). Outros (de bastidores) com aptidão de criar boas equipes, e alcançar seus objetivos colimados. Os que se transformam em políticos – em função circunstancial ou momentânea – e os herdeiros naturais desta atividade, sequenciadores de um aprendizado doméstico. Isto acontece comumente em famílias de médicos, advogados e engenheiros. Seus descendentes se inspiram nas carreiras de seus avós, pais, tios…

Em Campina Grande testemunhamos ao longo do tempo todos estes experimentos. Saudoso Edvaldo do Ó foi um grande político sem voto, nem mandato. Tinha uma capacidade ímpar para revelar talentos e valores latentes, apostar nas novas ideias e renovar as elites intelectuais, políticas e econômicas da cidade. Campina sempre grande.

Ex-prefeito Evaldo Cruz – escolha circunstancial – grande técnico de sobeja e inquestionável competência, contava os infindáveis dias para concluir seu mandato, e afastar-se definitivamente da vida pública. Homem manso, poucas palavras, um grande coração que não conseguia expressar os sentimentos de empatia pelo seu povo.

Enivaldo Ribeiro, de origem completamente adversa do mundo político, tinha vocação nata para se transformar numa grande liderança. Ao lado de Vergniaud Wanderley, foram os dois maiores prefeitos de Campina Grande do século XX. Sua gestão transformou completamente a cidade, equipando-a com estrutura para crescer nas duas ou três décadas subsequentes, o que de fato aconteceu.

Poeta Ronaldo Cunha Lima – maior “arrebanhador” de multidões da história da Paraíba – sucedeu Enivaldo. Possuidor de uma retórica hipnotizante e apaixonante, dono de um irresistível fascínio, consolidou a mais longeva oligarquia política de Campina Grande: vinte e dois anos ininterruptos à frente dos destinos da cidade.

Governou o Estado, elegeu o filho Cássio como seu sucessor na cidade – com quatro mandatos – o pôs no governo e no Senado Federal. Mesmo com a saúde debilitada, reconquistou o espaço perdido por oito anos para os Rêgo.

Bruno Cunha Lima se encaixa no figurino perfeito, exigido para moldar a nova geração de políticos que alcançarão a metade do século XXI. Todavia, sua postura foi formatada no Legislativo, o oposto da “tranqueira” que representa o Executivo. A regra é “bom executivo, mal legislativos”. E, vice-versa. Resta questionar se o desconforto por estar no Executivo é dele, ou fruto de escolhas equivocadas dos que ora compõem sua equipe, e não entregam ao povo resultados satisfatórios.

Fonte: Júnior Gurgel
Créditos: Júnior Gurgel