O contador de histórias - Por Abelardo Jurema Filho

Nas discussões sobre a história da Paraíba e do Brasil, sobretudo a partir do período republicano, é ele quem nos confere a palavra final e nos retira quaisquer dúvidas. Conhece e analisa os fatos com propriedade. Comenta-os e interpreta-os desapaixonadamente, sem se deixar influenciar por correntes ou facções. Suas conclusões são o resultado do que leu, estudou e investigou, minuciosamente, responsavelmente, criteriosamente, com o compromisso inarredável com a sua consciência.

Integrante do chamado Grupo José Honório Rodrigues, uma confraria que reúne amigos e admiradores de um dos mais importantes historiadores brasileiros do século XX, falecido em 1987, o professor José Octávio de Arruda Melo é um homem voltado para o passado em busca de conhecer as razões do nosso presente e as perspectivas do nosso futuro.

Ninguém o conhece, ou reconhece, numa mesa de bar. Se quiser vê-lo, irá encontrá-lo caminhando pelas ruas, sempre com uma pasta embaixo do braço; numa biblioteca, ou em uma sala de leitura da Academia Paraibana de Letras, do Instituto Histórico ou em casa, em companhia de sua Amável e inseparável esposa, incentivadora e colaboradora, mergulhado nos livros em busca de respostas às suas indagações e inquietações.

Meticuloso em seu trabalho, de desvendar os caminhos e os mistérios que nos trouxeram até aqui, dono de uma mente brilhante que o faz guardar nomes e datas com precisão absoluta, JO é mais que um escritor: na verdade é um sociólogo, antropólogo e humanista, que aborda as questões dentro de uma visão macro, cosmopolita, que considera o homem, suas fraquezas, ambições e circunstâncias.

Autor de muitos livros capazes de desvendar a história da Paraíba, sobretudo a partir de 1930 em A Revolução Estatizada, editado pela Universidade Estadual da Paraíba, que já vai em sua 8ª edição, onde esmiúça o episódio mais rico e controverso da história paraibana, é leitura obrigatória para todos os que desejam compreender os fatos que antecederam e se sucederam à morte do presidente João Pessoa.

José Octávio é, antes de tudo, um professor. Um grande mestre que se compraz em compartilhar suas descobertas e que procura transmitir a seus alunos e aos seus conterrâneos toda a cultura que tem acumulado ao longo de toda uma vida dedicada a estudar e a revelar s trajetos que percorremos, convivendo entre liberais e perrepistas, que ainda hoje, mais de 90 anos depois, ainda discutem versões sobre os mesmos fatos.

Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Paraíba, e em História, pela UFPB, obteve o título de doutor em São Paulo , lecionando, desde então, na graduação e pós-graduação de História da Universidade Federal da Paraíba, na Universidade Autônoma de João Pessoa e na Fundação Francisco Mascarenhas. Também exerceu, com absoluta probidade, diversos cargos relevantes na gestão pública, todos ligados à atividade cultural.

Um dos membros mais respeitados da Academia Paraibana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano; cidadão íntegro, responsável e preocupado com o bem comum, o professor José Otávio de Arruda Melo é um dos orgulhos da Paraíba. Um patrimônio intelectual, indispensável e imaterial; uma bússola que nos ensina e nos orienta e que, aos 84 anos, de muitas histórias bem contadas, está a merecer uma grande homenagem dos seus conterrâneos contando a sua própria história.