Opinião

O BURACO DA FECHADURA - Por Marcos Thomaz 

Nunca acompanhei futebol de maneira tão apática, desinteressada…

Alguns mais próximos podem apontar o calvário, a fase tenebrosa que vive o meu Vitória como razão para o meu distanciamento desse “esporte de gente correndo atrás de bola”!

Mas vejam bem, apesar da minha paixão única pelo ECV enquanto torcedor, amo o futebol por inteiro, em todas as suas nuances. Além disso, a maturidade me fez ter ainda mais serenidade nas simpatias e antipatias do mundo da bola. Assim, consigo exercitar isenção de análise (eu disse exercitar) e mesmo, surpreendentemente, me divertir com um bom jogo de bola até de um tal time de 3 cores, o arquirrival a quem hereticamente deram o nome do meu Estado Natal.

Pois sigamos com as especulações quanto às motivações do meu desgosto “futebolesco”, digamos assim…

Talvez o culpado seja o novo e soberano olho mágico do VAR e seu uso sem critério, excessivo, muitas vezes tendencioso, amador, de fato?!?! É um “para-para” constante, uma intervenção externa desmedida e muitas vezes suspeita…

Quem sabe a “nova estética” da bola seja o estopim? Esse padrão moderno de jogadores mais preocupados em multicores (que saudades da chuteira toda preta e pronto), ostentação, redes sociais, boleiros youtubers… muita pompa e pouca bola?!?!

Até os estádios agora são arenas ultra modernas, confortáveis, elitistas e… frias, gélidas, distantes, quase inacessíveis ao cidadão comum, impossibilitado de pagar a fortuna que custam os ingressos nas principais praças do Brasil. Assim, acabaram com a festa nas arquibancadas, mesmo quando elas ainda eram ocupadas…

A total ausência de torcida nos estádios, aliás é outra causa grave da minha desilusão. Claro, que em nenhum momento estaria eu questionando a necessidade disso em tempos atuais. Não sou negacionista, terraplanista, menos ainda bolsonarista (sai pra lá, coisa ruim). Estou tratando apenas de percepção, sensações com o novo futebol! E bola rolando com “bancadas” vazias é pura depressão, parece campeonato de futebol de vídeo game, com aqueles cantos artificiais em reprodução automática.

O que dizer então dos clubes?? Os mesmos querem desconstruir elementos básicos de identificação histórica! E olha que quem está falando aqui passa longe de ser um tradicionalista. Mas, convenhamos, vamos ter estilo no despudoramento, na avacalhação, né?? É time “cor de abóbora” com terceiro uniforme lilás-pink-geométrico com balões de ar pra cá. Clube alvinegro com “camisa extra” marca-texto pra lá… Eu até entendo as ocasiões especiais, oportunidades de mercado geradas pelo “padrão” alternativo etc e tal (tenho algumas, inclusive). Mas hoje, vários clubes, o Barcelona, por exemplo, parecem jogar mais com o uniforme comemorativo que o clássico. Ora, um dos elementos mais sagrados para um torcedor são os símbolos, traços, cores do seu time. Descaracterizar assim é praticamente blasfemar contra o sacro.

Há ainda a memória afetiva do futebol quando o conheci. Afinal, todo torcedor tem a sua época mágica, aquela em que foi fisgado pelo mundo da bola. Via de regra na adolescência. Eu fui precoce, desde os seis anos consumo futebol intensamente. Assim peguei parte dos anos 80 e anos 90, talvez os últimos estertores de um futebol competitivo, ainda em alto nível no Brasil. Vi Romário, Ronaldo, Rivaldo, Cerezo, Edmundo, Careca, Júnior, Bebeto, Mauro Galvão, Evair, Alex Alves, Petkovic, Roberto Cavalo, Arturzinho, Zé Roberto, Dida, Pichetti, Adoílson, Alan Dellon… ah, desculpa me empolguei com craques do Vitória.

Sei lá, tudo isso pode ser fruto apenas da minha nostalgia de um futebol que romantizei e guardei cristalizado. Puro saudosismo, sentimento tão comum a quem beira os 40 e que não se deixa ver “que o novo sempre vem”… seja ele qual for!

 

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba