opinião

'O bode expiatório' - Por Rui Leitão

Essa expressão remonta aos tempos antigos.

Vivemos uma cultura do “bode expiatório”. Mas isso não é de hoje, a história da humanidade está cheia de exemplos de personalidades que foram vítimas de linchamento moral e execradas pela opinião pública porque a elas foram direcionadas todas as culpas e erros de outros.

Temos, irracionalmente, e até inconscientemente, a necessidade de buscarmos um “bode expiatório” em tudo o que enxergamos falhas. Acabamos atribuindo a alguém a acusação de algo que não fez ou não teve responsabilidade direta. Repudiamos e insultamos sem a preocupação de procurarmos saber a verdade que está por trás dos fatos.

Essa expressão remonta aos tempos antigos. Em Israel havia uma cerimônia religiosa conhecida como o “dia da expiação”. Na oportunidade levavam à presença do sacerdote dois bodes, onde um deles era sacrificado, e o outro (o bode expiatório) era tocado na cabeça e a ele, acreditavam, eram transferidos todos os pecados dos israelitas. Esse bode era depois enviado para o deserto onde, na concepção deles, todos os pecados seriam aniquilados.

Nós continuamos a nos comportar assim. Estamos sempre transferindo nossas culpas exclusivamente para outros, ou outro, nos livrando da consciência pesada de alguns males que possamos ter provocado ou contribuído para que acontecessem.

Na política isso é muito comum. Influenciados pela mídia com sua força de persuasão e convencimento, e pela emoção de movimentos coletivos, muitas vezes adredemente orquestrados para o apontamento de um “bode expiatório”, nos vemos a imputar toda a responsabilidade a uma só pessoa por problemas que decorrem de um conjunto de fatores que fogem à sua competência e controle.

Mas assim caminha a humanidade. Os “bodes expiatórios” continuarão sendo instrumentos para promoção de interesses escusos e, muitas vezes, interessantes politicamente a quem faz uso do poder econômico para garantir seus privilégios.

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão