O vice-governador Lucas Ribeiro, do Progressistas, cada vez mais estreita relações
de aproximação com aliados fiéis que seguem a liderança do governador João Azevêdo
(PSB) como estratégia para consolidar a sua posição de candidato à sucessão do chefe
do Executivo. Ele faz um nítido contraponto à tática adotada pelo prefeito de João
Pessoa, Cícero Lucena, do mesmo partido, e que tem investido na aproximação com
líderes oposicionistas, adversários do governador João Azevêdo, para se viabilizar
como alternativa no processo enquanto apela para pesquisas de intenção de voto
onde é melhor pontuado do que o vice-governador. O impasse nas hostes governistas
agravou-se no fim de semana com o diálogo entre Cícero e o senador Veneziano Vital
do Rêgo (MDB) e o aceno do prefeito sobre desfiliar-se do PP para abraçar um projeto
próprio de candidato ao Executivo. A diferença de estratégias é palmar: a pré-
candidatura de Lucas nasce de dentro para fora, enquanto a de Cícero é forjada de
fora para dentro.
Houve reação imediata do vice-governador Lucas Ribeiro aos passos do
concorrente, observando que, de sua parte, mantém interlocução preferencial com
partidos e líderes políticos aliados, ou seja, que são considerados integrantes da base
do governador João Azevêdo. Lucas não foi peremptório a ponto de fechar as portas
para entendimento com eventuais dissidentes da oposição, mas fez questão de
demarcar o limite do seu campo de atuação em comparação com o território onde
atua o alcaide pessoense que demonstra desenvoltura na articulação com o grupo
Cunha Lima (PSD), influente em Campina Grande, e não tem tido dificuldades para
conversar com o senador Efraim Filho, do União Brasil, mesmo com este se
apresentando como pré-candidato ao governo com o apoio declarado do
bolsonarismo, segundo manifestado em fala da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro,
reforçada na Paraíba pelo ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, presidente do PL.
Ao ser novamente confrontado, ontem, pela imprensa, para comentar a livre
postura de Cícero na atual conjuntura política do Estado o governador João Azevêdo
limitou-se a opinar que defende a discussão da questão sucessória por expoentes do
seu esquema dentro desse próprio esquema, ou seja, sinalizando concordância com o
debate interno aprofundado mediante critérios a serem definidos em data não
estabelecida. Anteriormente, João Azevêdo já havia deixado claro que qualquer
integrante do seu bloco é livre para tomar o rumo que lhe convém e, por via de
consequência, arrostar um possível desgaste do que for decidido perante a própria
opinião pública. O vice-governador Lucas Ribeiro, enquanto isso, reiterou que está
pronto para assumir a candidatura se esta for a decisão do agrupamento a que
pertence e. mais ainda, preparado para defender a continuidade do projeto de poder
empalmado por João, com cujas linhas gerais se identifica até por vir compartilhando a
gestão desse projeto na quadra vigente.
Como era previsível, os movimentos desconexos na base oficial liderada pelo
governador constituíram “prato cheio” para o discurso oposicionista sobre a
fragmentação do esquema adversário e suposta vulnerabilidade para a disputa
majoritária de 2026. O senador Veneziano Vital do Rêgo considerou que o prefeito
Cícero Lucena deu um passo concreto para conversação com o bloco oposicionista na
medida que admitiu estar se sentindo excluído do projeto de poder pilotado pelo
governador João Azevêdo. Pré-candidato a governador, o senador Efraim Filho avalia
que o ambiente vai se tornando irrespirável dentro do esquema oficial e propício a
dissidências que tendem a fortalecer o bloco de oposição, empenhado em demonstrar
musculatura no futuro pleito, estimulado pela performance do ex-candidato a
governador Pedro Cunha Lima, que em 2022 avançou para o segundo turno contra o
atual chefe do Executivo. Marcelo Queiroga também diz não ter dúvida sobre a
fragmentação do grupo governista.
O vice-governador Lucas Ribeiro tem se envolvido em articulações com
deputados federais e estaduais da base liderada por João Azevêdo, composta
prioritariamente pelo PSB do governador, pelo Progressistas e pelo Republicanos, este
presidido pelo deputado federal Hugo Motta, presidente da Câmara. No Republicanos,
o deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, também reclama
prioridade de indicação à candidatura a governador, mas já admitiu, também, que está
aberto ao diálogo com o prefeito Cícero Lucena. A verdade é que setembro
desabrochou com nova rodada de pressões para aceleração de definições do jogo
sucessório estadual. O fato novo, em termos concretos, foi a admissão por parte de
Cícero de sua filiação a outro partido, diante da falta de espaços dentro do PP. A
expectativa é saber quem vai detonar o rompimento. A oposição já considera que
Cícero está fora do metro quadrado da base política governista para a eleição de 2026.
Seguramente, ele está com um pé fora do PP.