O deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos), presidente da Câmara Federal, decidiu confrontar os “radicais” bolsonaristas que tentam transformar o Congresso, especialmente aquela Casa, num cenário de guerra em represália a medidas cautelares que foram impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal, à frente o ministro Alexandre de Moraes. A determinação de Motta quanto à vigência do recesso parlamentar foi desrespeitada por deputados de direita que voltaram a Brasília e promoveram espetáculos em comissões internas, com a presença do próprio ex-presidente, que insistiu na narrativa de perseguido político. Hugo foi praticamente ameaçado em sua autoridade no comando da instituição, para o qual se elegeu por ampla maioria no começo do ano.
Pelas declarações de parlamentares bolsonaristas, entre os quais o deputado paraibano Cabo Gilberto Silva (PL), o presidente da Câmara voltou à berlinda no papel de suposto “traidor” por não ter pautado o projeto de anistia que beneficiaria Jair Bolsonaro – compromisso que teria sido assumido na época em que Hugo Motta pedia votos nas bancadas para se eleger sucessor do então presidente Arthur Lira (PP-AL). Na prática, esse tema da anistia já rendeu muita controvérsia, diante de “enxertos” elaborados pela bancada bolsonarista para beneficiar, por tabela, o ex-presidente, não apenas os manifestantes arrolados em inquérito no Supremo Tribunal Federal pela participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 contra as sedes dos Poderes em Brasília. Motta percebeu a tempo a manobra de enxerto dos “jabutis” e congelou o tema, até que, nas suas palavras, fosse elaborado um texto “enxuto” e realmente “justo” em meio ao ambiente de radicalização política-ideológica que domina o país.
O combustível que passou a alimentar a ofensiva dos bolsonaristas foi a atitude do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, agitando ameaças de tarifaço contra produtos brasileiros que são vendidos para aquele país. Numa reunião convocada às pressas nos últimos dias na Comissão de Segurança Pública, os parlamentares de oposição penduraram uma bandeira de Donald Trump. Num esboço de reação à altura e de preservação da sua autoridade, o presidente da Câmara dos Deputados, mediante ato normativo, proibiu sessões das Comissões até o dia primeiro de agosto, quando termina o recesso. Cada vez mais enfurecidos, os deputados bolsonaristas agora dizem que vão recorrer ao presidente dos EUA e pedir que o Departamento de Estado cancele o visto de Hugo Motta, do mesmo jeito que ocorreu com os ministros do Supremo Tribunal Federal. Um bolsonarista que falou em “off” ao “Metrópoles” chegou a ironizar: “O Hugo não foi subserviente aos acordos com o PL. Agora, quem sabe, será ao Trump. Até porque ele não teve o visto suspenso ainda”.
As informações de bastidores de Brasília dão conta de que não há preocupação em estabelecer uma trégua com o presidente Hugo Motta e que a pressão será redobrada quando for restaurado o funcionamento do Parlamento. O deputado federal Lindbergh Farias, líder do PT e representante do Rio de Janeiro, revelou que o PL queria transformar a Câmara num palco de provocação e confronto direto com a decisão do ministro Alexandre de Moraes. “Era uma encenação planejada para gerar o momento da prisão e depois gritar “ditadura”. Querem transformar a ordem democrática em espetáculo farsesco. Não passarão. Não é show, é o Parlamento., A decisão da presidência da Casa deve ser respeitada. A extrema-direita não fará da Câmara um comitê de desordem”, escreveu Lindbergh Farias em publicação na rede X.
Em outra frente, há movimentos dentro da Câmara sugerindo que seja acionado o Conselho de Ética daquele Poder para apurar episódios de baderna que estão se verificando em pleno recesso e, ao mesmo tempo, sugerir medidas punitivas que podem ser adotadas. “A extrema-direita não respeita as regras democráticas, a estratégia é de golpe continuado”, escreveu o deputado Rogério Correia (PT-MG, vice-líder do partido. O presidente da Câmara está monitorando o andamento dos conflitos em torno do Parlamento em Brasília e, ao mesmo tempo, acionando emissários de confiança e expoentes da própria Mesa Diretora para que mantenham a ordem e evitem que haja um descontrole generalizado provocado pelo acirramento das paixões e pela sensação de derrota que alguns bolsonaristas já estão expondo quanto ao futuro do ex-presidente e do seu líder maior. Motta não admite ser contestado no seu poder, como já deixou claro em outros incidentes ocorridos no ambiente da Câmara.