"A crise que acometeu o impresso"

Minha história com o “Correio da Paraíba”, que se despede da cena - Por Nonato Guedes

Nos meios jornalísticos, culturais e na sociedade paraibana como um todo, ainda restava um débil fio de esperança de que o jornal “Correio da Paraíba” sobrevivesse à crise que acometeu o impresso com a supremacia gradativa da comunicação online, trazendo notícias em tempo real. Bem que o empresário Roberto Cavalcanti lutou, com tenacidade, para que o “Correio” fosse a exceção no processo que já exterminara “O Norte” e o “Jornal da Paraíba”. Fez ajustes, cortou na carne, buscou apoio, abalou-se em viagens aos Estados Unidos para se convencer da viabilidade de manutenção do jornalismo impresso. Sucumbiu, junto com uma belíssima história de 66 anos do primeiro jornal que eu li e o primeiro em que trabalhei. O “Correio da Paraíba” em sua versão impressa está se despedindo neste sábado, conforme antecipado em redes sociais por profissionais da empresa como Anchieta Maia e Fábio Cardoso. Fecha-se um ciclo, inexoravelmente.

Na década de 80, quando residia e estudava em Cajazeiras, no Sertão paraibano, fui atraído para o trabalho em emissora de rádio, inicialmente como “office boy”, depois como redator, finalmente como locutor-noticiarista e locutor-entrevistador. Atuava na rádio Alto Piranhas, vindo da Difusora Rádio Cajazeiras, quando Saulo Mendes Sobreira mediou junto ao seu parente ilustre, o governador Ivan Bichara Sobreira, que intercedesse junto à direção do “Correio” para instalar uma sucursal na terra do gestor de plantão. A empreitada foi coroada de êxito e uma comitiva da cúpula do “Correio” aportou na terra do Padre Rolim. Saulo recrutou-me para ser redator da sucursal.

Eu já lia o “Correio da Paraíba” na casa dos meus pais, no bairro de Capoeiras. Pelo menos duas vezes por semana, meu pai, Joaquim Nonato de Aquino, comerciante, comprava exemplar do jornal e com ele fui me familiarizando, em paralelo com a leitura do jornal “Tribuna do Ceará”, de Fortaleza, do qual também fui correspondente em Cajazeiras. O “Correio” tinha a direção de Aluízio Moura e João Manoel de Carvalho e a imagem onipresente de Teotônio Neto, o fundador, que ainda hoje reside no Rio de Janeiro. A minha convocação para trabalhar na sucursal de Cajazeiras foi meu grande batismo no impresso e confesso que me esmerei para produzir os melhores textos que minha formação intelectual permitia. Afastei-me da sucursal já pelos idos de 78, por divergência com Saulo. Fui, então, procurado em Cajazeiras por Aluízio Moura, que me fazia uma proposta irrecusável: esquecer as brigas e vir para João Pessoa trabalhar na rádio e no jornal “Correio da Paraíba”. Aceitei o desafio, ainda que relutante sobre suas vantagens.

Já em João Pessoa me senti em casa, pela acolhida generosa que tive da parte de profissionais como João Manoel de Carvalho, Júlio Santana, Walter Galvão, Carlos Aranha, Otinaldo Lourenço e Severino Ramos. Surpreendeu-me o convite feito por João Manuel de Carvalho, em pleno segundo semestre de 78, para que eu assumisse a sua prestigiosa coluna, com a identificação como “Redator-Substituto”. Quando ele retomou a titularidade, eu fiquei credenciado a ter uma coluna própria, o que logo se firmou, tanto dentro do próprio “Correio” como em “O Norte” e no semanário “O Momento”, de Jório de Lira Machado. No “Correio” fui repórter, redator, editor político, colunista político, editor geral.

Vivenciei diferentes fases experimentadas pelo jornal, até chegar em Roberto Cavalcanti, Paulo Brandão, José Fernandes, Alexandre Jubert, Beatriz Ribeiro, impulsionadores da fase áurea do “Correio da Paraíba”, em que ele praticamente assumiu a liderança no contexto da história da imprensa da Paraíba. Foi uma espécie de coroamento para um veículo que nunca traiu o seu compromisso de paraibanidade. Enfrentou adversidades por parte de governos e governantes hostis à liberdade de expressão e resistiu bravamente a confrontos eventuais com o poder. Inovou em tudo o que se possa imaginar, da melhor tradição jornalística brasileira, inclusive adotando a figura do “ombudsman”, importado da “Folha de São Paulo”, que, por sua vez, já a trouxera de outros países em que a sociedade criticava na plenitude os governos e os meios de comunicação.

Foram muitas as histórias proporcionadas pelo “Correio da Paraíba” em suas facetas distintas, diversificadas. A minha história particular com o “Correio” mistura emoções como carinho, amor, profissionalismo e admiração intraduzível pelo mais paraibano de todos os jornais que pontificaram em nosso Estado, uma das indiscutíveis escolas de jornalismo da melhor qualidade. A Paraíba fica menor em estatura sem o “Correio”.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Nonato Guedes