Opinião

MEMÓRIAS PESSOENSES: O Luzeirinho, uma história de sucesso na boêmia pessoense - Por Sérgio Botelho

Normalmente avaliado como um bar sem requintes, o Luzeirinho, na Vasco da Gama (e, no epílogo, na Floriano Peixoto), marcou a boêmia de João Pessoa até final da década de 1970. Já nos anos 1950 fazia sucesso, o que pode ser provado por registros sobre a presença em suas mesas do internacional Bienvenido Granda.

Foto: Redes Socias

Normalmente avaliado como um bar sem requintes, o Luzeirinho, na Vasco da Gama (e, no epílogo, na Floriano Peixoto), marcou a boêmia de João Pessoa até final da década de 1970. Já nos anos 1950 fazia sucesso, o que pode ser provado por registros sobre a presença em suas mesas do internacional Bienvenido Granda.

Trazido pela Rádio Tabajara, e entregue nas mãos do inesquecível apresentador e boêmio de histórias mil, Pascoal Carrilho, o cantor cubano foi parar no Luzeirinho. E deu canjas inesquecíveis aos que estavam por lá. Salientando que Granda esteve na Paraíba em agosto de 1957. Por essa e por outras, o Luzeirinho acabou impactando a vida do próprio bairro de Jaguaribe.

O nome de seu dono, espelhando a descontração do inesquecível recinto, era Toinho, simples assim. (Seu filho, Marcos Antônio, em homenagem ao pai, mantém interessante grupo no Facebook intitulado Amigos do Bar O Luzeirinho). O prato principal da casa, que tornou ainda mais sedutor aquele formidável canto de beber, era tão singelo quanto supergostoso: o picado de porco. Negócio do outro mundo! A cerveja? Gelada que só tinha por lá! O Luzeirinho acolhia boêmios de todas as latitudes intelectuais e preferências ideológicas, políticos de partidos variados e, naturalmente, seresteiros.

A Vasco da Gama tinha serventia urbana, na época, bem diferente de hoje e, por isso, havia mesas pela calçada. Naquele tempo João Pessoa andava mais lenta, com menos automóveis nas ruas, e o tráfego da cidade ainda não havia transformado Jaguaribe na parafernália de hoje em dia. Bom mesmo era ter sorte para conseguir uma mesa aos sábados, ou na sexta-feira à noite, por exemplo, dia internacional da boêmia, quando o Luzeirinho se transformava numa festa para os olhos, para a mente e para o paladar.

Contudo, já na quarta-feira, dia pactuado pela boêmia para “iniciar os trabalhos da semana” – depois de uma segunda-feira de pausa forçada pelo cansaço, e uma terça-feira de angústia -, o problema da lotação já se apresentava. O que no bar faltava de sofisticação, sobrava de aconchego, assumindo a condição de preferido pela boêmia para uma happy hour.

O ambiente, a cerveja gelada, o tira-gosto de primeira, a intimidade com o garçom, com o proprietário, acabava encantando e demolindo diferenças. Não foram poucos, no Luzeirinho, os negócios iniciados, as produções artísticas rascunhadas, os acordos políticos alinhavados, os movimentos sociais encaminhados, ao lado de entrosamentos pessoais conjuminados pela força da cerveja gelada.

Um dia, fruto do avanço urbano desenfreado de João Pessoa, deixou de existir, largando ao desabrigo seus entusiasmados frequentadores.

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba