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MEMÓRIA CURTA: os dois maiores prefeitos do seculo XX de CG foram esquecidos; e agora será assim com Romero Rodrigues? - Por Júnior Gurgel

​Seu Cabral (Severino Bezerra Cabral) uma das maiores lideranças política de Campina Grande do século XX – que se elegeu, e elegeu o Prefeito de sua preferência na Rainha da Borborema de 1947 até 1968 – tomou a decisão de se imortalizar através da construção do Teatro Municipal de Campina Grande. Uma obra gigante, para uma cidade que tinha um perfil de entreposto comercial e pouca vocação para cultura. Seu projeto arquitetônico, avançado e único, sem as “curvas” do concreto – inovação proposta pelo gênio Oscar Niemeyer

– tinha um modelo de navio. Quando perguntavam a seu Cabral se era um navio, ele respondia que achava parecido.
​A inauguração seria no final de seu mandato (1963), e a curiosidade reinante era o nome que receberia o Teatro. Na época, a Câmara Municipal tinha grandes intelectuais como Raimundo Asfora, Ronaldo Cunha Lima; Figueiredo Agra… Que começaram a sugerir nomes como Augusto dos Anjos, José Américo de Almeida; José Lins do Rego; Assis Chateaubriand… Mas, seu Cabral resistia, e insistia que o nome seria surpresa.

​Analfabeto funcional, seu Cabral depositava toda sua confiança em Souza da Pipoca, vereador que atuava como um líder informal na Câmara e nos bastidores da política. Mesmo grau de instrução de seu Cabral. Quem tivesse algo complicado para resolver com seu Cabral e Souza não resolvesse, podia desistir. Asfora, Ronaldo; Figueiredo Agra… E quase a unanimidade da Câmara cobraram de Souza um nome ideal para ser eternizado na obra mais bela de Campina Grande dos anos sessenta. Imbuído da importante missão, Souza enfrentou seu chefe: “o nome tem que sair seu Cabral…” Sem rodeios, seu Cabral foi na bucha: Teatro Severino Cabral. Souza o aplaudiu e concordou com a ideia. Entretanto, quando chegou com a noticia na Câmara, a reação por parte dos parlamentares intelectuais foi um protesto veemente, ameaçado de não ser aprovado. Cabral era um analfabeto… Uma agressão a memoria e cultura da cidade… Isto jamais.

​Souza foi o portador do descontentamento da bancada. E, instruíram-no para argumentar: “seu Cabral não era escritor, artista, poeta…” Seu Cabral ouviu e mandou um recado de volta: vai ser Severino Cabral e vou está presente na sessão. Todos temiam Cabral por sua coragem pessoal. Alto, 1,90, as vezes intolerante, sua mão sempre ia ao pé do ouvido de alguém, que de forma desaforada o ofendesse.

Chegou o dia da sessão, e Cabral estava presente. A turma dos intelectuais usou mais uma vez Souza. Quando a propositura foi apresentada e posta em votação, Souza argumentou: “seu Cabral tem que ser um nome ligado as letras, artes; poesia… Cabral o interrompeu: “Souza pergunte a quem mandou você discordar de mim, em qual time jogou Getúlio Vargas e Plinio Lemos? Os dois campos de futebol da cidade são em nome deles”. Silêncio reinante, a propositura foi aprovada por unanimidade.
​Seu Cabral se imortalizou. Mas, por ironia do destino, os dois maiores Prefeitos do século XX de Campina Grande foram Vergniaud Borborema Wanderley (pronuncia-se Verniô) e Enivaldo Ribeiro. O primeiro demoliu o centro antigo da cidade e construiu ruas e avenidas largas. O segundo, fez o Plano Diretor que até hoje está aí, e foi um recorde em obras. Todavia, não deixaram nada escrito sobre suas obras. Agora está se despedindo de sua gestão Romero Rodrigues. Em nossa opinião o maior Prefeito de Campina Grande do século XXI. Cometendo o mesmo erro de Vergniaud e Enivaldo. Em duas décadas, poucos se lembrarão de sua gestão.

 

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Júnior Gurgel