Apesar de estar preso e inelegível, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda é o principal nome da esquerda para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que pretende concorrer à reeleição em 2022. A pesquisa exclusiva Veja/FSB sobre as eleições presidenciais de 2022 mostra que Lula perde por 46% a 38% num virtual segundo turno para Bolsonaro, mas tem um desempenho melhor do que políticos de fora da cadeia. Fernando Haddad, batido por Bolsonaro no último pleito, perderia novamente do atual presidente em 2022 por 47% a 34%. Ciro Gomes, do PDT, repete o fiasco de 2018 na pesquisa Veja/FSB: não chegaria sequer ao segundo turno.

O cientista político Carlos Pereira, professor da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, acredita que Lula mantém popularidade porque fez um primeiro governo muito virtuoso. Nessa fase, ele manteve políticas do antecessor Fernando Henrique Cardoso e foi capaz de oferecer duas coisas que o brasileiro médio deseja: estabilidade macroeconômica e inclusão social. “A resiliência de Lula vem dessa imagem que o eleitor tem dele”, diz Carlos Pereira. Outros analistas políticos entendem que Lula soube capitalizar o papel de “vítima” da Operação Lava-Jato e que esse perfil teria se fortalecido, ultimamente, com suspeitas levantadas sobre a imparcialidade do juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça de Bolsonaro, quando executor da Lava-Jato.

O retorno de Lula ao cenário de embates políticos ainda depende de um enorme caminho que precisa trilhar na Justiça para limpar sua ficha. Lula foi encarcerado há mais de um ano, em Curitiba, para cumprir uma pena de oito anos e dez meses de prisão. Além disso, é réu em mais nove processos e investigado em outros inquéritos sob suspeita de ser corrupto ou de ter praticado crimes como lavagem d dinheiro, tráfico de influência e formação de organização criminosa. A expectativa que anima Lula e os petistas é a de uma virada de posições no Supremo Tribunal Federal. No último dia 17, a Corte voltou a se debruçar sobre a questão da prisão após condenação em segunda instância no país. Permitida desde 2016, em meio ao clamor da sociedade pelo endurecimento contra os crimes de colarinho-branco, a medida deve cair, já que o entendimento de alguns ministros sobre o tema modificou-se. O recuo tiraria Lula de trás das grades, já que seu processo ainda não transitou em julgado, mas não seria suficiente para sua pretensão política porque ele ainda ficaria inelegível nos termos da Lei da Ficha Limpa. Pelo mesmo motivo, Lula recusa-se a aceitar a progressão ao regime semiaberto a que tem direito desde setembro por ter cumprido um sexto da pena e ter tido bom comportamento.

O ex-presidente demonstra que não tem pressa em sair da cela a que está recolhido, mas intimamente exibe confiança ilimitada em que acabará sendo favorecido. Do ponto de vista do enfrentamento eleitoral, caso chegue a ser liberado para disputar, Lula terá de bater de frente com Bolsonaro, que se lançou prematuramente à reeleição e continua sendo um adversário duro de superar. Ele aparece numericamente à frente em quase todos os cenários, no levantamento Veja/FSB. Igualmente, consegue manter estáveis os índices de avaliação de seu governo. Interlocutores do presidente chegam a opinar que seria até uma boa notícia a eventual volta de Lula ao palco eleitoral, pois permitiria a Bolsonaro repetir o discurso vitorioso que o levou ao poder: evocar o fantasma da vitória do Partido dos Trabalhadores.