Opinião

João Azevêdo não dá sinais de reatamento político com Cícero - Por Nonato Guedes

Foto: Reprodução/ Internet
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Paraíba - O tom das últimas declarações públicas do governador João Azevêdo (PSB) não
sinaliza a perspectiva de um reatamento político com o prefeito de João Pessoa, Cícero
Lucena (sem partido) – pelo contrário, indica que o rompimento entre os dois antigos
aliados está cristalizado de forma irreversível por divergências quanto ao projeto de
poder para 2026. Cícero precipitou o distanciamento quando, no episódio de sua saída
do PP, reafirmou a intenção de candidatar-se ao governo do Estado e criticou o que
chama de “imposição” do nome do vice-governador Lucas Ribeiro pelo PP e pelo
esquema do governador João Azevêdo para a sucessão deste. Azevêdo avalia que
Lucena enveredou por ambições pessoais, deixando de ter compromisso com um
projeto do grupo a que pertencia e, ainda neste final de semana, definiu como “página
virada” a questão do alinhamento entre ele e o prefeito.


Cícero continua cumprindo roteiro no exterior, mais precisamente a
Caminhada a Santiago de Compostela, mas tem se mantido inteirado dos
acontecimentos que se desenrolam no cenário político local, por informações
repassadas por emissários de sua confiança, aos quais reitera o propósito de ser
candidato ao Executivo por legenda a ser anunciada ou definida no seu retorno. O vice-
prefeito de João Pessoa, Leo Bezerra, do PSB, que está na titularidade do mandato,
vive situação de impasse e, ao participar da posse da nova presidente do diretório
estadual do PT, deputada Cida Ramos, fez elogios a João Azevêdo, demonstrando
intenção de engajamento na sua campanha para senador, mas passou longe de
qualquer declaração de apoio à pré-candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro.

Nas
hostes da oposição paraibana o clima é de compasso de espera, no aguardo dos
desdobramentos de uma separação que cada vez mais se aprofunda.
Há, sim, emissários políticos ligados a João e a Cícero que tentam mediar o
conflito entre eles e costurar uma reaproximação – mas a verdade é que esses
interlocutores não estão encontrando espaços para a difícil missão diante de
intransigências que vão ganhando corpo, quer entre correligionários do chefe do
Executivo estadual, quer entre liderados do alcaide pessoense. João Azevêdo tem
insistido em que Lucena já tomou seu caminho, fez sua própria escolha – que é no
sentido de se posicionar no campo da oposição e que, sendo assim, não há o que fazer.
O esquema de João se diz escaldado de outros episódios de rompimento, que foram
ensaiados em clima de banho-Maria mas que se materializaram com a força de um
tsunami. Tal se deu, por exemplo, na aposta de cooptação do ex-prefeito de Campina
Grande, Romero Rodrigues, para as hostes oficiais. E houve os gestos definitivos de
ruptura do senador Veneziano Vital do Rêgo e do senador Efraim Filho.
A orientação repassada pelo governador é para que haja um mapeamento
seguro sobre os que, de fato, mantêm lealdade ao esquema que ele comanda, os que
estão em cima do muro ou adotam posição ambígua, esperando a sinalização dosventos, e aqueles que já estão alinhados “até o pescoço” com o projeto de poder das
oposições, ávidas por destronar o projeto que o líder socialista vem pilotando desde o
pleito de 2018, na sucessão de Ricardo Coutinho, quando contou com o decidido apoio
deste, numa época em que não havia “Operação Calvário” nem concorrência pelo
controle efetivo do poder estadual. Na solenidade do Partido dos Trabalhadores que
converteu Cida Ramos na primeira mulher a presidir a legenda no Estado, o
governador reafirmou sua pré-candidatura ao Senado e enfatizou que atende a uma
convocação do presidente Lula para reforçar o bloco que está sendo formado para dar
combate, no Congresso, às forças da extrema-direita e do bolsonarismo. João acenou,
de forma enfática, com garantia de palanque para a campanha de Lula á reeleição em
2026.


A “operação rompimento” entre Azevêdo e Cícero é estimulada, visivelmente,
pelo grupo Ribeiro, integrado pelo vice-governador Lucas, pelo deputado federal
Aguinaldo e pela senadora Daniella, que vivem a expectativa de uma definição sobre o
controle da federação entre PP e União Brasil como instrumento para turbinar a pré-
candidatura de Lucas em paralelo com a ofensiva da estrutura carreada pelo
governador João Azevêdo. Nos bastidores, em ambos os lados, o clima é de guerra
aberta entre antigos aliados, e o grupo Ribeiro não perdoa Cícero por suposta
ingratidão, já que lhe proporcionou condições concretas e legenda para sua
reabilitação no cenário político voltando à prefeitura da Capital em mais duas
oportunidades – 2020 e 2024. A volta de Cícero da romaria a Santiago de Compostela é
aguardada ansiosamente para sacramentar o divórcio. Nesse caso, como em outros
semelhantes, o que está havendo é “fadiga de material”, na opinião de especialistas, o
que agrava o desgaste nas relações entre o governador do Estado e o gestor da
Capital. A opinião pública reza para que João Pessoa não seja penalizada, com o fim de
uma das mais bem-sucedidas parcerias entre prefeito e governador na história
recente.