Política

Hugo Motta queixou-se do Planalto por linchamento nas redes - Por Nonato Guedes

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Diferentemente do seu colega Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado, o deputado federal paraibano Hugo Motta (Republicanos), presidente da Câmara, ficou mais exposto ao linchamento nas redes sociais por parte de setores da esquerda na recente crise com o governo do presidente Lula em torno do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

De acordo com reportagem da “Folha de São Paulo”, houve estratégias distintas dos dois dirigentes de Casas Legislativas, com Alcolumbre adotando uma postura mais discreta nos bastidores e passando quase incólume na artilharia despejada pelos descontentes com o desfecho da polêmica. A pressão maior nas redes fez com que Hugo Motta se queixasse ao Palácio do Planalto. Já o presidente Lula, em conversa com aliados na Bahia, expôs ressentimentos com Hugo Motta e Alcolumbre após a derrubada do decreto do IOF.

A parlamentares baianos em Salvador, Lula disse que sempre fez questão de “abraçar esses meninos”, em referência aos presidentes da Câmara e do Senado, decepcionando-se com a postura de enfrentamento que acabou imperando. O mandatário deixou claro que apesar de ter acionado o STF no caso do IOF não tem nenhum interesse em manter relação ruim com a cúpula do Congresso. Possivelmente como reflexo das queixas de Hugo Motta, ele acabou defendido pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, ex-presidente nacional do PT e deputada federal licenciada, bem como pelo líder de Lula na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) contra os “ataques pessoais”. Esses ataques pessoais envolveram, inclusive, familiares de Motta na Paraíba, numa orquestração para incompatibilizar o “clã” e o parlamentar com o eleitorado na sua base.

Aliados de Motta informaram à “Folha de São Paulo” que o presidente da Câmara Federal ficou muito exposto nessa situação, pois, além de ter partido dele a decisão de pautar o projeto para sustar o aumento do IOF, o que pegou o governo e até a oposição de surpresa, o deputado gravou um vídeo específico para as redes sociais para defender sua posição. Dois interlocutores de Motta classificam até mesmo como um erro essa conduta e disseram que ele precisa compartilhar essa responsabilidade também com o Senado Federal. Outros deputados se queixaram que a postura do presidente da Câmara fez com que os ataques fossem direcionados quase que exclusivamente à Casa e poupassem os senadores. Essa percepção dos deputados foi traduzida no volume de comentários nas redes sociais, sugerindo conluio da parte deles com setores do empresariado paulista para favorecer na Câmara os interesses dos ricos contra os mais pobres.

Conforme a consultoria Bites, o presidente Hugo Motta foi mencionado em 1,08 milhão de posts desde 17 de junho, um dia após a Câmara Federal aprovar regime de urgência para o projeto que sustou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras. Já Davi Alcolumbre foi mencionado em 212 mil publicações. As menções ao presidente da Câmara, em apenas 15 dias, representaram quase 30% de tudo o que foi falado sobre ele em todo o ano de 2025. E se intensificaram nesta semana após um ataque coordenado da esquerda para levar à internet o discurso de que Lula estaria atuando em favor dos mais pobres, enquanto o Congresso estaria mancomunado com os ricos, na defesa dos seus interesses. Somente na quarta-feira, 2, Motta foi citado em 169,6 mil postagens no X (antigo Twitter), em contas relevantes de Instagram, páginas abertas de Facebook, Reditt, fóruns, blogs e sites de notícias. Foram outras 205,5 mil menções na quinta, ainda segundo a Bites. Até então, o presidente da Câmara dos Deputados nunca tinha sido objeto de tanta atenção.

O presidente do Senado optou por fechar seu Instagram para comentários após o volume de críticas crescer, enquanto o paraibano Hugo Motta manteve seu perfil aberto e viu o número de comentários superar em três vezes o número de curtidas. Dois aliados de Motta tentaram minimizar os ataques nas redes, pontuando que, historicamente, o presidente da Câmara é mais atacado que o do Senado, e estimam que o deputado nunca esteve tão forte politicamente. Segundo eles, o episódio do IOF deu um novo patamar à presidência de Motta e ajudou a nacionalizar sua imagem. Um líder qualificou como desproporcionais as críticas que o deputado tem recebido nas redes, argumentando que até mesmo integrantes da base de Lula e de partidos de esquerda, como PDT e PSB, votaram a favor de derrubar o decreto mas não estão sendo criticados. Outro aliado de Motta diz enxergar o dedo do governo nas críticas ao Congresso feitas nas redes sociais e avalia que o discurso de “nós contra eles” pode tensionar ainda mais a relação com o Executivo, num momento em que o governo precisa aprovar matérias do seu interesse. Esta semana, Lula vai tentar conversar com Motta e Alcolumbre para ter um “termômetro” da posição deles em relação ao governo daqui para frente.