O deputado federal Hugo Motta, presidente do Republicanos na Paraíba, quebrou o silêncio, ontem, sobre a disputa pelo governo do Estado e, de forma incisiva, afirmou que seu partido não aceita mais papel de “coadjuvante” no cenário e reclama protagonismo na formação da chapa majoritária, proporcional ao seu tamanho e ao crescimento que vem alcançando na realidade local.
A manifestação ocorreu durante o ato de filiação do deputado estadual Felipe Leitão, que reforçou a bancada republicana na Assembleia Legislativa e em entrevistas à imprensa. O presidente da Câmara dos Deputados praticamente confirmou as falas repetidas do deputado Adriano Galdino, dirigente da AL, cobrando valorização do partido no conjunto das forças que apoiam o governador João Azevêdo (PSB), como contrapartida a renúncias feitas no pleito de 2022 e a compromissos de apoio cumpridos em eleições consecutivas, quer no plano estadual, quer na disputa específica à prefeitura de João Pessoa.
Foi a primeira fala de Hugo Motta sobre o debate político-eleitoral paraibano desde que se investiu no comando da Câmara e passou a compor a linha de hierarquia da sucessão presidencial.
A demora em se manifestar deveu-se, naturalmente, à prioridade que ele tem conferido a inúmeras agendas à frente do Poder Legislativo, principalmente no que diz respeito a matérias polêmicas que têm sido agitadas, a mais recente delas a que trata da elevação do IOF que o ministro Fernando Haddad anunciou, a pretexto de incrementar a arrecadação da União.
Nessa cruzada, Motta uniu-se ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-Amapá), ambos fazendo frente à carga de impostos, um tema cuja discussão, segundo dão a entender, deve envolver o próprio presidente da República, pela sua repercussão em toda a sociedade.
Lá atrás, Motta congelou na Casa o projeto de lei prevendo anistia para os condenados do 8 de janeiro e que, de forma colateral, iria beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, declarado inelegível pelo TSE.
Enquanto o dirigente da Câmara esteve ocupado com as graves questões nacionais, correligionários seus na Paraíba precipitaram-se em cobranças públicas por definições e compromissos antecipados entre partidos da base de apoio ao governador João Azevêdo, diante de movimentos ostensivos dentro do PP onde o vice-governador Lucas Ribeiro e o prefeito da Capital, Cícero Lucena, deflagraram ofensiva pré-eleitoral, percorrendo municípios do interior do Estado e colocaram-se claramente como aspirantes ao Executivo.
Hugo ainda tentou recorrer a um tom cauteloso nas declarações, ontem, na Paraíba, por avaliar que o cidadão comum não está preocupado com a sucessão mas, sim, com o atendimento pelo poder público de demandas urgentes do seu interesse, algumas encaminhadas há bastante tempo, tese que é levantada pelo governador João Azevêdo para conter o ímpeto da luta fratricida no seu esquema.
Mas Hugo acabou cedendo às perguntas dos jornalistas e à curiosidade dos aliados por uma palavra que servisse de bússola para os embates futuros.
Taticamente o presidente da Câmara não mencionou nomes nem citou cargos ambicionados pelo Republicanos na composição da chapa majoritária oficial para concorrer ás eleições de 2026 (internamente são cogitados o seu nome, o do deputado Adriano Galdino e o do prefeito de Patos, Nabor Wanderley, pai de Hugo, como alternativas ao quadro majoritário).
Também foi pragmático ao salientar que a discussão em torno da sucessão estadual somente será avançada “no momento certo”. O foco de Hugo Motta, como ele revelou, é presidir a Câmara, sem nunca esquecer que “o sentimento do povo da Paraíba será sempre, para mim, o fundamental na hora em que eu venha a tomar qualquer decisão na minha vida pública”.
Para analistas políticos, ficou implícita a admissão, pelo parlamentar, da hipótese de encarar o desafio de candidatar-se ao governo do Estado, diante da sua história ligada ao eleitorado paraibano e aos interesses da região que representa na Câmara.
Até então, figuras de expressão nacional vinham insistindo no argumento de que “a Paraíba perdeu Hugo para o Brasil”, acenando com opções envolvendo o nome do parlamentar no quadro da própria eleição presidencial. Mas o presidente da Câmara sinalizou que não perdeu a perspectiva do seu elo de ligação com a Paraíba e com o seu povo, e que só definirá seu futuro depois de perscrutar os sinais oriundos da opinião pública sobre seu destino.
Em termos concretos, ficou patenteado que o Republicanos quer ser valorizado na chapa majoritária estadual e que discutirá no momento oportuno o espaço que pleiteia, proporcional ao tamanho que tem conquistado em relação a outros partidos no quadro local.
Para os aliados de João Azevêdo, o tom de Hugo foi de afinidade com o atual governador e provável candidato ao Senado.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba