Opinião

Hugo Motta fecha primeiro semestre com “gestão tumultuada”- Por Nonato Guedes

Hugo Motta
Foto: Reprodução/ Câmara dos Deputados

O Congresso Nacional começou oficialmente o recesso parlamentar, com seus pares descansando até o final do mês. A perspectiva é de que, na volta, terão de encarar o clima com o governo do presidente Lula, que azedou na véspera das férias, com derrotas para ambos os lados. O deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos), que preside a Casa, encerra o primeiro semestre enfrentando críticas até de aliados e com colegas e integrantes do governo Lula (PT) questionando a confiabilidade dos acordos costurados por ele, além de ser alvo de denúncias sobre funcionários fantasmas. No final da sessão de quarta-feira, 16, Motta disse ter a consciência tranquila de que buscou corresponder e atender a todos naquilo que podia, dentro de suas prerrogativas. Revelou, também, que diariamente tenta ser melhor e estar à altura “deste cargo tão honrado que é presidir a Câmara dos Deputados”. Mas é fora de dúvidas que ele conduz uma “gestão tumultuada”. O veto do presidente Lula ao projeto aumentando de 513 para 531 o número de cadeiras para deputados, que passaria a valer a partir das eleições de 2026, causou forte impacto junto a Hugo Motta e aos seus pares, mas o Planalto bancou a aposta com base em pesquisas de opinião pública apontando a impopularidade da proposta, cujo custo anual foi estimado em R$ 64,6 milhões. Hugo Motta ascendeu ao comando da Câmara numa costura que envolveu do PT ao PL, mas sem deixar claro quais seriam as prioridades da sua gestão, conforme lembra a “Folha de São Paulo” em reportagem sobre os atritos acumulados pelo paraibano. com Lula e com bolsonaristas. Após meses de críticas direcionadas à falta de agenda da Câmara, Hugo Motta buscou uma marca própria ao criar um grupo de trabalho para propor uma reforma administrativa. O veto de Lula ao aumento do número de deputados foi encarado como principal derrota do republicano até aqui. O presidente da Câmara havia costurado pessoalmente a proposta para evitar que a Paraíba, sua base eleitoral, perdesse parlamentares, e, como relata a “Folha”, ficou chateado com a atitude de Lula. A Paraíba deverá perder dois deputados numa bancada de doze e até mesmo defensores do projeto de aumento dizem que será tarefa difícil derrubar o veto presidencial. Lula não informou previamente à cúpula do Congresso sobre o veto, o que foi interpretado como uma resposta à derrubada do decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em junho. O governo só soube pelo X (antigo Twitter) que Motta iria pautar o projeto no dia seguinte, o que estremeceu as relações, até então amistosas. A situação escalou para a tramitação de “pautas-bombas” e para a troca de acusações sobre quebra de acordos, e Motta ficou exposto porque até então vinha passando a imagem de um político preocupado com o equilíbrio fiscal, que cobrava medidas de redução de gastos do Executivo.

Alguns aliados de Motta minimizam as queixas, alegando que as votações expressivas mostram que ele tem o apoio do plenário. Acrescentam que o presidente da Câmara não foi derrotado em nenhuma votação e soube contornar as pressões ao tratar do projeto de lei de anistia, bandeira principal dos bolsonaristas para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está atualmente sob o efeito de medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal. Concretamente, o texto da anistia não avançou na Casa, o que tem irritado os bolsonaristas, que cobram do presidente uma solução para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. A “Folha” ressalta que chegou a haver um período de lua de mel entre o presidente Lula e o deputado Hugo Motta, recordando que o petista o convidou para viagens e reuniões na residência oficial e que Motta participou de atos no Planalto. Lula concordou com o apoio do PT à eleição do paraibano, o que viabilizou a construção de ampla aliança em torno do seu nome negociada pelo antecessor Arthur Lira (PP-AL).

Entre os acordos não cumpridos, de acordo com o governo, está o recuo em ceder ao PT a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026, bem como uma mudança de postura com as propostas alternativas ao aumento do IOF. Hugo Motta se defende justificando que nunca se comprometeu com tais medidas. Entre petistas, há ainda temor de outro acerto ser quebrado: o de que o partido indicará um ministro para o Tribunal de Contas da União (TCU). Por outro lado, o governo pode comemorar a volta da possibilidade de editar Medidas Provisórias, que estiveram travadas na gestão de Lira por um conflito com o Senado. Interlocutores de Motta citam o apoio dele a projetos de Lula como o empréstimo consignado para a iniciativa privada, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 e a PEC da Segurança Pública, os dois últimos, por enquanto, apenas nas comissões. A gestão de Hugo Motta tem sido tumultuada mas isto se deve, também, a fatores externos, como a insistente polarização política no país, que acaba se refletindo dentro do Parlamento. Por isso mesmo, o tom no segundo semestre é uma incógnita absoluta para os meios políticos.