Opinião

Futuro do PSB depende de estratégia acertada de João Azevêdo - Por Nonato Guedes

Futuro do PSB depende de estratégia acertada de João Azevêdo - Por Nonato Guedes

Vai se cristalizando entre analistas políticos e até entre expoentes do PSB da Paraíba a impressão de que o futuro da legenda no Estado está umbilicalmente condicionado a uma estratégia acertada que venha a ser posta em prática pelo governador João Azevêdo, efetivado como comandante da legenda. Em primeiro lugar, João deve decidir se será ou não candidato ao Senado, hipótese que publicamente ele já não descarta mas que não assume de forma ostensiva, até por causa de pressões no seu núcleo duro para que permaneça no exercício do mandato até o último dia, abrindo mão de postular outros cargos. No fundo, o PSB vive um dilema: sabe que João é o grande puxador de votos nas eleições de 2026 como candidato a senador mas teme que seu afastamento do poder embaralhe o cenário, dê lugar a aventureirismos políticos e inviabilize as chances de vitória contra uma oposição motivada e sequiosa para a revanche.

O PSB paraibano está se sentindo encurralado dentro da base oficial porque, apesar de ser o partido do chefe do Executivo reeleito em segundo turno nas eleições de 2022, está na iminência de perder o poder devido ao movimento para que renuncie ao projeto de continuidade da sua hegemonia na conjuntura local, facilitando a ascensão de outras forças que compõem o esquema de Azevêdo. O noticiário político tem sido polarizado pela disputa entre o PP e o Republicanos pela cabeça de chapa, inclusive, com a colocação de exigências para acertos entre eles na majoritária, sem que o PSB seja ouvido nem cheirado para nada. Fala-se que o governador é o condutor legítimo do processo sucessório, mas esta é uma fala “da boca para fora” porque, na prática, os republicanos e progressistas lutam para assumir o monopólio de vagas na composição eleitoral. Ao PSB estaria reservada apenas a vaga de João ao Senado, sem maior interferência no rumo das decisões gerais relacionadas a chapas ou nomes.

Quando alguns socialistas cogitam nomes das suas fileiras, ainda que a título de especulação, para candidatura ao governo, são desconsiderados de forma sutil ou direta pelos demais parceiros da aliança, sob o argumento de que o “ciclo” do PSB está se esgotando, por vir a completar mais de uma década à frente do poder estadual, e que a alternância se impõe, com valorização de outras forças que têm contribuído para o êxito do período administrativo empalmado por Azevêdo desde a vitória em 2018. Tal se deu, por exemplo, com manifestações externadas por figuras como a secretária Pollyanna Werton, o deputado estadual Hervázio Bezerra ou o também secretário Tibério Limeira, que chegaram a propor o exame de nomes do PSB e foram descartados “in limine” pelos demais aliados de João. Nos primórdios do segundo mandato, o governador chegou a pautar o nome do secretário de Infraestrutura Deusdete Queiroga para sucedê-lo, mas esse nome saiu do “radar” e Queiroga foi “rebaixado” a outros postos na escala política.

Para piorar, líderes do Republicanos e do Progressistas conversam abertamente com expoentes da oposição, valendo citar encontros ocorridos entre o prefeito Cícero Lucena e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), além de conversas entre os deputados Hugo Motta e Adriano Galdino, do Republicanos, com o senador Efraim Filho, do União Brasil. Efraim é o líder da mobilização oposicionista para destronar o reinado de João Azevêdo e, no assédio insistente que faz a governistas recalcitrantes, insinua nas entrelinhas que há vagas disponíveis em caso de composição com o bloco, forjando uma perspectiva de poder que ainda não está inteiramente desenhada. Fatos exógenos como a federação entre União Brasil e Progressistas, que uniria Efraim Filho a Aguinaldo Ribeiro na Paraíba, alimentam a confusão ou a geleia geral em que se transformou o cenário político estadual.     

Há quem diga que tudo o que ocorre é consequência do “nó de escoteiro” que teria sido dado pelo “clã” Ribeiro em 2022, quando o deputado federal Aguinaldo recusou a oferta de candidatura ao Senado na chapa de João Azevêdo e contrapropôs a indicação do seu sobrinho, Lucas, para vice-governador. Hoje, Lucas desfila como pré-candidato, com chance de ascender à titularidade do governo caso João Azevêdo renuncie ao mandato para se candidatar ao Senado e, na sequência, efetivar-se como postulante à reeleição. Fica a dúvida sobre se este seria o quadro ideal sonhado por João Azevêdo, mas é fora de dúvidas que o governador é refém dessa situação e a tem admitido em meio ao fogo cruzado incessante entre seus próprios aliados. Posto no camarote, o PSB luta e esperneia para salvar pelo menos alguns anéis na partilha de poder depois de tanto tempo ditando régua e compasso na história política paraibana.