Opinião

FRAUDES, TOLOS E MILITANTES: a fábrica de nonsense de 'pensadores' contra Damares Alves e Regina Duarte - por Felipe Nunes

No pacote, falta de educação, machismo, misoginia e intolerância religiosa. Tudo aquilo que a classe artística mais diz repudiar.

Longe da rotina frenética do Jornalismo no mês de Janeiro, dediquei parte das minhas férias à leitura do livro Tolos, Fraudes e Militantes, do filósofo britânico Roger Scruton, que faleceu recentemente e deixa uma lacuna ímpar na literatura política. Em sua obra, Scruton discute o contexto do pós-guerra e faz uma análise minuciosa sobre a postura hipócrita de intelectuais que defendem bandeiras de proteção às minorias e de tolerância, mas que na prática são simpatizantes de ideias semelhantes aos pensamentos dos ditadores mais sanguinários e perversos do século passado.

O conservador descreve com destreza a postura hipócrita de quem, apesar do discurso ensaboado e bonito, simpatiza com  as piores repressões à liberdade individual, inclusive àquelas contrárias à liberdade de expressão – tudo em nome da ‘verdade’ política que eles julgam defender.

Apesar de estar mais preocupado e dedicado ao contexto europeu, Scruton nos proporciona uma tradução perfeita ao que acontece hoje no Brasil.

Em menos de um mês, dois dos principais nomes da elite intelectual progressista nacional, ultrapassaram o limite democrático e salutar das críticas e atacaram sem nenhuma cerimônia nem pudor a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,  Damares Alves e a nova secretária da cultura, a  atriz Regina Duarte. E por um motivo banal: porque elas fazem parte de um governo conservador. No pacote, falta de educação, machismo, misoginia e intolerância religiosa. Tudo aquilo que a classe artística mais diz repudiar.

Incomodado com a campanha do Governo Federal para prevenir gravidez na adolescência, o advogado Kakay (famoso por defender réus da Operação Lava-Jato), de forma grosseira e covarde atacou Damares. Ele disse: “Foi uma pena os pais desta idiota não terem feito o que ela prega. Se não tivessem trepado, estaríamos livres dela”. A mensagem foi enviada a um grupo fechado em uma rede social, mas vazou.

A covardia veio a público, mas o covarde não se arrependeu de suas atitudes e o caso não gerou revolta nem causou repercussão como deveria num ambiente em que se discute cada vez mais o respeito ao corpo e aos direitos das mulheres. Ponto para o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que se solidarizou com a colega e desmascarou a atitude do advogado detrator.

Vale lembrar, que Damares também tem sido alvo de chacotas por causa de um relato sobre uma experiência espiritual que ela teve na infância. Segundo a ministra evangélica, ela sofreu abusos quando criança e tentou se suicidar ao subir num pé de goibaeira. Ela conta que foi salva após ver Jesus. O assunto envolve dois temas delicados: suicídio e abuso infantil, mas nem isso tem sido o suficiente para sensibilizar certas personalidades nacionais. Até alguns jornalistas, que deveriam dar o exemplo, entraram na onda do achincalhe, o que é lamentável.

O ator Zé de Abreu é outro mau exemplo. Ele tem colecionado episódios de descompostura com quem pensa diferente dele. Em entrevista à Folha de São Paulo, dentre outras baboseiras, distribuiu grosserias contra Regina Duarte: “Fascista não tem sexo. Simone de Beauvoir falava (em) ‘tornar-se mulher’. Vagina não transforma uma mulher em um ser humano”, vomitou.

Vale lembrar, que o ator já cuspiu uma mulher em um restaurante, após ter se desentendido com ela. Nos dois casos, o ator recebeu críticas, mas nenhuma reação à altura das grosserias distribuidas por ele. Nenhum boicote ou campanha convocada por colegas que representam a bandeira da paz e do amor na política.

Os ataques dessas duas figuras são apenas dois exemplos do show de horrores sucessivos expostos nas redes sociais por parte de intelectuais brasileiros que, assim como os tolos e os militantes descritos por Scruton, não passam de uma fraude. No final das contas, ser mulher, gay, negro, pobre ou índio não é condição para ter a solidariedade de quem só ama os ladrões e os partidos que saqueiam o país.

Damares Alves e Regina Duarte são apenas mais duas vítimas de uma lista que já conta com nomes como Fernando Holiday (vítima de racismo e homofobia), Janaína Paschoal (vítima de machismo), Douglas Garcia (alvo de homofobia), Rachel Sheherazade (ameaçada de estupro), Pedro Bial mais recentemente (atacado por pensar diferente), e tantos outros que, com visões de mundo distintas, ousaram escapar da senzala ideológica que alguns gostariam de lhes aprisionar.

E não precisamos acreditar que menino veste azul nem que menina veste rosa para respeitar a pessoa de Damares Alves. E não precisamos concordar com as diretrizes do governo Bolsonaro para respeitar Regina Duarte. Basta ter bom senso e ser humano acima de tudo.

*O texto é um artigo de opinião e não reflete necessariamente o ponto de vista do Polêmica Paraíba.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Felipe Nunes