Opinião

Estratégia de Cícero é esgotar as suas chances no grupo de João - Por Nonato Guedes

Estratégia de Cícero é esgotar as suas chances no grupo de João - Por Nonato Guedes

Ficou claro, na entrevista do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), à rádio Arapuan, que sua estratégia para as eleições de 2026 é focada em esgotar as suas chances de indicação como candidato a governador dentro do partido e do grupo liderado pelo governador João Azevêdo (PSB). Isto significa que ele continuará medindo forças com o vice-governador Lucas Ribeiro, confiante em que seu histórico na vida pública e sua experiência em gestão serão fatores decisivos para a sagração da pré-candidatura. Desse ponto de vista, não houve acenos de composição com as oposições, que o têm cortejado como tática para rachar o bloco oficial. Lucena quer vencer, dentro de casa, pelo convencimento, agitando indicadores como uma suposta aprovação de mais de 70% à sua administração na Capital e a conjuntura favorável que João Pessoa experimenta na atualidade, sob seu quarto mandato.

Lucena não escondeu, evidentemente, o desconforto com falas de líderes do PP como o deputado federal Aguinaldo Ribeiro insinuando que ele é carta fora do baralho no esquema governista e que as preferências de quem decide convergem claramente para o nome de Lucas, até pela circunstância de que será efetivado na titularidade com a desincompatibilização de João para concorrer ao Senado. De forma sutil mas habilidosa, o prefeito deixou implícito que só haverá rompimento se ele for constrangido a tanto por manobras de cúpula – hipótese em que, naturalmente, fará valer a sua autoestima, bem como a posição de destaque no processo sucessório que foi antecipado na Paraíba. Relembrou que é legítimo o direito de postular o Executivo e, de modo concomitante, enfatizou oportunidades em que abriu mão desse objetivo, pressionado a ceder chances a outros. Foi uma alegoria para provar que não põe sentimento de vaidade em jogo e que a cúpula do agrupamento tem o dever de auscultá-lo em torno de definições para o páreo do próximo ano.

Cícero, que aniversaria hoje, simbolicamente junto com a Capital e com a Paraíba, insiste em que a valoração de critérios justos e corretos deve ser indispensável na escolha da candidatura do bloco oficial à sucessão ao Palácio da Redenção. Da forma como o processo está sendo conduzido, ele entende que há praticamente uma imposição, que, por sua vez, configura desrespeito à vontade popular, sem que sejam confrontadas ou analisadas qualidades de pretendentes (além dele e de Lucas Ribeiro, pleiteia a indicação o deputado estadual Adriano Galdino, do Republicanos, presidente da Assembleia Legislativa). O prefeito quer um debate ampliado e transparente, que contribua para legitimar com as bênçãos populares a oficialização de candidatura ao governo do Estado. Em princípio, é uma postura desafiadora – mas, dentro dos limites da esfera governista, ou seja, nas quatro linhas do bloco que ambiciona a cadeira ocupada por João Azevêdo.

Uma análise subjetiva da estratégia do prefeito de João Pessoa sinaliza, de fato, que ele não está comandando diretamente um processo de rebelião na base, jogando líderes políticos contra condestáveis do grupo, principalmente o governador João Azevêdo, cuja liderança na condução do processo é reconhecida por todos. Houve encontros, sim, da parte de Cícero Lucena com expoentes da oposição, como os senadores Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e Efraim Filho, do União Brasil, em eventos coincidentes em cidades do interior do Estado – mas não há registro de compromissos firmados por baixo de pano nem de acenos para formação de dissidência no grupo de João visando impingir-lhe uma derrota dentro do próprio arco de atuação política em que se move. Cícero quer ser escutado – e se dispõe a aceitar resultado desfavorável se for persuadido pela força de fatos e argumentos colocados na mesa democrática de discussão. É o que dá a entender, desfazendo impressões ou suspeitas de que esteja blefando.

O prefeito de João Pessoa, pelo tom de suas palavras, continua se considerando alinhado com o governador João Azevêdo, até pelo respaldo do êxito da parceria administrativa que construíram e que tem possibilitado avanços significativos a ponto de posicionar a Capital paraibana no ranking dos dez destinos turísticos do mundo, o que é um chamariz para investimentos de monta que consolidem o processo gradativo de desenvolvimento econômico e social que até aqui vem sendo experimentado. A postura assumida por Cícero joga na berlinda expoentes do grupo que teoricamente estão fechados com a pré-candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro, e deverá ensejar novo rumo nos debates que até o momento estão deflagrados. Afinal de contas, uma ‘expulsão’ de Cícero em meio aos percentuais de popularidade que ele detém pode ser um passaporte para a canonização dele nas urnas em 2026 por qualquer partido, por qualquer agrupamento político.