
Paraíba - As investidas do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) junto a políticos ligados ao bloco governista para atrair adesões à sua candidatura à reeleição no pleito de 2026 acentuaram-se no período carnavalesco mas já vêm ocorrendo desde o ano passado numa estratégia que tenta tirar proveito de insatisfações pontuais dentro do agrupamento chefiado pelo governador João Azevêdo (PSB). Na ofensiva deflagrada, Veneziano investe até mesmo em eleitores tidos como fiéis ao governador, numa espécie de revanche contra João, com quem rompeu e que o derrotou nas urnas em 2022 quando foi reeleito ao Executivo.
O parlamentar emedebista, que perdeu a primeira vice-presidência do Senado, vale-se da influência das emendas e da capacidade de destinar recursos para os municípios, bem como
de carrear obras e empreendimentos importantes, para lastrear sua jornada visando sobreviver politicamente, confiando, também, no apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao seu nome. Em 2022, quando se lançou candidato ao governo do Estado, Veneziano teve a preferência de apoio do favorito a presidente da República no primeiro turno, não obstante o governador João Azevêdo também fosse aliado do líder petista. Veneziano “amarrou” a declaração favorável de Lula após promover uma composição que deu ao Partido dos Trabalhadores na Paraíba duas vagas importantes na chapa majoritária – a de vice-governador, reservada para Maíssa Cartaxo, mulher do deputado estadual Luciano Cartaxo, e a de senador, entregue ao ex-governador Ricardo Coutinho.
Foi esta última, sobretudo, a que pesou mais no posicionamento de Lula no primeiro turno, diante de ligações históricas de Ricardo Coutinho com ele, noves fora aquele episódio da saída de RC do PT, “quase expulso”, quando postulava ser indicado candidato à prefeitura de João Pessoa.
O atual presidente da República abalou-se até Campina Grande no primeiro turno para participar de manifestação pública pró-Veneziano, que acabou alijado até do segundo turno, enquanto Ricardo Coutinho foi ultrapassado por Efraim Filho, um quadro emergente do União Brasil, e por Pollyanna Dutra, lançada de última hora pelo PSB para completar a chapa após a desistência de Aguinaldo Ribeiro em concorrer pelo PP.
No segundo turno, Lula declarou apoio a João Azevêdo, premiando a lealdade deste que foi
praticamente o primeiro governador a manifestar adesão a uma nova candidatura do petista à
Presidência da República depois do ostracismo que o levou a cumprir encarceramento durante 580 dias na Polícia Federal em Curitiba.
Veneziano, entretanto, compôs-se no segundo turno na Paraíba com o então deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, numa manobra para garantir o apoio do esquema político do ex-governador Cássio Cunha Lima em 2026. O senador emedebista, no entanto, manteve o seu engajamento na campanha pró-Lula contra Jair Bolsonaro, enquanto Pedro Cunha Lima encenava postura de neutralidade na disputa presidencial, liberando correligionários para votarem em quem quisessem (grande parte da base de Pedro estava alinhada com Jair Bolsonaro, inclusive o senador eleito Efraim Filho).
No rescaldo da derrota de Pedro, que ainda assim obteve resultado expressivo no
confronto com o governador, deu-se a reciprocidade esperada e o “clã” Cunha Lima firmou,
antecipadamente, apoio à candidatura de Veneziano a um novo mandato no Senado.
Desde então, o emedebista articula apoios onde eles estiverem, seguindo os passos de Efraim Filho que, na campanha de 2022, atraiu partidos como o Republicanos, mesmo com este hipotecando adesão à candidatura de João Azevêdo à reeleição ao governo. Efraim, na verdade, havia costurado um entendimento com o Republicanos, presidido pelo deputado Hugo Motta, comandante da Câmara Federal, quando ainda era aliado do governador João Azevêdo.
Rompeu com este queixando-se da falta de firmeza no apoio à sua pré-candidatura ao Senado e no reconhecimento à sua obstinação e capacidade de vencer o pleito. Aquele foi um momento épico não só na conjuntura política paraibana mas na própria trajetória de Efraim, herdeiro do “clã” Morais, do Vale do Sabugy, e sucessor de seu pai no Senado Federal. A dados de hoje, Veneziano conta também com o apoio de Efraim, interessado, por
sua vez, em disputar o governo do Estado no próximo ano.
Aliás, os dois pré-candidatos mais ostensivos em campanha, com antecedência, na Paraíba, para 2026, são o senador Veneziano Vital do Rêgo e o senador Efraim Filho, que dizem combater o “rolo compressor” da máquina governista pilotada por João. Esse “rolo compressor” é integrado, ainda, pelo vice-governador Lucas Ribeiro (PP), postulante ao governo do Estado, pela mãe dele, Daniella Ribeiro (PSD), candidata à reeleição ao Senado, pelo deputado Hugo Motta e pelo presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (que postula apoios a uma candidatura ao Executivo) e pelo prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, do PP, que tem seu nome cogitado como alternativa para um impasse no bloco governista em relação à formação da chapa.
Fontes ligadas ao governador João Azevêdo manifestam a expectativa de que ele venha a reverter o apoio de aliados seus à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo ao Senado, mas não há certeza de que isto venha a acontecer. Afinal, Veneziano partiu muito cedo no projeto de conquistar mais um mandato no Parlamento e está fortemente estruturado em municípios de diferentes regiões, apesar da frágil estrutura do MDB paraibano.