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Edvaldo Rosas, Ricardo Barbosa e as metamorfoses que só o apego ao poder explica - Por Flávio Lúcio

Edvaldo Rosas foi equiparado tanto pelo governador João Azevedo como por seu líder na Assembleia, Ricardo Barbosa, ao ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

A razão para tamanho exagero foi lembrar que Eduardo Campos presidiu nacionalmente o PSB enquanto era governador de Pernambuco, e que isso seria suficiente para justificar o acúmulo de Edvaldo Rosas tanto da presidência estadual do partido quanto da Chefia do Governo Estadual.

Eu não tenho a intenção de diminuir o tamanho político de Edvaldo Rosas, mas essa é a consequência inevitável quando alguém tenta equipará-lo a Eduardo Campos.

Enquanto dependeu exclusivamente das próprias forças e dos próprios votos, Edvaldo Rosas foi no máximo suplente de vereador em João Pessoa.

Ou seja, Edvaldo Rosas sempre foi um quadro organizativo, embora tenha sempre agido a partir das orientações estratégicas delineadas por Ricardo Coutinho.

Mesmo assim, não se pode dizer que Rosas não tenha tentado ir além. Ele foi candidato a deputado federal mais de uma vez sem nunca ter logrado êxito, mesmo com a exposição e as possibilidades que a presidência estadual do PSB lhes oferecia − em 2014, ficou na primeira suplência para a Câmara Federal, com mais de 50 mil votos.

Quanto a Eduardo Campos, não há necessidade de apresentações, mas eu vou fazer isso brevemente, mesmo assim. Neto de uma figura icônica da esquerda brasileira, Miguel Arraes, Eduardo Campos foi provavelmente o mais popular governador de Pernambuco depois do próprio avô.

Na esteira de uma grande administração, Campos tirou Pernambuco da decadência e da prostração econômicas para elevar e recompatibilizar a economia do estado a sempre elevada autoestima dos pernambucanos.

Não por acaso, Eduardo Campo lançou-se candidato à presidência em 2014 sem poder, entretanto, ter seu prestígio eleitoral medido nacionalmente porque foi tragado para a morte num fatídico acidente aéreo.

Portanto, na capacidade e importância política, Edvaldo Rosas e Eduardo Campos são figuras que não podem ser comparadas sem que se evidencie o tamanho de cada um. Ter presidido o PSB nacionalmente foi uma necessidade para dar unidade e homogeneidade ao partido, tanto quanto foi uma obrigação política para o próprio Eduardo Campos, que, independente do que se pense a seu respeito, era um gigante na política nacional. Mesmo seus adversários pensavam assim.

No caso de Edvaldo Rosas, uma simples pergunta ajuda a desfazer qualquer dúvida a esse respeito. Se ele não ocupasse hoje a presidência do PSB paraibano, ele teria sido nomeado secretário no governo de João Azevedo? Claro que não.

RICARDO TRANSFORMOU O PSB: DE ANTESSALA DOS CUNHA LIMA A PARTIDO HEGEMÔNICO NA PARAÍBA

Soa ainda mais estranho que Ricardo Barbosa tenha declarado, quase em tom de desdém a entrevistadores declaradamente antiricardistas, que entrou para o PSB “bem antes desses que estão aí”, chegando a dizer que não era um “socialista raiz“, mas um “socialista semente”, já que entrou para o PSB antes de Ricardo Coutinho.

Nessa volta ao passado, Barbosa só esqueceu de dizer que essas palavras eram, na verdade, uma homenagem ao seu passado ronaldista, quando o líder de João Azevedoentrava em partidos a mando de Ronaldo e Cássio Cunha Lima, a quem Barbosa serviu com canina fidelidade por décadas.

Em 1997, o PSB na Paraíba foi tomado de assalto pelos Cunha Lima para servir de biombo no enfrentamento a José Maranhão, tanto que acompanharam Ricardo Barbosa ao PSB, à época, Gilvan Freire e Nadja Palitot.

Barbosa foi do PMDB até José Maranhão passar a controlar a sigla.

Em 1998, foi candidato a deputado estadual pelo PMDB (ficou na suplência).

Em 2002, foi candidato novamente, dessa vez pelo PSB (ficou na suplência).

Em 2006, ele de desenterra do PSB e novamente se candidata sempre a deputado estadual pelo PSDB (ficou na suplência).

Em 2010, Barbosa volta a ser semente e se candidata pelo PSB (ficou de novo na suplência)

O engraçado é que foi só quando passou a assumir funções administrativas no governo Ricardo Coutinho, Ricardo Barbosa passou a ter vida própria na política. Segundo eu escutei certa vez de sua própria boca, foi o ex-governador que o convenceu a novamente ser candidato, tão cansado estava Barbosa de ter batido esteira a vida toda para os Cunha Lima.

Em 2014, foi candidato e dessa vez realizou o velho objetivo de ser assumir uma cadeira na Assembleia Legislativa, quando se elegeu pela primeira vez deputado estadual. Em 2018, repetiu a dose.

Hoje, vive a ironizar a estimular cizânias internas no interior do partido e contra a liderança que lhe tirou do ostracismo e da dependência política.

MISTURA DE FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS COM FUNÇÕES POLÍTICAS

Ao nomear Edvaldo Rosas para a Chefia de Governo, sem exigir que ele se licenciasse da presidência do PSB para se dedicar exclusivamente às funções administrativas, o governador João Azevedo parece que pretende mudar a lógica estabelecida por RC de não misturar funções administrativas no governo com funções políticas e partidárias. 

Ao contrário de estimular e defender a permanência de Edvaldo Rosas, caso vivêssemos uma situação de normalidade política, e não em um ambiente depauperado por expectativas de traições, o normal seria que o nome de Ricardo Coutinho fosse uma unanimidade, sobretudo depois do sacrifício feito em 2018, quando RC preferiu permanecer no governo em nome do projeto político-administrativo do PSB.

Sem cargo em razão disso, conduzi-lo à presidência estadual ser antes de tudo uma homenagem ao ex-governador. O que se vê, entretanto, é o contrário: resistência, suposições indevidas, insinuações de todo tipo, tudo em nome de um projeto que visa isolar Ricardo Coutinho, um projeto que seus inimigos na política e na imprensa aplaudem com ardor. Há seis meses, quem pensaria que isso seria possível seria chamado de insano.

Lealdade é algo com o quê não se pode contar de muita gente que faz política, e é algo que parece cada vez mais em falta na Paraíba depois que Ricardo Coutinho deixou o governo.

São metamorfoses que só o apego ao poder explica.

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Fonte: Leia Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio