Opinião

Edinho assume PT e diz que desafio é furar bolha da polarização - Por Nonato Guedes

O sociólogo Edinho Silva, de 60 anos, que assume hoje a presidência nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), após ser eleito internamente

(Foto: Partido dos Trabalhadores/Reprodução)
(Foto: Partido dos Trabalhadores/Reprodução)

O sociólogo Edinho Silva, de 60 anos, que assume hoje a presidência nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), após ser eleito internamente com 73% dos votos, admitiu numa entrevista à “Veja” que 2026 será um ano difícil e que para reeleger o presidente Lula será preciso atrair não só o centro, mas o eleitor perdido para Bolsonaro.

Edinho afirma que o próximo pleito será ainda mais complicado do que o de 2022 e acrescenta que “o desafio é furar a bolha da polarização e dialogar com quem não escolheu Lula por alguma circunstância conjuntural mas que já votou no PT em eleições anteriores”.

Enfatizou ainda:

“Conseguimos furar essa bolha, por exemplo, ao debater soberania nacional. Já se percebe que começa a diluir o mau humor de uma parte do povo brasileiro conosco, o que dá indícios de que podemos ampliar o nosso eleitorado, mas para vencer será preciso repetir o que aconteceu no segundo turno de 2022. Teremos de criar um movimento de mobilização que mostre que quem vai defender o Brasil como país, o povo e as instituições brasileiras é Lula”.

Ex-prefeito de Araraquara (SP) por quatro mandatos, ex-deputado estadual, ex-ministro e coordenador da campanha de Lula em 2022, Edinho Silva diz que iniciará hoje o maior desafio de sua vida política, com a missão de unificar o partido, dar tração a velhas e novas bandeiras da legenda e, principalmente, viabilizar a reeleição de Lula em 2026.

“Defendi e continuo defendendo o direito do PT de não abrir mão de nossas bandeiras históricas, daquilo que nos dá identidade, do nosso legado, priorizando os aliados tradicionais. Mas temos que ter capacidade de ampliação, de diálogo”, frisou.

Para ele, é preciso fazer esse diálogo contextualizando a situação política do país. Avalia que o presidencialismo se enfraqueceu muito com Michel Temer e Jair Bolsonaro – no primeiro caso, por falta de legitimidade, no segundo caso porque Bolsonaro não era afeito a governar, era muito mais um agitador de massas.

“Eles repassaram ao Congresso boa parte das atribuições do presidente da República. Hoje, o Legislativo executa 52 bilhões de reais do Orçamento”, salientou.

Sucessor de Gleisi Hoffmann e, ultimamente, do senador Humberto Costa, na presidência nacional do PT, Edinho Silva ressalta que a relação do partido com os aliados deve levar em conta a lógica nos Estados, sem que haja uma contradição absurda.

“Não se pode ter ministros cujos partidos ficam atacando constantemente o governo. Se querem tanto estar conosco, estejam na nossa aliança”, exemplificou, referindo-se ao União Brasil e a outras legendas.

À “Veja”, Edinho Silva reiterou que as alianças estaduais serão as mais importantes a serem construídas. E explicou:

“A maior parte dos partidos vai liberar seus filiados, não vai ter aliança nacional. Temos que ter chapa forte para deputados federais e para as Assembleias. E, claro, entendendo o quanto vai ser estratégica a eleição para o Senado, em razão dessa ofensiva da direita que está ocorrendo no Brasil para gerar instabilidade nas nossas instituições, com ataques ao Judiciário. Olhando as eleições Estado por Estado, vamos desenhar uma estratégia em que a democracia seja vitoriosa”.

Comentando a ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro do próximo pleito, por estar inelegível, Edinho Silva revelou que não está preocupado em identificar ou escolher adversários, mas em construir as alianças indispensáveis para o Partido dos Trabalhadores.

“Estou mais preocupado com que possamos superar a atual conjuntura, com dois temas centrais que estão sendo debatidos: a reforma da renda, que é fundamental para o futuro do Brasil, e a soberania nacional. Não me preocupo com o adversário, penso que o Brasil precisa sair efetivamente fortalecido diante desses dois debates”.

Edinho acha que as mudanças tecnológicas no mundo do trabalho precisam ser levadas em conta e diz que Lula está preocupado com isso, daí a necessidade de contemplar a nova classe trabalhadora emergente.

“O PT também deve debater com muita ênfase a questão da universalização da educação integral, a primeira infância, o financiamento do SUS, o maior programa de saúde pública do mundo, de forma a diminuir as filas, que são o gargalo do sistema”.

O novo presidente do PT analisa que há muita gente no partido que ainda faz o trabalho de organização popular e que isto é importante porque, com base nas eleições de 2024, é nítido que o petismo perdeu parte do seu eleitorado, principalmente a juventude das periferias. Propõe que o partido esteja aberto a mudanças como a inteligência artificial e a conexão com as redes sociais.

“Só vamos levar pessoas às ruas se tivermos capacidade de mobilizar e gerar engajamento nas redes, de fazer com que elas popularizem temas importantes. E o maior trunfo é acertar a política. Um exemplo foi quando Lula, o governo e o PT entraram no debate da democratização da renda. Ou seja, quem não paga imposto? O Brasil tem 860 bilhões de reais hoje de renúncia fiscal. Quando o governo faz esse debate corretamente, ele acerta no diálogo”.

Edinho diz que o PT sofreu ataques fortíssimos, principalmente na Lava-Jato, mas resistiu a todos eles.

“O PT foi vítima talvez da maior ofensiva que uma agremiação política já tenha sofrido na história brasileira – e o debate passou a ser a sobrevivência do partido”, concluiu.

Ele não tem dúvidas de que o PT vai retomar o número de prefeitos e vereadores e voltar a governar estados importantes.

Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba