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COM SANGUE NAS MÃOS: mortes por asfixia em Manaus deixou evidente uma culpa que causa ainda mais revolta e perplexidade - Por Francisco Airton

O Brasil acompanha com ansiedade a guerra burocrática envolvendo a chegada de uma vacina que possa devolver a esperança a um povo tão massacrado em sua pobreza e até mesmo nas diferenças impostas pelo preconceito aflorado nos últimos meses vividos. São milhões de pessoas abandonadas pelo poder público e entregues à própria sorte. Uma pandemia vem varrendo o país matando pessoas e deixando sequelas que marcarão milhões para o resto da vida.

O Brasil acompanha com ansiedade a guerra burocrática envolvendo a chegada de uma vacina que possa devolver a esperança a um povo tão massacrado em sua pobreza e até mesmo nas diferenças impostas pelo preconceito aflorado nos últimos meses vividos.  São milhões de pessoas abandonadas pelo poder público e entregues à própria sorte. Uma pandemia vem varrendo o país matando pessoas e deixando sequelas que marcarão milhões para o resto da vida.

Assisti nos últimos dias (como o resto do país) a uma avalanche de catástrofes juntas, que pontualmente matou aqui e ali alguns ricos e famosos que se destacaram no noticiário nos deixando perplexos ou chorosos pela perda significativa (não esquecendo que todas as vidas importam), mas foi o pacote macabro de mais de 210 mil mortos que chamou a atenção porquê, em sua maioria, trouxe pessoas muito pobres arrebatadas do seio das suas famílias – pai, mãe, filho, irmão – que sequer tiveram tempo de pensar no que estava realmente ocorrendo e quando ocorreu, não houve tempo para uma despedida! A princípio a nação estava mergulhada numa total ignorância. Ignorância que desde o início de tudo já foi alimentada por quem tinha a obrigação de alertar, esclarecer e cuidar.

A questão é que tudo poderia ter sido diferente (não sem mortes e sem infecção), mas o impacto poderia ter sido bem menor não fosse a irresponsabilidade, a negligência e total desdém pela vida humana. Desde o início, sem querer aqui ser repetitivo, tudo foi minimizado, relativizado e tratado como se bastasse tomar um xarope e o vírus iria embora. O pior é que, não só o vírus não foi embora mas botou o país de pernas pro ar, trucidando vidas e amargurando milhões. Mais de 8 milhões e meio de pessoas foram acometidas pela Covid-19 até esse momento. No entanto, os números, que são assustadores para 70% da população, parece não haver alterado em nada o governo negacionista que, mesmo assim, segue com a sua caravana da morte prescrevendo o seu receituário de incompetência, receitando cloroquina e botando a culpa nas próprias vítimas pela falta de cuidados com suas vidas! Isso é só incompetência, é só pura maldade ou tem aí uma grande parcela de insanidade?

Não dá para aceitar e jamais o mundo esquecerá a tragédia particular de Manaus, quando, por absoluta falta da ação imediata e eficaz do governo federal, dezenas de pessoas morreram sufocadas pela falta de oxigênio. Negligência, incompetência e desprezo com a vida humana (pois o Brasil inteiro ficou sabendo que pelo menos dez dias antes o Ministério da Saúde havia sido alertado para a tragédia e nada fez para evita-la)! Uma tragédia anunciada. Foi a mobilização de pessoas sensibilizadas com as mortes – artistas, governadores e outros segmentos – que, não permitiu a tragédia ser maior. Até mesmo o governo “vermelho e comunista” da Venezuela teve a altivez de ignorar os ataques bolsonaristas e enviar a ajuda que se fazia urgente. Obrigado Nicolás Maduro pelo gesto humanitário! Gesto que parece ser impossível de ser esboçado pelo Dr. Bolsonaro e sua equipe!

A verdade é que a tragédia de Manaus será uma das maiores manchas deixadas pelo governo Bolsonaro. As manchas são muitas, mas essa é uma prova contundente do genocídio que está sendo imposto ao Brasil em doses homeopáticas! Na agonia das pessoas sem poder respirar, ficou evidente que além de milhares de outras, o sangue das vítimas de Manaus estará nas mãos de um líder que ri e faz piadas desdenhando enquanto cidadãos agonizam em macas improvisadas dividindo um cilindro de ar com outras duas vítimas do vírus da morte. Quem, senão uma mente perturbada, riria de algo tão chocante? Eu assisto a tudo indignado e, assim como você que diz não aguentar mais ver e ouvir falar nas atrocidades desse governo, eu também já nem suporto mais ver os telejornais! Mas, por favor não me peçam para parar de falar e de escrever sobre o que acontece impunemente embaixo do nosso nariz! É preciso denunciar e cobrar providências!

Diante do exposto acho que há de si jogar tudo no mesmo balaio para, assim, encontrarmos um governo totalmente perdido que incendeia o país de forma deliberada, assiste ao crescimento desenfreado da pobreza extrema, dos assassinatos banalizados e permitidos por leis bastante discutíveis. É também diante de um país agonizante que o doutor Bolsonaro continua medicando a hidroxicloroquina e recomendando “tratamento precoce” através do seu ministro da Saúde, Dr. General Pazuello. Enquanto isso “Pai da cloroquina”, médico francês Didier Raoult volta atrás e reconhece que medicamento não tem eficácia contra Covid. Ele informou que reavaliou os dados, diante de seis pacientes que haviam “sumido” dos estudos, e ressaltou que a hidroxicloroquina não funcionou”.

E a cada dia que passa fica mais evidente a falta de segurança do governo naquilo que diz e na facilidade que tem para imediatamente negar o que fez ou o que disse. “Em coletiva de imprensa na segunda-feira (18), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tentou se desvencilhar do discurso do suposto “tratamento precoce” contra Covid-19 defendido diversas vezes por ele mesmo e por Jair Bolsonaro. No domingo (17), durante a reunião em que autorizaram o uso emergencial das vacinas Coronavac e de Oxford, diretores da Agência desmentiram informações divulgadas sobre eficácia de “tratamento precoce” contra a doença causada pelo novo coronavírus”.

Mergulhado no caos que segue destruindo tudo, Bolsonaro segue sorrindo com a sua caravana da morte. Lutou até o último momento contra a vacinação e acabou atropelado pelo governador de São Paulo, João Dória. Vencido pela Anvisa que aprovou (para alívio maior da população) a vacina, foi para a frente do seu curralinho onde mantém o gado sempre afiado para os aplausos e lamentou que a vacina tivesse sido aprovada! Alguém aí, que não seja parte do gado ferrado, já tinha visto algo assim na vida? Um governante que tem a obrigação de conduzir o “seu povo” (e aqui eu me refiro aqueles 30%) para uma terra firme e, ao invés disso, arrasta-lo para a morte sempre com uma piada sem graça e um largo sorriso no rosto? É ou não é insano?

Mas apesar de não concordar com essa guerra vergonhosa pela conquista política da vacina visando 2022, devo admitir que foi a determinação de Dória, ao avançar nas negociações para conseguir a vacina Coronavac, que chegamos ao grande dia! Um a zero para o Dória! Não fosse ele bater de frente e furar o bloqueio, estaria o país sofrendo o desespero de sufocar até morte longe de qualquer esperança!

Mas em fim a vacinação “apesar de você” já é uma realidade. A notícia chega em nossas casas como a chuva que salva os bichos que queimam no Pantanal ou na Amazônia. É a chegada da esperança que invade a todos e traz de volta a certeza de que muito em breve a vida, nosso bem maior, nos será devolvida em toda a sua plenitude. Será lentamente, mas isso já é um grande alento! Isso definitivamente não tem nada a ver com ideologia. A vacina já chegou e eu preciso respirar!

Fonte: Francisco Airton
Créditos: Polêmica Paraíba