Opinião

Com Bolsonaro esvaziado, Centrão busca opções na conjuntura - Por Nonato Guedes

Com Bolsonaro esvaziado, Centrão busca opções na conjuntura - Por Nonato Guedes

A situação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) complica-se cada vez mais perante a Lei com a perspectiva de julgamento em duas semanas, arrolado que está em vários processos comprometedores da sua imagem e do seu potencial político. Expoentes do chamado Centrão no Congresso, que tinham Bolsonaro como aliado em outros tempos, buscam opções dentro da conjuntura nacional para fazer frente à liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que agita publicamente a hipótese de concorrer a um novo mandato em 2026. O distanciamento do Centrão de Bolsonaro aparece nas entrelinhas, como revela uma reportagem do UOL, citando afirmação do senador Ciro Nogueira (PP-PI), ministro da “cozinha” do Planalto no governo do capitão, de que defende a anistia que pode beneficiá-lo mas também defende que a direita não pode ficar parada. A opinião de Ciro tem peso, segundo avaliação dos meios políticos, já que ele é copresidente da maior federação do Brasil, a recém-formada União Progressista, que congrega o União Brasil e o PP e que se instalou em Brasília esta semana, estando no aguardo de homologação pela Justiça Eleitoral. Ciro Nogueira ressalta que o ideal seria a concessão de anistia para Bolsonaro poder concorrer no próximo ano, mas sugere que não há tempo para indefinições, muito menos ambiente propício a dúvidas e incertezas. “Defendo que o mais rapidamente possível nós possamos definir um quadro que possa nos levar à vitória”, explicou, didaticamente. ACM Neto, cacique do União Brasil e ferrenho defensor de uma candidatura de oposição ao governo Lula, prega que o caminho do Centrão deve ser à direita.

Enquanto isso, a própria família Bolsonaro ajuda a afastar o Centrão, como ficou claro com a repercussão negativa das falas do vereador Carlos Bolsonaro, chamando de ratos e de oportunistas os quatro governadores que pertencem ao bloco e que são pré-candidatos a presidente. Em termos concretos, há uma disputa acirrada pelo controle do espólio bolsonarista, que é residual mas que ainda empolga segmentos antipetistas e antilulistas ou anti-esquerdistas. O núcleo duro do ex-presidente da República entende que está em curso uma disputa por herança de pai vivo, mas a verdade é que as atitudes do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que se encontra nos Estados Unidos, contribuem para aprofundar o fosso. O deputado endossou as críticas de Carlos, e, além do mais, a sua atuação nos EUA a favor da aplicação de sanções do governo Trump contra o Brasil tornou uma aliança do Centrão com ele fora de cogitação neste momento. Um líder do MDB revelou que é inviável dar qualquer protagonismo ao deputado nas eleições de 2026 porque ele não tem condições nem credibilidade para debater os problemas nacionais. Caciques do Centrão corroboram essa versão dizendo que o Brasil precisa de um político equilibrado – e, nesse ponto, cita-se o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) como adequado para representar os partidos do bloco conservador. Integrantes do Republicanos, PP, União Brasil e até do PT já dão como certa a presença do governador de São Paulo na disputa presidencial do ano vindouro. No Republicanos há quem pondere que Tarcísio não pode queimar a largada e que deve adiar o anúncio de que deseja concorrer ao Planalto para não repetir uma estratégia errada que teria sido adotada pelo ex-governador João Doria (PSDB), que se lançou cedo demais e ficou pelo caminho em 2022. O núcleo duro de Bolsonaro considera que Tarcísio já repetiu Doria, e caciques do próprio PL também avaliam que o governador de São Paulo está se comportando como candidato há meses. ACM Neto acha que o sobrenome Bolsonaro não ajuda a fechar um acordo na oposição. Não significa, conforme o UOL, que a família do ex-presidente não seja bem-aceita.

Não há posição fechada sobre não ter alguém do “clã” do ex-presidente concorrendo na chapa presidencial, mas o acerto deve ser feito em outro momento, conforme ressalta ACM Neto. Michelle, a mulher de Jair, desponta como um nome mais forte, diante da suspeita de que Eduardo não voltará ao Brasil e nem tem apoio partidário, muito menos Flávio Bolsonaro. Enquanto o bolsonarismo queima aliados, o Centrão se articula, dentro da lógica de que o seu sucesso significará um deslocamento da liderança das forças de direita, comandadas por Bolsonaro desde 2018. O processo criminal contra Bolsonaro sugere o fim desta era, conforme o UOL, lembrando que enquanto o ex-presidente da República derrete, pré-candidatos se movimentam ostensivamente no campo da direita, entre eles governadores de Estados influentes.