Opinião

Cícero tenta guinada à esquerda e corteja apoio de Lula e do PT - Por Nonato Guedes

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, que sempre foi um político de centro-
direita na trajetória iniciada quando se elegeu vice-governador de Ronaldo Cunha
Lima, promove uma mudança radical em seu perfil ao se aproximar do PT e do governo
do presidente Lula, almejando, em troca, monopolizar o palanque de apoio à reeleição
do mandatário no Estado e, por via de consequência, ser o candidato oficial dele ao
governo da Paraíba, desbancando nomes como o do deputado Adriano Galdino,
presidente da Assembleia Legislativa e do vice-governador Lucas Ribeiro (PP), que
cortejam a disputa ao Executivo. Mal chegou da romaria a Santiago de Compostella, na
Espanha, Cícero articulou a guinada à esquerda contando com o assessoramento
qualificado do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), aliado incondicional do
presidente Lula, que age para filiar o prefeito ao emedebismo, garantindo-lhe vaga
para indicação da candidatura ao Palácio da Redenção
A manobra de Veneziano é uma revanche direta contra a liderança do governador
João Azevêdo (PSB), também aliado do presidente Lula, que encontra dificuldades para
emplacar o apoio do Planalto à candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro (PP) ao
governo paraibano, diante da falta de maior engajamento de Lucas com o projeto
eleitoral de Lula e do petismo. Tanto Veneziano quanto Cícero foram aliados de João
Azevêdo – o senador rompeu antes e nas eleições de 2022 enfrentou o chefe do
Executivo socialista, não logrando, porém, avançar para o segundo turno, apesar de ter
sido o primeiro nome recomendado por Lula, que na rodada decisiva recomendou a
candidatura de João Azevêdo, o vitorioso. O rompimento de Cícero é recentíssimo e foi
motivado pela falta de espaço para adoção da sua pretensão à sucessão de João
dentro do esquema oficial. Ainda há emissários governistas tentando trabalhar a
reaproximação entre os dois, mas o próprio governador João Azevêdo tem sido
enfático ao descartar qualquer gesto nesse sentido, considerando que a página está
virada na relação política entre eles
Cícero insurgiu-se dentro do bloco oficial contra a imposição da pré-candidatura
de Lucas, tendo oficializado seu desligamento dos quadros do PP, onde a família do
vice-governador é hegemônica, com a senadora Daniella e o deputado federal
Aguinaldo. O prefeito da Capital tentou argumentar que lidera pesquisas preliminares
de intenção de voto para o governo do Estado no próximo ano, mas esse fator não foi
levado em conta pelo “staff” do governador João Azevêdo, que já tinha fechado com o
projeto de Ribeiro, apoiado pelo Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo
Motta e com o próprio PSB, dirigido por Azevêdo. Ainda houve tempo, horas antes do
embarque ao exterior, para Cícero comunicar a João que sua pré-candidatura seria
irreversível, mas a conversa entre os dois na Granja Santana não teve o condão de
sensibilizar ou arrefecer o ímpeto do apoio do governador à pré-candidatura de Lucas
Ribeiro. Mesmo no exterior, Cícero deflagrou a operação para voltar à cena
repaginado, e por outra legenda.

Contou, para tanto, com os préstimos do senador Veneziano Vital do Rêgo, que
faz oposição declarada a João Azevêdo e que estava órfão de candidatura ao governo
em 2026 capaz de fortalecer a sua pretensão de ser reconduzido ao Congresso
Nacional. Veneziano ofereceu-se para intermediar junto aos escalões políticos em
Brasília uma solução favorável para a sobrevivência política-eleitoral de Cícero Lucena
– e foi então que deu partida aos movimentos para filiar o prefeito ao MDB,
comunicando a decisão ao presidente nacional do partido, deputado federal Baleia
Rossi (SP). O passo seguinte seria o de tentar atrair o PT para essa provável
candidatura de Cícero, e Veneziano intermediou uma audiência do gestor da Capital
com o presidente nacional petista, Edinho Silva, recentemente investido no comando
da agremiação. Essa agenda passou por cima da presidente estadual, Cida Ramos, que
deu recibo de atropelo, mas o próprio Cícero entrou no circuito para atenuar os
desentendimentos, agendando encontro um encontro requentado com a dirigente
petista.A estratégia para tornar Cícero candidato a governador pelo MDB com o
provável apoio do PT e, talvez, do presidente Lula, parece bem-encaminhada e, como
tal, com perspectiva de vir a ser bem-sucedida na ocupação de espaços. O esquema do
governador João Azevêdo, nesse sentido, perdeu muito tempo na proclamação do
alinhamento com a campanha do presidente Lula e, mesmo, na tática de valorização
do PT em espaços da administração estadual. O governador, entretanto, não se dá por
vencido na queda-de-braço que trava ostensivamente com o senador Veneziano Vital
do Rêgo, alegando o seu histórico de lealdade ao governo do presidente Lula, a quem
defendeu em momentos críticos no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas as
versões indicam que em Brasília os entendimentos de bastidores estão sendo
acelerados e que a empreitada da dupla Cícero-Veneziano pode estar cristalizada do
ponto de vista de resultados. De concreto, deflagra-se mais uma reviravolta no cenário
local, gerando expectativas dentro e fora do meio político paraibano.