O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, continua a reafirmar sua candidatura ao governo da Paraíba. Simultaneamente, segue defendendo a unidade da base partidária do atual governo em apoio ao candidato mais viável eleitoralmente, ou seja, o próprio Cícero Lucena, que lidera hoje todas as pesquisas.
A insistência do discurso do prefeito pessoense na defesa de “critérios” para a escolha do candidato a governador, entretanto, deixa sua candidatura nas mãos das lideranças dos principais partidos da aliança que apoia João Azevedo, o que torna Cícero Lucena prisioneiro da estratégia do próprio governador, que determina para onde o PSB deve seguir, de Hugo Motta, que comanda sozinho o Republicanos, e, sobretudo, de Aguinaldo Ribeiro, do Progressistas, partido de Cícero Lucena.
E como já ficou claro, tanto pela recente entrevista que Aguinaldo Ribeiro concedeu ao programa Hora H, quanto pelas reiteradas declarações do vice-governador, Lucas Ribeiro, de que o Progressistas já tem candidato ao governo em 2026 (o próprio Lucas), Cícero Lucena se encontra numa encruzilhada: 1) permanecer no Progressistas e, portanto, desistir da candidatura ao governo e indicar o lugar de vice (que continua vago) na chapa governista, ou 2) rumar para outro partido e se libertar dos grilhões de Aguinaldo Ribeiro que impedirão sua candidatura, já que passou o tempo das candidatos de sublegenda, quando, entre 1976 e 1982, um partido podia lançar mais de um candidato e depois somar seus votos.
Ontem, Lucena voltou a reafirmar sua candidatura a governador. Ao ser questionado a respeito da declaração de Lucas Ribeiro de que sua candidatura a governador é “irreversível”, Lucena disse que considera “natural” já que “qualquer cidadão pode se dizer candidato” e que, no seu caso, quando chegar a hora de tomar a decisão, vai escutar o povo, ou seja, as pesquisas que ele hoje lidera.
Ao responder a outro questionamento sobre sua candidatura, Lucena afirmou que também é “irreversível”, deixando claro que será candidato em qualquer circunstâncias, desde que continue a liderar as pesquisas.
Até aí, nenhuma novidade, embora o acirramento deixe a disputa entre Cícero Lucena e a família Ribeiro cada vez mais quente. Importante mesmo foi o ambiente em que Cícero Lucena deu essas declarações.
Enquanto transcorria a reunião do Orçamento Democrático de Campina Grande, em que João Azevedo não foi para deixar Lucas Ribeiro brilhar sozinho conduzindo os trabalhos, Cícero preferiu outra agenda: o teatro municipal Severino Cabral, onde aconteceria o evento de lançamento do curta-metragem Habeas Pinho, em homenagem ao ex-governador Ronaldo Cunha Lima e o mais conhecido dos seus poemas.
No teatro, Cicero chegou acompanhado do prefeito campinense, Bruno Cunha Lima, e foi recepcionado pelo ex-governador Cássio. Veneziano Vital do Rego, que também estava no evento, cumprimentou alegremente Cícero.
Como se vê, uma reunião carregada de sugestões políticas. Cícero deixou de ir a um evento promovido pelo governo João Azevedo para se confraternizar com ex-aliados, que parecem prontos para recebê-lo de braços abertos na oposição. E que também serve como metáfora: o filme que foi lançado ontem, cujo título (Habeas Pinho) remete a uma medida jurídica que visa proteger o indivíduo de prisões arbitrárias.
Cícero Lucena não vive exatamente o dilema do prisioneiro, já que há meses mantém o mesmo discurso, independente do interlocutor. Ontem, parece ter dado o passo que faltava para deixar claro que suas intenções de candidatura ao governo da Paraíba começam a se transformar em ação: Cícero entrou com um pedido de habeas corpus para sua candidatura, que até ontem era prisioneira de Aguinaldo Ribeiro.
No caso real, o juiz é também o proponente da ação. Ronaldo Cunha Lima certamente aproveitaria o mote para mais uma de suas tiradas poéticas. Lembremos, entretanto, que Pedro, o sucessor, também é poeta.