Opinião

Cícero contraria Ribeiro e reforça a pré-candidatura ao governo - Por Nonato Guedes

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Paraíba - O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) não se intimidou diante da bravata do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, presidente estadual do partido, de que ele está fora da curva ao insistir em pleitear a indicação como candidato ao governo nas eleições de 2026. Cícero não apenas reforçou a pré-candidatura dentro do Progressistas, confrontando, no caso, a pretensão do vice-governador Lucas Ribeiro, como cravou a continuidade do seu alinhamento com a liderança do governador João Azevêdo (PSB), como corolário das parcerias administrativas e políticas que têm sido encetadas entre eles desde 2020 quando Lucena reabilitou-se nas urnas e voltou ao comando do Centro Administrativo Municipal. Cícero acusou o “tom” agressivo com que Aguinaldo desautorizou a sua postulação mas disse que vai continuar trabalhando pela unidade do esquema.

O prefeito demonstra, portanto, uma postura de insubmissão perante os ditames da cúpula paraibana do PP, o que significa, também, confiança nas suas chances de confirmar uma indicação de candidatura e obstinação quanto a perseverar nesse projeto. É uma estratégia calculada que se baseia em alguns fatores-chaves, como a própria idade de Cícero, que se vê diante, talvez, da última e grande oportunidade de concorrer ao Palácio da Redenção, bem como o manifesto apoio popular à sua pretensão, refletido em pesquisas de intenção de voto realizadas por institutos de credibilidade e na indiscutível aprovação da opinião pública ao quarto mandato que está empalmando na Capital paraibana. Por último, mas não menos importante, pesa na análise de Cícero a acolhida que tem sido dada por outros partidos, que lhe oferecem legenda para sustentar uma candidatura ao Executivo, a exemplo do PSDB presidido pelo deputado Fábio Ramalho, do PDT, que busca um líder de expressão na Paraíba, e do Avante, que está sob o comando do ex-prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo, secretário de Turismo da gestão pessoense.

A artilharia de Aguinaldo Ribeiro contra Cícero não demoveu o prefeito da sua crítica a manobras de bastidores para imposição da pré-candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro à sucessão com o simples argumento de que ele é postulante natural pela perspectiva de vir a se tornar titular do cargo com a renúncia de João para concorrer a um mandato de senador. Esse critério é considerado frágil demais na opinião de Lucena, que defende sintonia com a “voz rouca das ruas”, ou seja, identificação com anseios e expectativas populares, como determinante para a sagração de candidaturas. Enquanto Lucas tem no currículo apenas a passagem pela vice-prefeitura de Campina e outras incursões políticas naquela cidade, tendo sido alçado à vice-governança em 2022 na reeleição de João Azevêdo, Cícero faz contraponto com um vasto currículo, incluindo o exercício do governo do Estado por dez meses quando assumiu com a renúncia de Ronaldo Cunha Lima na década de 90 e se mostrou uma grata revelação da atividade política paraibana. Naquele momento, Cícero viabilizou, por decreto, a criação de dezenas de novos municípios, que hoje percorre, colhendo manifestações de gratidão pelos gestos de emancipação que protagonizou. Mas é indiscutivelmente no cenário político de João Pessoa que o prefeito se destaca e de onde projeta uma imagem que repercute em todo o Estado. A história administrativa de Cícero Lucena na Capital tem sido pontuada por realizações de impacto, por marcos simbólicos relevantes (a exemplo do fim do Lixão do Róger, que constituía nódoa na paisagem urbana local) e pela ampliação da oferta de serviços e benefícios à população num arco temporal de quatro gestões, outro feito que ele inscreveu na sua biografia e na conjuntura política-institucional pessoense. A experiência em gestão de Lucena se espraia pela sua passagem pela Secretaria de Políticas Regionais, espécie de ministério, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e, também, pelo conhecimento adquirido quando exerceu mandato de senador, representando os interesses da Paraíba em Brasília.

Na proximidade do aniversário da Capital paraibana, que coincide, também, com o seu próprio aniversário, o prefeito Cícero Lucena tem muito o que comemorar – e, sobretudo, a agradecer, diante de momentos de turbulência que tem enfrentado na sua trajetória, o último deles quando se encontrava na Faixa de Gaza em Israel e se viu diante de bombardeios das forças do Irã contra aquele país, tendo que buscar abrigo subterrâneo e, na sequência, conseguir ser resgatado numa operação espetacular que contou com o empenho de autoridades brasileiras e israelenses. Ressalte-se, também, a disposição de trabalho do filho de São José de Piranhas, que praticamente dedica tempo integral à inspeção de obras e à correção de rumos, quando necessário, na própria administração, para que ela não perca em eficiência, qualidade e atendimento ao público. A cartada política do prefeito para a sucessão não é encarada como blefe – mesmo porque é vista por muitos como temerária, já que terá que se afastar em abril de 2026 e passar uma temporada sem a caneta e a aura do poder. Mas ele acha que está imantado por uma missão, e que o destino lhe chama para novos desafios. Só esta fé explica a resiliência do alcaide em arriscar um projeto que tanto pode ser favorável como pode se converter em rotundo fiasco para a sua biografia vitoriosa até agora construída.