Opinião

Cícero complica o jogo e radicaliza na ambição de ser candidato - Por Nonato Guedes

Recém-chegado de viagem administrativa ao exterior, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), radicalizou nas declarações

Cícero complica o jogo e radicaliza na ambição de ser candidato - Por Nonato Guedes

Recém-chegado de viagem administrativa ao exterior, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), radicalizou nas declarações, ontem, à imprensa, quando reafirmou de modo enfático que está à disposição para ser candidato do bloco oficial ao governo do Estado em 2026. Houve, inclusive, uma mudança de tática por parte de Cícero ao excluir seu filho Mersinho, deputado federal, da equação referente à chapa majoritária.

Até então, o parlamentar era mencionado como alternativa para a vice-governança ou para uma vaga ao Senado, mas com a obstinação do pai em ocupar o espaço ele fica na posição reserva. Cícero sinalizou que pretende retomar o périplo por municípios de diferentes regiões, a pretexto de conhecer e trocar experiências administrativas e receber títulos que lhe foram concedidos em homenagem à sua trajetória na vida pública. Na prática, ele quer continuar a massificar sua imagem junto a parcelas do eleitorado.

A insistência de Cícero em se colocar no páreo complica o jogo que o governador João Azevêdo (PSB) tenta administrar entre aliados de diferentes partidos para compor chapa de consenso capaz de derrotar as oposições em 2026 e manter o projeto de poder empalmado pelo atual chefe do Executivo desde 2019, cujo modelo é constantemente elogiado por todos os pretendentes do bloco governista, pela repercussão dos resultados que produz e pelo efeito colateral que pode ter nas próximas eleições.

Ainda ontem, também, João Azevêdo advertiu que pesquisa não é, necessariamente, o fator determinante para a escolha do candidato à sua sucessão dentro do esquema que lidera. Pareceu um recado a Cícero, que é defensor da consulta à opinião pública como critério para definições, embalado pelo fato de que está bem situado em pesquisas de intenção de voto e enquetes como a que foi realizada pelo “Polêmica Paraíba”, evidenciando seu favoritismo sobre outros concorrentes.

O gestor da Capital dá a entender que está vivamente empenhado em recuperar o tempo perdido em outras oportunidades, quando o cavalo pareceu selado para ele na direção do Palácio da Redenção – e ele não montou.

Tal se deu em 2002, quando, a pedido do poeta Ronaldo Cunha Lima, abriu mão de candidatar-se ao Executivo estadual para favorecer Cássio Cunha Lima, que venceu Roberto Paulino (PMDB) em segundo turno, com este no exercício do governo, cuja titularidade assumira com a desincompatibilização de José Maranhão para disputar o Senado.

Em 2010, Cícero ensaiou peregrinação pelo interior paraibano na perspectiva de viabilizar-se como candidato alinhado com os Cunha Lima e com o PFL do então senador Efraim Moraes, mas acabou surpreendido pela estratégia de Cássio, que decidiu apoiar Ricardo Coutinho, do PSB, com ele fazendo dobradinha para o Senado – ambos vitoriosos. 2026, para Cícero, seria a última chance de ascender ao governo do Estado.

O problema a ser equacionado reside no fato de que Lucena concorre, no bloco oficial, com a candidatura pré-lançada do vice-governador Lucas Ribeiro, do mesmo Partido Progressista, que tomou impulso nos últimos tempos diante de acenos feitos pelo próprio governador João Azevêdo, ao reconhecer condição natural de Lucas como candidato por vir a estar no comando da máquina com o afastamento de João para tentar galgar outros postos eletivos.

Analistas políticos têm sugerido que Cícero precisa fazer um movimento urgente visando assegurar para si o controle de outro partido por onde possa escoar sua pretensão, já que o PP é campo minado, com a supremacia dos Ribeiro, mediante influência do deputado federal Aguinaldo, da atuação do vice Lucas e, ultimamente, do retorno da senadora Daniella, na ofensiva para fortalecer o partido no contexto da federação anunciada com o União Brasil e que ainda não chegou a alguns Estados pela dificuldade de consenso e pela concorrência de ambições.

Toda essa agitação dentro do Progressistas intensifica-se em paralelo com o clima de pressão dentro do Republicanos, que não abre mão da cabeça de chapa no bloco de João Azevêdo e que alterna os nomes dos deputados Hugo Motta, presidente da Câmara Federal, e Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, como indicações para a chapa majoritária.

A cada semana o governador João Azevêdo é chamado a matar um leão, porque virou praxe a medição de forças entre partidos da base, sem falar no PSB, que luta com unhas e dentes para não ceder a hegemonia no quadro político paraibano. O núcleo duro que cerca o governador começa a se preocupar com a ameaça de que a disputa política antecipada atrapalhe ou afete o ritmo administrativo.

Esta é uma situação que o governador não admite em hipótese alguma e cuja perspectiva, se houver, poderá levá-lo a chutar o pau da barraca e decidir, “motu próprio”, permanecer no cargo até o último dia, renunciando a oportunidades promissoras que hoje são vislumbradas em relação ao seu futuro político. 

Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba