São visíveis os sinais de que se aprofunda o distanciamento do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) da base liderada pelo governador João Azevêdo (PSB) tendo como pano de fundo a divergência sobre a formação da chapa para disputar o governo nas eleições do próximo ano. Lucena tornou-se um dissidente em relação à imposição da pré-candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro, também do Progressistas, e demonstra que não se convenceu do potencial eleitoral dessa postulação, além de sustentar que ela não promove a unidade no agrupamento, já que, além dele, também diverge, ostensivamente, o deputado estadual Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa. Fala-se, inclusive, na existência de um pacto firmado entre ambos, pelo qual haveria apoio recíproco em caso de indicação para a disputa ao Executivo. Na busca para se fortalecer como expoente de um novo grupo político no Estado, Cícero engata uma volta ao passado reconciliando-se com os Cunha Lima, que mantêm influência a partir de Campina Grande, ampliada pelos domínios da Capital em 2022 com a votação do ex-deputado Pedro Cunha Lima no páreo ao governo contra o próprio João Azevêdo. Na década de 90, Cícero foi vice-governador na gestão do poeta Ronaldo Cunha Lima, tendo exercido a titularidade por dez meses quando Ronaldo se desincompatibilizou do Palácio da Redenção para concorrer ao Senado. A mulher de Cícero, Lauremília, foi vice de Cássio Cunha Lima no primeiro mandato que este exerceu, a partir de 2003, derrotando Roberto Paulino e o PMDB do ex-governador José Maranhão. Os registros apontam que houve gestos de renúncia de Lucena em favor de Cássio em outras oportunidades, o que fez com que o sonho de Cícero em ser candidato ao Executivo fosse para o espaço. Preterido lá, o prefeito superou as frustrações do passado, confrontado com a preterição que hoje sofre no esquema de João Azevêdo. Não está claro, ainda, no que vai dar a atual movimentação do gestor pessoense para garantir ficha no jogo da sucessão estadual em 2026. São inúmeras as etapas a serem vencidas, a principal delas uma definição partidária já que Cícero divide o metro quadrado do PP com o grupo de Lucas Ribeiro, que é hegemônico na legenda e conta, ainda, com o deputado federal Aguinaldo e com a senadora Daniella. As ofertas ou os convites para filiação a outras legendas já se amontoam na mesa de Cícero, envolvendo legendas como o Avante, o PDT e, segundo versões, o próprio MDB hoje comandado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo, que é aliado dos Cunha Lima e pré-candidato à reeleição. São propostas em exame porque parece faltar, ainda, a Cícero, um ponto de inflexão que desate a sua parceria com o esquema governista e o jogue nos braços de uma oposição ávida por dissidências para anabolizar o seu projeto de retomada do poder. O contexto que se observa na Paraíba envolve outro protagonista de peso, o senador Efraim Filho, do União Brasil, que é candidatíssimo ao Palácio da Redenção e teve seu projeto turbinado pelo apoio do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, cravado pelas declarações da ex-primeira-dama Michelle e referendado pelo “SIM” do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que até então se anunciava pré-candidato a governador representando as forças de direita. Efraim já veste o figurino de candidato bolsonarista e tem se solidarizado com o ex-presidente no episódio da sua prisão domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Mas, embora Efraim e Veneziano estejam no mesmo bloco a nível local, entrincheirados na oposição sistemática ao governador João Azevêdo, eles não se afinam na questão da eleição presidencial. Veneziano é lulista de carteirinha, Efraim é anti-Lula e anti-PT, agora mais do que nunca, por ter pregado a devolução de cargos do União ao governo federal, incluindo ministérios. O ponto de partida de Cícero para cravar o distanciamento da base de João deu-se na plenária do Orçamento Democrático em Campina Grande, que ele boicotou, preferindo prestigiar o lançamento do curta-metragem “Habeas Pinho” em homenagem ao poeta Ronaldo Cunha Lima. Na mesa da sessão do ODE projetava-se em posição de destaque o vice-governador Lucas Ribeiro, expressamente autorizado pelo governador João Azevêdo a representá-lo. Para os analistas políticos, deu-se, ali, o divisor de águas, atestando que Cícero não reconhece legitimidade a Lucas para ser o candidato governista ao Palácio. O prefeito da Capital vinha insistindo na fixação de critérios justos para a escolha do candidato e advertindo que o “candidato natural” não é necessariamente “o candidato ideal” para vencer, mas tem pregado no deserto, já que não tem sido escutado nem dentro do PP nem junto ao entorno do governador na Granja Santana. Tudo conspira para que Cícero mude de lado no cenário político estadual. O que não está confirmado é que ele terá espaço na oposição para ser o candidato ao Executivo, em meio a nomes que são agitados nessa seara como o de Pedro Cunha Lima e o de Efraim Filho.
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