renovação política

Cássio sai de cena para facilitar a renovação. Um filme que ele já viveu! - Por Nonato Guedes

Cássio esteve ausente porque queria que Pedro assumisse o atestado de maioridade política, imprimindo seu estilo, suas ideias, sua filosofia, ao “novo PSDB” que ninguém sabe como virá. Foi uma das transições mais pacíficas de que se tem registro na crônica das recentes convenções com trocas de bastões em partidos políticos na Paraíba.

Embora continue sendo a figura mais emblemática do PSDB na Paraíba, com incursões valiosas pelo cenário nacional, o ex-senador Cássio Cunha Lima não foi à convenção de ontem, em João Pessoa, que referendou o nome do seu filho, o deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente da Comissão de Educação da Câmara, para dirigir os rumos da agremiação de agora em diante, com o desafio de reestruturar diretórios municipais e, mais do que isso, oxigená-los dentro da estratégia de adequação a um novo tempo. Cássio esteve ausente porque queria que Pedro assumisse o atestado de maioridade política, imprimindo seu estilo, suas ideias, sua filosofia, ao “novo PSDB” que ninguém sabe como virá. Foi uma das transições mais pacíficas de que se tem registro na crônica das recentes convenções com trocas de bastões em partidos políticos na Paraíba.

Pedro não se fez de rogado e deu o tom da linha oposicionista firme e altiva no âmbito paraibano, tendo como alvo principal o ex-governador Ricardo Coutinho, que embora sem mandato, como Cássio, comanda o PSB local e mantém influência ativa junto até mesmo a auxiliares da administração do governador João Azevêdo, remanescentes da Era dos Girassóis. O pano de fundo do discurso de Pedro mirou na Operação Calvário e ele foi duro ao alertar para os malefícios que atingiram a Saúde Pública, baseando-se em denúncias do MP e da Polícia Federal sobre desvios de recursos e até pagamento de propinas a secretários do governo paraibano por dirigentes de Organizações Sociais que foram contratadas nas gestões de Ricardo, dentro da perspectiva de um modelo de gestão pactuada de setores essenciais que ocasionaria eficiência na prestação de serviços à população carente – o que não necessariamente aconteceu.

Por coincidência, ou não, ontem, Ricardo abordou o assunto polêmico na primeira entrevista que concedeu a uma TV aberta, a Tambaú, desde que deixou o governo em 31 de dezembro de 2018. O que ele quis pontuar foi a sua indignação contra o que chamou de “espetacularização midiática” que expoentes do MP e de outros órgãos de investigação estariam fazendo ao cumprir mandados de busca e apreensão e executar ordens de prisão. Coutinho nega veracidade a acusações de desvio de dinheiro da Saúde, pelo menos com sua conivência e considera que há um complô para assassinar reputações. O ex-governador foi eloquente, como de hábito. Mas não explicou quem, afinal, é responsável pela sangria verificada nos cofres públicos. Deu a entender que há exagero nas denúncias ou acusações – embora o governador João Azevêdo tenha descredenciado OS como Cruz Vermelha e aceito pedidos de exoneração de secretários inquinados nas referências acopladas a investigações. Ricardo é um indignado com a “espetacularização midiática”. Pedro Cunha Lima é um indignado com “o escoamento, pelo ralo, de dinheiro que estava rubricado para cuidar da Saúde de paraibanos e paraibanas”.

Para além do lenga-lenga estadual, há de se notar que convenções do PSDB em outros Estados, ontem, reforçaram o sentimento de renovação e de oxigenação dos quadros tucanos, numa espécie de sinalização para a indispensável autocrítica acerca de erros cometidos. Este foi o tom de João Dória, que cada vez mais ocupa espaços no PSDB nacional, e até mesmo de figuras que já deveriam ter pendurado as chuteiras na intenção de disputar novos cargos eletivos, como Geraldo Alckmin, em cujo currículo falta o cargo de presidente da República, não obstante a caminhada empreendida desde que era chamado pejorativamente de “picolé de chuchu”, por insípido e inodoro que aparentava. A hora é dos Pedro – que, inclusive, antes de envergar o peso da responsabilidade de dirigir o ninho tucano na PB foi se aconselhar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, condestável da política brasileira, o estadista que Bolsonaro não consegue nem conseguirá ser. E autor, entre tantos livros, de “cartas a um jovem político – Para construir um país melhor”.

Nesse manual, que Pedro deveria guardar na cabeceira, há indicações didáticas para os jovens que sonham com a vida política como a missão transformadora. Fala, o livro, da necessidade de um processo contínuo de aperfeiçoamento e responde a dúvidas relacionadas à formação do político, desmistificando parte do que é a ciência política. Saber recuar quando necessário e, sobretudo, saber desenvolver o senso de oportunidade, estão entre as lições ministradas pelo professor Cardoso. Um livro que deveria interessar também à deputada estadual Camila Toscano, eleita junto com Pedro para tentarem construir um novo PSDB na Paraíba.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes