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Cássio é atropelado pelo fator surpresa - Por Júnior Gurgel

Certamente no seu imaginário – e do meio político - derrota sofrida em 2018 pelo grupo Cunha Lima, afastava qualquer perspectiva de um membro deste clã reunir condições para uma disputa municipal.

O prefeito de Campina Grande Romero Rodrigues construiu a maior obra da cidade dos últimos tempos: complexo habitacional ou cidade Aluisio Campos. Segurou o quanto pode o evento da inauguração – entrega das quatro mil unidades habitacionais – na certeza que este “momento” o consagraria historicamente como a maior liderança política da Rainha da Borborema, isolando-se dos demais, e ganhando fôlego para no início do próximo ano, lançar seu candidato a sucessão. Certamente no seu imaginário – e do meio político – derrota sofrida em 2018 pelo grupo Cunha Lima, afastava qualquer perspectiva de um membro deste clã reunir condições para uma disputa municipal.

E o que se passava pela cabeça de Cássio Cunha Lima? Eleito aos 21 anos deputado federal Constituinte, iniciou uma jornada sucessiva e ininterruptas de vitórias por uma longa temporada de 28 anos. Prefeito de Campina Grande, três vezes; deputado federal duas vezes; governador do Estado duas vezes; senador da República um mandato. Seu primeiro tropeço (derrota) foi em 2014. Mesmo assim, venceu o governador candidato a reeleição Ricardo Coutinho no primeiro turno. No segundo, perdeu por mais de 120 mil votos.

Em 2018, ao tentar renovar seu mandato para o Senado, foi atingido por um tsunami: Ricardo Coutinho “obrando milagres” avançou nos redutos “Cassistas” e sem piedade o deixou na quarta posição – última – dos que disputaram as duas vagas. Perdeu até em Campina Grande para Daniella Ribeiro, muito embora tenha ficado bem a frente de se concorrente direto, Veneziano Vital do Rego. Entretanto foi “atacado” pelo desconhecido Luís Couto, que lhes arrancou 44 mil votos.

O Marechal “tempo” transformou os “milagres” de Ricardo Coutinho num “calvário”. Está sendo castigado por ter saqueado os cofres públicos. Da Cruz Vermelha foram desembolsados 200 milhões de reais para compra de votos. Estimado em 100 reais – per capita – compraram o equivalente a dois milhões de sufrágios.

Além da Cruz Vermelha, já estão surgindo nomes de dezenas de empresas, através das delações premiadas dos envolvidos no maior “esquema” de corrupção da história da Paraíba, estimado pelo GAECO em dois bilhões de reais desviados nos últimos oito anos. Evidente que a visão deste quadro, só pode ser observada agora, depois da prisão e confissões de membros da quadrilha. No pós-campanha de 2018, todos atribuíram a derrota de Cássio, ao cansaço de sua liderança. Esqueceram até de mencionar a “maquina” do Estado usada como “Blitzkrieg”, cujo alvo principal era varrer a resistência “tucana” em todos os redutos da Paraíba.

Sob a ótica de Ricardo Coutinho, a reeleição de Cássio Cunha Lima, ameaçaria seu projeto de voltar ao governo em 2022, passando antes pela PMJP. Para tanto, faltou-lhes coragem de renunciar e disputar uma das vagas do Senado. Talvez este tenha sido o motivo de sua ira: ficar imobilizado, sem mandato e agora sem prerrogativa de foro. Cássio, num tom de desabafo, declarou precipitadamente que estava mudando seu domicilio para Brasília, deixando subentendido que havia abandonado da vida pública.

A ironia do destino, considerado como “fator” surpresa no dia 11/11/2019 – não “elemento” surpresa que é cuidadosamente preparado e planejado – inverteu completamente as expectativas de toda a classe política de Campina Grande e da Paraíba. O primeiro episodio foi à descortesia “oficial” do governador João Azevedo, que deveria ter ido receber o Presidente da República no Aeroporto, devolvendo a gentileza que teve Jair Bolsonaro em recebê-lo em audiência no Palácio do Planalto. Um ato de grosseria. O segundo equivoco foi do Senador Veneziano Vital do Rego, que não soube explorar politicamente a ocasião, oportunidade que destacaria a “paternidade” da obra: governo petista de Dilma Rousseff, hoje sua aliada.

Romero Rodrigues, que deveria ter chegado ao lado de Cássio, talvez tenha avaliado que o ex-senador estivesse com receio de ser apenas um a mais no palanque, completamente perdido no tempo, sem o velho aconchego do povão. Todos erraram e só Cássio que chegou cautelosamente temendo ser percebido, foi ovacionado de modo emocionante como nos velhos tempos e com rasgados elogios de Bolsonaro.

Curioso, imprescindível e imprevisível é a troca repentina de projetos, e o mapa que começa a se redesenhar nas hostes Cunha Lima. Se Romero Rodrigues guardava sob a manga um candidato a sua sucessão, a preferência agora é do ex-senador Cássio Cunha Lima. Enivaldo Ribeiro pode ser o vice de Cássio, tem direito a uma reeleição. Só, Veneziano jamais enfrentaria Cássio Cunha Lima. Caso venha disputar e vencer o pleito, aquilo que foi planejado por Ricardo Coutinho, quem executará será Cássio Cunha Lima. João Azevedo não terá estrutura para enfrentar o governo federal e provavelmente até 2022, Ricardo Coutinho esteja inelegível.

Cássio Cunha Lima doravante tem que “assoprar” a fogueira, e não deixar a chama baixar. Não repetir o erro cometido em 2014, quando por três anos afirmou que não seria candidato ao governo e apoiaria a reeleição de Ricardo Coutinho. Deixou para se lançar sete meses antes do pleito, perdendo parte de seu Exército e ganhando o estigma e discurso de traidor.

Fonte: Júnior Gurgel
Créditos: Júnior Gurgel