Paraíba - Já se sabe que a disputa ao Senado em 2026 na Paraíba será extremamente competitiva e com inúmeros candidatos em busca de duas vagas que estarão em jogo. Pelo bloco oficial estão lançadas as pré-candidaturas do governador João Azevêdo (PSB) e do prefeito de Patos, Nabor Wanderley (Republicanos), pai do deputado Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados. Pela oposição tradicional avulta a candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) à reeleição, compondo a chapa a governador que deverá ser encabeçada pelo senador Efraim Filho (União Brasil). Na oposição bolsonarista estão postas as pré-candidaturas do deputado federal Cabo Gilberto Silva (PL) e do procurador e pastor Sérgio Queiroz (Novo), ladeando a candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ao Executivo. O Cabo Gilberto aposta todas as fichas na chance de se tornar um azarão no páreo e conquistar uma cadeira majoritária, reforçando o bloco bolsonarista na Casa Baixa.
Na história recente da política local “azarões” se projetaram ao Senado desbancando um líder popular, o ex-governador Wilson Leite Braga. Em 86, Braga afastou-se do governo para ir buscar um mandato que lhe faltava num currículo vitorioso. Havia sido eleito governador em 82 com vantagem de 151 mil votos sobre Antônio Mariz, espécie de reserva moral do cenário paraibano, que concorria pelo PMDB após liderar dissidência na Arena, que teve como sucedâneo o PDS. As projeções iniciais apontavam favoritismo de Wilson ao Senado, mas eis que uma reviravolta no quadro mudou a direção do radar. A reviravolta consistiu na migração do então deputado federal Tarcísio Burity do PFL para o PMDB, onde foi prontamente adotado como candidato a governador em substituição a Humberto Lucena, que preferiu optar pela reeleição ao Congresso. Além de Humberto, compôs a chapa ao Senado um empresário do ramo automobilístico, Raimundo Lira, com base em Campina Grande e ramificações no Sertão, que era neófito em política. Ganharam Humberto e Lira, com este no papel de azarão e de “algoz” do ex-governador Wilson Braga, que foi forçado a lamber as feridas de uma derrota traumática na sua carreira.
Mais tarde, em 2002, Wilson Braga foi novamente derrotado a senador, perdendo a vaga para o então deputado federal Efraim Moraes, que “colou” na campanha de Cássio Cunha Lima ao governo, vitoriosa em segundo turno no confronto com o então governador Roberto Paulino, do PMDB. Efraim dividiu o mapa ao Senado com José Maranhão, que havia se desincompatibilizado do Executivo após ser beneficiado pela reeleição que o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) introduziu no cenário com o apoio do Parlamento. Maranhão, vale recordar, havia assumido a titularidade do cargo em 1995 com a morte de Antônio Mariz, de quem era vice-governador, e teve a possibilidade de concorrer à reeleição num golpe de sorte, pois seu mandato coincidiu com a aprovação da inovação pelo Congresso Nacional, em meio a denúncias de compra de votos de parlamentares para o êxito da matéria. Lira e Efraim Moraes foram eleitos uma só vez ao Senado, sendo que Lira ainda voltou à titularidade como suplente de Vital do Rêgo, completando o mandato face a nomeação deste para o Tribunal de Contas da União. Moraes deixou como herdeiro o filho, também Efraim, que tem atuação destacada e preside a Comissão Mista de Orçamento do Congresso.
Para 2026, além do Cabo Gilberto Silva, há outros “candidatos a azarão”, na opinião de analistas políticos, como o prefeito Nabor Wanderley e o pastor Sérgio Queiroz. Alega-se que na hipótese de a direita conquistar uma cadeira senatorial pela Paraíba o contemplado pode vir a ser o militar, não o pastor, dada a sua projeção estadual, feito que Sérgio Queiroz não igualou ainda. Intelectualmente, Queiroz é mais preparado para a discussão de temas nacionais, mas comparado ao Cabo Gilberto ele chega a ser tratado como “elitista” por parcelas do eleitorado. De resto, a corrida ao Senado para 2026 começa inteiramente embolada. Pode acontecer de João e Nabor se elegerem em dobradinha, como pode acontecer de o eleitorado privilegiar João e Veneziano na contagem final. São várias as possibilidades – que estarão condicionadas, ainda, à conjuntura nacional, já que além da disputa presidencial a corrida ao Senado nos Estados virou prioridade dos esquemas de Lula e de Bolsonaro para ampliar espaços de poder no país. É nesse contexto que azarões poderão ter chances inesperadas no jogo.
Opinião