Opinião

Aliados políticos confirmam “sonho” de Motta com o Planalto - Por Nonato Guedes

Hugo Motta
Foto: Reprodução/ Câmara dos Deputados

Repercutiu nos meios políticos paraibanos a divulgação de reportagem do UOL, reproduzida pelo “Polêmica Paraíba”, sobre a estratégia do deputado Hugo Motta, do Republicanos, presidente da Câmara Federal, para se projetar no cenário político nacional, ambicionando cargos mais altos e pretensões ousadas como a de compor uma chapa à Presidência da República em eleições vindouras. A reportagem de Felipe Pereira fala que, além da estratégia, há um investimento milimetricamente calculado, nas redes sociais de Hugo Motta, demonstrando que ele tem planos mais audaciosos do que comandar deputados pelos próximos dois anos. As postagens feitas na comunicação com eleitores caracterizam-se por apuro e qualidade técnica, que revelam digitais de um trabalho de construção da imagem e esmero na produção. A equipe recrutada por Motta é, de longe, uma das mais competentes na geração de conteúdo de marketing, aproveitando o advento e a força das redes sociais como instrumentos de comunicação.
Entre aliados políticos de Hugo Motta na Paraíba essa percepção dos movimentos do parlamentar já vinha sendo acompanhada a partir de investidas suas na abordagem de temas nacionais, deixando de focar sua pauta, com exclusividade, nos problemas paroquiais do Estado onde atua e buscando ampliar o raio de interlocução com protagonistas da cena nacional, a exemplo de lideranças empresariais e figuras de destaque no círculo do poder, no meio político. Uma faceta de Hugo é mostrar-se aplicado nos ensinamentos que colhe, aprimorando técnicas de compartilhamento de informações e de experiências dos líderes que admira. As recentes viagens internacionais integrando comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) constituíram aprendizado relevante para Hugo, não só do ponto de vista da imersão em temas densos da geopolítica mundial mas do ponto de vista da observação da atuação do próprio mandatário no diálogo com chefes de Estado que dirigem o mundo. O paraibano reparou até nos pequenos detalhes do comportamento de Lula, como a disciplina adotada pelo presidente para alternar atividade com descanso nesses roteiros estafantes.
Lá atrás, como discípulo do então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se elegeu presidente da Câmara e detonou o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Hugo Motta aprendeu muitas lições sobre a condução maquiavélica do poder. Ele chegou a confessar a este repórter que não tinha como não ser grato a Eduardo Cunha, que foi quem lhe abriu portas em Brasília no momento em que ele, Hugo, era um deslumbrado estreante na carreira política, chegado das terras do interior da Paraíba, no Nordeste estigmatizado pelas secas e pela “indústria” de favorecimento a políticos de todos os matizes. O apoio de Cunha foi fundamental para sua ascensão em meio a “cobras criadas” da política brasileira que frequentam o Parlamento – e ainda recentemente, na eleição de Hugo à presidência da Câmara, o seu “padrinho” reapareceu atuante nos bastidores, reforçando a estratégia certeira que resultou na vitória do paraibano para suceder a Arthur Lira (PP-AL), este também influente na ascensão fulminante do filho do prefeito Nabor Wanderley.
Há poucos dias, falando à imprensa de João Pessoa, o deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa e liderado de Motta no Republicanos, elogiou o presidente da Câmara como um quadro político fadado à projeção nacional. A seu ver, Hugo tem reunido credenciais que o habilitam a voos maiores que não se restringem à conquista do governo do Estado, também honrosa para ele, mas certamente apenas um degrau na escalada de quem ambiciona mais. Foi por acreditar que Motta está predestinado a outras missões grandiosas que Adriano Galdino voltou a colocar seu nome como opção para concorrer ao Palácio da Redenção. O pai, Nabor, e a avó, deputada estadual Francisca Motta, apostam em ascensão espetacular. A assessoria do parlamentar discorda da máxima de que Presidência seja destino ou missão, encarando a política como uma carreira, com a faixa presidencial ao alcance de quem se preparar. Hugo prepara-se para a eventualidade de ascender à Presidência.
Seu nome já ultrapassou em muito as fronteiras da Paraíba – e a qualquer momento, numa manobra política de deferência do presidente Lula, ele pode ser investido na cadeira titular do Palácio do Planalto, ainda que interinamente, o que seria um estágio probatório significativo para suas ambições. No paralelo, agita-se o nome do presidente da Câmara como opção para candidato a vice-presidente, em chapa que tanto pode ser encabeçada por Tarcísio de Freitas (SP), por Ronaldo Caiado (GO) ou, mesmo, pelo presidente Lula. O atual presidente da República já pressentiu que Hugo é a novidade, com todos os defeitos decorrentes de acidentes de percurso na trajetória política. É um caso raro de metamorfose que se alimenta da combinação de fatores, entre os quais o cansaço com a polarização e a ansiedade por cara nova na envelhecida paisagem do poder no território brasileiro.