Opinião

Aliados não dão trégua e pressionam Azevêdo a “zerar o jogo” - Por Nonato Guedes

Foto: Divulgação
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A movimentação política com vistas à disputa eleitoral de 2026 é incessante na Paraíba, o que torna o Estado singular no panorama político nacional diante da produção diária de fatos e especulações, com mais intensidade na base governista, como se a campanha estivesse desatada a céu aberto, as convenções já tivessem sido realizadas pelos partidos e os candidatos estivessem todos definidos – quer a governador, a vice-governador, a senadores e mesmo a suplentes de senadores. Em nenhum outro Estado transcorre cenário parecido e efervescente, com pré-candidatos se auto-lançando à revelia de pesquisas confiáveis, reivindicando direitos que não estão bem delineados e desafiando cúpulas partidárias e chefes políticos credenciados, numa subversão hierárquica sem precedentes em meio a movimentos pândegos desconexos e incoerentes que deixam o eleitor comum em situação de perplexidade, embora com a sensação de estar assistindo a um arremedo de espetáculo circense. Aliados do governador João Azevêdo (PSB) que pretendem a indicação para candidato à sua sucessão não dialogam internamente, na costura de apoios para se viabilizarem – como era o figurino. Inverteram a lógica ritual do processo político e correram à mídia para se dizer pré-candidatos de si mesmos, determinados, obstinados pela fixação de alcançar o poder e convictos de que chegou a sua hora. Mandam às favas os critérios, até mesmo alguns escrúpulos e falam sempre em tom contundente, como se fossem donos de legendas, controlassem as verbas do fundo partidário destinadas a campanhas eleitorais e tivessem, de fato, assegurada a prerrogativa da indicação. Constituem a nova safra de políticos – os franco-atiradores, com ampla e total liberdade para se posicionar, rebelados contra a rotina de decisões das cúpulas e os votos em diretórios ainda indispensáveis para validar nomeações de postulantes. Na definição de um político experimentado, com registro de dez eleições nas costas, é um cenário absolutamente surrealista, que não deixa de ter lances folclóricos, pitorescos ou caricatos.

No bloco de João Azevêdo, a pressão de pré-candidatos como o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, do PP, e o deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, do Republicanos, parece ensaiada com o objetivo de levar o governador a “zerar o jogo”, em face das suspeitas de que o chefe do Executivo estaria inclinado a ungir como candidato o vice-governador Lucas Ribeiro, também do PP. Por mais que João Azevêdo declare que não há definições nem favoritismos e que o martelo será batido em conjunto com os expoentes dos diferentes partidos da base, isto em nada arrefece o ânimo ou o espírito de confronto dos auto-proclamados pré-candidatos ao Palácio da Redenção. Ainda ontem, Cícero abalou-se até Brasília para consultar o “VAR” político do seu grupo – o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, que é o condestável maior do Progressistas, sobre os limites da aventura e as tendências que estão se firmando no horizonte.

Ora, essa iniciativa de Cícero já deveria ter sido tomada há bastante tempo, sendo, talvez, a primeira que se lhe recomendasse diante da perspectiva de um conflito nas hostes do PP e da primazia que Lucas teria no páreo como “candidato natural” pela circunstância de que assumirá a titularidade. Faltou, também, habilidade do deputado Aguinaldo Ribeiro para pacificar internamente o partido que comanda, deixando as coisas fluírem até que o caldo entornasse e que o caldeirão explodisse. Omisso também tem sido o deputado Hugo Motta, presidente do Republicanos, que nem delega responsabilidades (já que tem muitos desafios na presidência da Câmara) nem concilia interesses ou apetites dentro do agrupamento que lidera. Esse núcleo da base de João Azevêdo tem falhado clamorosamente na articulação política, contribuindo para desgastar a atuação do próprio chefe do Executivo em prol da unidade e abrindo flancos para investidas da oposição, que passaram a ser recorrentes.

A nível de opinião pública, a pressão cerrada que é exercida sobre o governador João Azevêdo começa a repercutir negativamente para os que se denominam aliados do gestor socialista, até em virtude dos reflexos colaterais que essa peleja política passou a ter, atrapalhando o ritmo das ações administrativas que precisam ser conduzidas dentro do planejamento elaborado pelo governante. Não há maior colaboração de certos agentes políticos da base com a execução de metas administrativas – mas sobram gestos de oportunismo político em que pretensos pré-candidatos vão a eventos públicos oficiais para tirar proveito de imagem, aproveitando os holofotes da mídia. Toda essa conjuntura poderá acabar levando o governador João Azevêdo a uma decisão extrema: permanecer até o último dia do mandato na Granja Santana, deixando de concorrer a uma vaga ao Senado, que seria coroamento da trajetória política até aqui ensaiada. E, quanto à perspectiva do governo manter sua hegemonia no poder, começa a virar hipótese em virtude de um ambiente insustentável de desunião como poucas vezes se verificou na história política estadual. Ainda há tempo para o bom senso – resta saber se há disposição sincera para tanto entre aliados do governador.