Para todos os efeitos, sobretudo para o efeito de propaganda externa, o ex-presidente Jair Bolsonaro segue no papel de pré-candidato do PL à Presidência da República em 2026, aglutinando forças da direita conservadora que combatem o PT e o governo do presidente Lula da Silva.
Mas, como seguro morreu de velho, os bolsonaristas, dentro e fora do PL, examinam alternativas para o páreo e, de forma recorrente, se voltam para o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é do Republicanos.
A dobradinha Tarcísio-Michelle Bolsonaro (para vice) vem ganhando força dentro do PL, apoiada por uma ala que, segundo o UOL, é mesclada – junta políticos mais e menos ideológicos. A premissa levada em conta é a da inelegibilidade do ex-presidente, senão sua prisão.
Os defensores da dobradinha Tarcísio-Michelle avaliam que a chapa representaria para o eleitor um lado técnico e “forte nos costumes”. Michelle ganhou confiança de segmentos da legenda por representar um nome da confiança de Bolsonaro e por ela ser ligada à chamada pauta de costumes, que divide a sociedade e, muitas vezes, encurrala o governo e o Judiciário.
Além disso, a ex-primeira-dama organiza e participa desde 2023 de uma série de encontros em todo o país com grupos de mulheres de direita. Sua presença é igualmente requisitada por políticos que pretendem concorrer a cargos majoritários e proporcionais nos Estados, dentro da lógica de transferência de votos, apesar de se tratar de um raciocínio relativo em disputas eleitorais que nem sempre se aplica como regra geral, mas como exceção em casos específicos.
Michelle ganhou destaque na semana passada depois de repercussão da reportagem do UOL que teria incentivado a demissão do ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, a quem coube cuidar da comunicação do ex-mandatário nos últimos anos.
Mensagens no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que expunham críticas e ironias à ex-primeira-dama, revelaram que Wajngarten concordava com elas. O episódio expôs o fortalecimento da ex-primeira-dama como sucessora do marido.
Nas mensagens trocadas em 27 de janeiro de 2023, Wajngarten encaminha a Cid uma notícia de que Michelle estava sendo cotada pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, para concorrer à presidência, ao que o Cid teria respondido: “Prefiro o Lula”. Wajngarten responde: “Idem”.
Rosana Valle, presidente da Executiva Estadual do PL Mulher de São Paulo, afirma que a ex-primeira-dama tem ocupado um espaço que sempre esteve vago e que possui boa interlocução com as mães e com as causas sociais.
Para a deputada federal, o trunfo de Michelle é o que classifica de “distância” da postura dura e inflamada que tem assinalado o comportamento de expoentes do PL e da direita.
“Isto tem um impacto profundo, sobretudo, entre as mulheres que se sentem deslocadas do debate público por não se identificarem com os estilos tradicionais. Sendo assim, é natural que o nome de Michelle surja com força diante do cenário de incerteza quanto à elegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro”, avalia Rosana.
Desde a segunda metade de 2022 Michelle passou a ter papel central na campanha do marido na busca pelo voto feminino e na quebra da resistência que ele, ainda como candidato a presidente, enfrentava junto a este eleitorado.
Tarcísio de Freitas, por sua vez, é tido como sucessor natural dos votos de Bolsonaro, caso ele não concorra. Recentemente, no lançamento de um programa de enfrentamento à pobreza em São Paulo, o governador evocou termos bíblicos e palavras como “fé” e “crença” para um auditório lotado no Palácio dos Bandeirantes.
“A gente está falando de legado, a gente está falando de galardão perante Deus porque a melhor maneira de servir ao Senhor é fazer a diferença”, afirmou ele.
Tarcísio disse ainda que não olha para os grupos políticos mas enfatizou diferenças em relação ao modelo petista. O governador usou termos como “prosperidade”, repetidos por candidatos de direita que buscam se aproximar de trabalhadores com um viés diferente daquele utilizado pelo campo da esquerda.
A impressão é de que o chefe do Executivo paulista está deflagrando uma pré-campanha à Presidência, depois de ter insistido em jurar que seu projeto para 2026 seria o de concorrer à reeleição em São Paulo.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba