O deputado federal Aguinaldo Ribeiro, dirigente do Progressistas na Paraíba, agitou os meios políticos com declarações explosivas que confrontaram a movimentação extra-partidária do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, para viabilizar uma candidatura ao governo do Estado nas eleições do próximo ano. Para Aguinaldo, Cícero cravou um ponto fora da curva ao buscar diálogo com figuras como os senadores Efraim Filho, do União Brasil, pré-candidato da oposição ao Executivo, e Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que faz oposição ao esquema liderado pelo governador João Azevêdo. Também contestou articulações isoladas que estão sendo conduzidas pelo presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, do Republicanos, na perspectiva de também se viabilizar como postulante ao Palácio da Redenção, embora a cúpula do seu partido, presidida por Hugo Motta, não tenha dado aval a essas incursões. O posicionamento de Aguinaldo foi encarado como uma tentativa de “enquadrar” filiados do PP no debate do processo sucessório-eleitoral e, ao mesmo tempo, legislar em causa própria para assegurar espaços ao seu sobrinho, o vice-governador Lucas Ribeiro, que também está no circuito das articulações em “modo turbo”, com a aparente simpatia do governador João Azevêdo dentro da lógica de que ele seria “candidato natural” pela chance que tem de ser titular do cargo com a desincompatibilização do gestor para concorrer ao Senado. Cícero tem questionado a “falta de critérios” mais objetivos na definição da candidatura ao governo, citando como fator a ser levado em conta a sinalização de pesquisas de intenção de voto que já estão sendo divulgadas e nas quais ele aparece na liderança absoluta junto ao eleitorado paraibano. A verdade é que a mobilização de Lucena tem incomodado porque se dá de forma independente, longe do alcance das amarras da ditadura de cúpulas partidárias.
Aguinaldo, cujas declarações foram consideradas “duras” pelo deputado Adriano Galdino, que recomendou ponderação ao prefeito Cícero Lucena, justifica que a cúpula do Progressistas foi correta com o gestor da Capital, oferecendo-lhe a legenda em momento de ostracismo político para uma reabilitação em alto estilo no cenário local. Esses gestos possibilitaram a Cícero eleger-se novamente à prefeitura em 2020 e dispor de toda a estrutura possível para concorrer à reeleição, em que foi consagrado no segundo turno do pleito de 2024, disputado contra o médico Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro. Em paralelo, o filho de Cícero, deputado federal Mersinho Lucena, tem sido prestigiado dentro da legenda e, inclusive, cogitado para compor chapa majoritária dentro do esquema do governador João Azevêdo, estando inteirado de movimentos de bastidores sobre a formação final que a chapa vai tomando para o próximo ano no bloco oficial.
O ambiente de “desinteligência” na base governista recrudesceu esta semana com a revelação, por Cícero, da oferta que recebeu de siglas interessadas em propiciar suporte a uma provável candidatura sua ao Palácio da Redenção – a última delas partindo do PSDB, ao qual Lucena foi filiado por cerca de duas décadas e no qual ingressou acompanhando o grupo Cunha Lima quando este rompeu com a liderança do falecido ex-governador José Maranhão e “desembarcou” das fileiras do antigo PMDB. O convite do PSDB a Cícero, agora, teve apenas valor simbólico, já que o partido está em processo de desidratação e até mesmo de definhamento a nível nacional, e na Paraíba não gera expectativas de poder, inobstante em 2022 o então deputado federal Pedro Cunha Lima ter avançado para o segundo turno no duelo que perdeu para João Azevêdo, em estágio de reeleição. Outras legendas como o PDT e o Avante (este comandado pelo ex-prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo, secretário de Turismo da gestão de Cícero na Capital) se abriram para o alcaide pessoense, havendo quem cogite, também, o MDB como alternativa. Mas não há avanço nas tratativas e nem houve, até agora, disposição de Cícero em deixar o PP. É fora de dúvidas que a recente “blitzkrieg” do deputado Aguinaldo Ribeiro foi contundente – e, na opinião de alguns analistas, agravou ainda mais a situação ao invés de contribuir com um aceno de unidade. Diz-se nos meios políticos que o irmão da senadora Daniella Ribeiro quis apagar fogo com gasolina, extrapolando o seu habitual estilo comedido nas falas sobre decisões políticas relevantes. Mas Aguinaldo parece ter vindo “turbinado” com os rumores de que o comando da federação União Progressista caminha para ficar com o PP que ele dirige, não com o agrupamento que o senador Efraim Filho lidera. De concreto, a temperatura política na Paraíba elevou-se vertiginosamente nas últimas horas, com estilhaços da entrevista de Aguinaldo para todos os lados. Fontes próximas ao parlamentar asseguram que ele veio decidido a pôr ordem na casa – ou, se quiserem, a chamar o feito à ordem. Sua fala equivaleu a um soco na mesa num esforço para dotar o debate do mínimo de racionalidade e de coerência, se é que isto é possível dentro da Torre de Babel em que se transformou o bloco governista, pela concorrência de ambições e pretensões e pela ausência de espírito de renúncia. O grupo Ribeiro entrou no jogo para valer – e só Deus sabe o que vai rebentar com essa sangria desatada, com esse clima de autofagia corroendo a base.