Opinião

Adriano rema contra a maré mas segue na jornada ao governo - Por Nonato Guedes

Adriano rema contra a maré mas segue na jornada ao governo - Por Nonato Guedes

Chama a atenção dos meios políticos paraibanos a cruzada empreendida pelo deputado estadual Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, para se impor no páreo como candidato ao governo nas eleições de 2026. Ele não agregou o apoio oficial do seu partido, cuja cúpula indica compromisso com a pré-candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro (PP), não tem grande receptividade junto à base do governador João Azevêdo (PSB) e não avançou no movimento para ter o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT) a despeito de se apresentar como “único candidato lulista”, pela defesa ostensiva que faz da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Qualquer outro pretendente, confrontado com esse cenário de adversidades, já teria jogado a toalha e procurado se compor com outros pré-candidatos viáveis. Na base liderada por João Azevêdo, além de Lucas Ribeiro, articula-se para obter a indicação o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, também do PP, que alega estar liderando pesquisas de intenção de voto, realizadas informalmente, além de possuir experiência administrativa comprovada, até por já ter exercido a titularidade do Executivo estadual durante dez meses, complementando o mandato de Ronaldo Cunha Lima no início da década de 90. Adriano, todavia, mostra-se no perfil de pré-candidato persistente, que não entrega os pontos e chega a dobrar a aposta em que levará adiante o seu projeto personalista, convencendo eleitores e cúpulas partidárias de que merece a chance de concorrer em pé de igualdade com postulantes de sobrenomes ilustres, vinculados a famílias e grupos tradicionais do cenário político local. Galdino tenta se diferenciar dos concorrentes apresentando-se como “filho do povo” e comparando a sua trajetória, guardadas as devidas proporções, obviamente, com a do presidente Lula, pelas origens humildes e pela guinada espetacular que imprimiu a seu roteiro de vida, saindo do Nordeste como retirante anônimo para destacar-se em São Paulo como líder metalúrgico, a partir daí abrindo-se para ele as portas da atividade política em que persevera, alternando mais vitórias do que derrotas e tendo protagonizado situação épica ao deixar a prisão para voltar à Presidência da República. É, sem dúvida, uma biografia inspiradora, que ultimamente levou o próprio Adriano a visitar o itinerário palmilhado por Lula a partir da localidade de Caetés, no interior de Pernambuco, em demanda do Sul e, na sequência, a caminho do Palácio do Planalto, onde cumpre o terceiro mandato. Lula motiva também porque, apesar da idade, será candidato à reeleição, tonificado, segundo diz, por uma energia que se casa com o traço resiliente do nordestino.

Para além das suas admirações no campo da política brasileira, o deputado Adriano Galdino tem procurado construir na Paraíba uma biografia fadada a triunfos nas urnas e na hierarquia do poder. Bateu recorde como presidente do Poder Legislativo Estadual, graças à habilidade com que costurou junto aos colegas parlamentares a sua eleição ao comando da Casa de Epitácio Pessoa por vezes consecutivas. Projetou-se como quadro importante no asseguramento da governabilidade estadual, conduzindo diretamente em plenário a aprovação de projetos e matérias de interesse do Poder Executivo. Equilibrou essa postura com a defesa inarredável dos mandatos e das prerrogativas parlamentares, não permitindo que a Assembleia ficasse diminuída um centímetro sequer nas competências que lhe são devidas, consignadas que estão em lei ou na Constituição, que é a Carta Maior. Tem se empenhado em aproximar cada vez mais a Assembleia da sociedade, promovendo sessões itinerantes que aprofundam o debate dos problemas das regiões e dos municípios e subsidiam a ação junto ao Executivo no encaminhamento para a solução de demandas. Este é o portfólio que exibe como credencial para postular o comando do Executivo.

Com sua cruzada – que a alguns parece quixotesca, na realidade de poder verificada na Paraíba – Adriano Galdino diferencia-se de outros dirigentes do Legislativo que não empalmaram com tanta convicção a pretensão de ascender ao Palácio da Redenção. Ele opera, de fato, um corte na história das relações de poder no Estado e cria para os seus colegas deputados a perspectiva concreta de pularem da ante-sala do governo para o salão principal, incensados pelo voto popular. Há casos de parlamentares que já estão atrelados a outros nomes postos no radar da sucessão estadual para o próximo ano, mas um grande número respalda e estimula a caminhada de Adriano, mesmo sem certezas quanto ao desfecho que ela terá. Para o presidente da ALPB, eleger-se governador virou uma obsessão, uma meta a ser alcançada, e, segundo assessores seus, ele tem seu próprio cronograma para tentar viabilizar a ambição. Deverá persistir na ofensiva até o final do ano, na expectativa de que as pesquisas sejam generosas com seu esforço e lhe assegurem, pelo menos, dois dígitos no confronto com outros postulantes. Também aguarda um aceno qualquer de Brasília – quem sabe, do próprio presidente Lula, como incentivo para não abrir mão do sonho que tem proclamado aos quatro cantos da Paraíba.