Opinião

A saga do (P)MDB e o papel de Humberto nas lentes de Agnaldo - Por Nonato Guedes

A saga do (P)MDB e o papel de Humberto nas lentes de Agnaldo - Por Nonato Guedes

Será amanhã, às 19h30, na Livraria A União, no Espaço Cultural, o lançamento do livro-ensaio “PMDB – Um partido só cresce quando está inteiro”, de autoria do jornalista Agnaldo Almeida (in memoriam), um dos mais brilhantes profissionais de imprensa da Paraíba. O texto foi vencedor do Prêmio Humberto Lucena, instituído pelo partido, e resgatado por iniciativa da jornalista Naná Garcez, presidente da Empresa Paraibana de Comunicação, que foi companheira de Agnaldo. Conta com prefácio deste colunista, enfocando a acurada anatomia do PMDB e de Humberto na realidade local e com apresentação da ex-deputada Iraê Lucena, filha do ex-senador, que ressalta a fidelidade partidária e o desprendimento político do pai, que por duas vezes presidiu o Senado Federal, foi deputado estadual e deputado federal atuante, e abriu mão, em seguidas oportunidades, do direito de candidatar-se ao governo do Estado. Como ele mesmo disse, em entrevista, a maior frustração da sua vida pública foi não ter realizado o sonho de governar o seu Estado.

Com perícia de garimpeiro, Agnaldo Almeida reconstitui a jornada do (P)MDB desde sua primeira disputa em 15 de novembro de 1966, com a vigência do bipartidarismo, imposto pelo regime militar de 64 no rastro da extinção de inúmeras legendas que pontificavam no cenário institucional brasileiro. O então MDB, em 1966, elegeu Ruy Carneiro para o Senado, derrotando Aluízio Afonso Campos, lançado pela Arena, cujo chefe principal era o governador João Agripino Filho. Como pontua Agnaldo, para esse desempenho, contribuiu, entre outros fatores, a união que o partido começou a exercitar, já que em 65, no páreo ao governo, haviam ocorrido problemas decorrentes de divergências internas. “O PMDB do Estado não se desmantelou de vez (…) apesar das arengas e hostilidades internas, justamente porque desde a campanha de Ronaldo (Cunha Lima) até a eleição de (Antonio) Mariz o partido seguiu o bom senso de Humberto. Bebeu na sua sabedoria e deu um “nó cego” na sua estrutura(…)”, escreveu Agnaldo Almeida.

No trabalho premiado avulta a figura do senador Humberto Lucena “na constelação de luminares que pontificaram numa legenda que se testou na oposição e no oficialismo, em sintonia com os tempos que assinalaram esse estágio valioso de aprendizado político”, anotei no prefácio. Humberto era um líder político conciliador e, como dirigente partidário na Paraíba teve a habilidade de preparar o (P)MDB para derrotar um esquema que parecia encastelado no governo do Estado e, consequentemente, provocar a alternância desejada por parcelas expressivas do eleitorado. Foi assim que atraiu dissidentes do partido governista para candidatá-los ao Palácio da Redenção, como se deu com Antonio Mariz, derrotado por Wilson Braga em 1982, e com Tarcísio Burity, triunfante em 1986 contra Marcondes Gadelha. Sobre a fotografia de 86, Agnaldo crava acertadamente que constituiu “vitória de Pirro”, dado a desinteligências de Burity com o PMDB e rompimento do governador com Humberto Lucena.

O partido se reencontrou na plenitude dos seus quadros em 1990, com a eleição de Ronaldo Cunha Lima, cuja liderança vinha sendo forjada a partir de Campina Grande, onde foi eleito prefeito duas vezes (na primeira, apeado do cargo pela ditadura militar). Ronaldo já havia tentado, em 82, ser o candidato ao governo estadual e renovou essa pretensão em 1986, sem lograr êxito, até que em 90 assumiu o projeto como irreversível e entregou resultados, suplantando em segundo turno o ex-governador Wilson Leite Braga, que havia derrotado Mariz em 82 por 151 mil votos de vantagem. As lentes de Agnaldo percorrem, com imparcialidade, os acontecimentos que plasmaram a jornada do PMDB rumo ao poder e fazem justiça ao “timoneiro” Humberto Lucena, que “conservou, até o fim, o espírito partidário”. Tinha vocação para bombeiro, ou, como defini certa vez, para ser “algodão entre cristais” em meio às crises temporais enfrentadas pelo partido.

Para a ex-deputada Iraê Lucena, o Legislativo revelou-se, para o seu pai, como vocação e razão da inspiração da sua existência. Ao lembrar as diversas vezes em que Humberto renunciou à possibilidade de ser candidato ao governo do Estado em prol de um colega de partido, Iraê indaga: “Quem, no universo político de hoje, teria tamanho desprendimento?”. Uma oportuna indagação em tom de provocação, tanto mais pertinente quando se nota que em outros partidos, que estão consorciados no poder atual, pululam as ambições, os gestos carreiristas pessoais, sem o altruísmo e a humildade que caracterizaram Lucena na condução das tratativas políticas.

O PMDB implodiu quando deixou de ser inteiro, na feliz exortação de Agnaldo quando profetiza que um partido só cresce quando está homogêneo. Hoje, sobrevive, a duras penas, o MDB, comandado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo, que diminuiu de estrutura, de apelo popular e ainda recentemente, nas eleições de 2022 ao Executivo estadual, não avançou sequer para o segundo turno com o próprio Veneziano. Uma comprovação de que os partidos têm, mesmo, prazo de validade nas conjunturas.