responsabilidade

A perigosa retórica da guerra política - Por Rui Leitão

"Tenho feito um esforço enorme para acreditar que viveremos um tempo de superação das crises"

Nunca escondi minha opção de voto na eleição para presidente da república na última eleição. Era explícita a minha posição contrária ao presidente eleito. Todavia, democraticamente, esperava que a partir de sua investidura no cargo maior da nação, se colocasse como o presidente de todos os brasileiros, sem qualquer distinção, seja de qual fosse a natureza.

Seus discursos, no entanto, me surpreendem pela manutenção da retórica de guerra política. Imaginava que o novo mandatário do país se comportasse, a partir de então, como alguém que se dispõe a conciliar, harmonizar interesses, respeitar divergências, ouvir também os que não votaram nele. .

Repete-se o tom da campanha. Não conseguiu descer do palanque. Voltou a fazer arminha com as mãos, num gesto que não condiz com a dignidade do cargo que agora exerce legitimamente, ameaça todos os que não compartilham com os seus conceitos ideológicos, usa a mesma cantilena dos que em outros tempos golpearam a democracia afirmando que iriam livrar o Brasil da ameaça vermelha.

Tenho feito um esforço enorme para acreditar que viveremos um tempo de superação das crises ora vivenciadas, marcadas pela corrupção, pelas injustiças sociais, pelos ataques à Constituição, pela ação politizada de parte do judiciário, pela promiscuidade que se verifica na relação do poder executivo com o poder legislativo nos últimos tempos. Lamentavelmente, os seus pronunciamentos e atitudes não me permitiram acender essa chama de esperança. Pelo contrário, o que se verifica é um incitamento à beligerância, uma exortação ao conflito.

Rogo a Deus, todos os dias, para que faça com que ele tome consciência da enorme responsabilidade que majoritariamente o povo brasileiro colocou sobre seus ombros, e aja, na condução dos destinos do nosso país, com equilíbrio, racionalidade e serenidade.

Continuarei fazendo da minha consciência crítica uma vigilância respeitosa. Se permanecer o clima de agressividade que os discursos inflamados estimulam, o Brasil não terá paz. E sem paz não avançaremos. Quando se diz “ninguém solta a mão de ninguém”, não é só uma referência aos que prometem resistência, mas é um convite a que todos os brasileiros se irmanem no sentido de produzir o ambiente de harmonia que poderá nos levar a vencer os grandes desafios que estamos enfrentando. Adversários de mãos dadas por uma só causa. Mas o exemplo tem que ser ofertado por quem está na chefia do governo. Que Deus plante no coração de todos nós, principalmente dele, a semente da concórdia, da solidariedade, da fraternidade e do congraçamento.

Rui Leitão

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão