Opinião

A importância de Cícero no debate de candidaturas ao governo - Por Nonato Guedes

A importância de Cícero no debate de candidaturas ao governo - Por Nonato Guedes

   O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas), que está no seu quarto mandato à frente dos destinos do maior colégio eleitoral do Estado é, por todos os títulos, um ativo político importante no âmbito do esquema liderado pelo governador João Azevêdo (PSB), não sendo crível que ele esteja sendo excluído ou alijado das discussões preliminares ensaiadas sobre composição de chapa ou definição de candidaturas nas eleições majoritárias de 2026. O próprio governador João Azevêdovalorizou o papel de Cícero no cenário pessoense e paraibano, ao apoiá-lo em duas eleições seguidas que assinalaram seu retorno à militância e ao comando do Centro Administrativo Municipal. A liderança de Cícero foi testada no último pleito quando derrotou o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em segundo turno, e está cravada, também, na eleição do seu filho, MersinhoLucena, para o mandato de deputado federal. O fato de estar liderando pesquisas de intenção de voto para o governo em 2026 seria bastante para lhe garantir lugar cativo na mesa de discussões sobre o formato da chapa.

        Pode estar havendo um problema de encaixe de Cícero no debate sobre candidaturas para o pleito do próximo ano devido aos espaços avassaladores que o vice-governador Lucas Ribeiro, expoente do mesmo PP, tem conquistado na mídia e nas discussões internas dentro dos partidos, como corolário da sua condição de sucessor natural de João Azevêdo caso este se desincompatibilize para concorrer ao Senado. A ascensão à titularidade do Executivo projetaria Lucas para o cenário da eleição de governador (no seu caso, reeleição), e esta possibilidade estava na lógica do processo desde que foi construída a chapa vitoriosa ao Palácio da Redenção em 2022, quando João Azevêdo postulou a reeleição. Lucas foi convocado como representante de Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, e dentro da perspectiva de ampliação dos espaços de aliança que o PSB vinha construindo com Azevêdo à frente. A reiteração desses fatos é uma repetição de obviedades ligadas à conjuntura paraibana, ainda que insuficiente para carimbar o passaporte de homologação da candidatura.

           É claro que estão delineadas pretensões concorrentes entre o vice-governador Lucas Ribeiro e o prefeito Cícero Lucena, focadas no mesmo alvo ou objetivo, que é a cadeira atualmente ocupada por Azevêdo. Mas a expectativa entre analistas políticos é que a própria cúpula do Progressistas equacione essa demanda, para o bem ou para o mal, do ponto de vista de possíveis perdas de quadros ou de pré-candidaturas. Nesse sentido, vale insistir, a senadora Daniella Ribeiro, mãe de Lucas, deu o exemplo de renúncia ou de sacrifício político ao anunciar que está disposta a não concorrer à reeleição caso o filho seja indicado pelo esquema como candidato ao governo. Foi um movimento calculado com vistas a facilitar a abertura de espaços e a acomodação de interesses de grupos que orbitam atualmente na liderança do governador João Azevêdo.

               Os rumores sobre suposto escanteio dos Lucena no debate sucessório, que não chegaram a ser confirmados por atores de destaque do quadro político paraibano, provocaram, como já era esperado, uma movimentação por parte de lideranças oposicionistas com acenos de acolhida a Cícero em caso de rompimento com João, sem estar explícito, ainda, o compromisso de formalização de uma candidatura dele ao Executivo. O União Brasil do senador Efraim Filho, que é pré-candidato ao governo, tem apostado no divisionismo do bloco governista como um dos trunfos para o fortalecimento da oposição e o consequente desequilíbrio na correlação de forças políticas locais. Antes, os mesmos segmentos oposicionistas investiram em insatisfações dentro do Republicanos, diante de desinteligências ocorridas entre o deputado Adriano Galdino e o vice-governador Lucas Ribeiro. Agora, o destinatário é o PP, dada a alegada emulação entre os Ribeiro e os Lucena.

         Em entrevistas nas últimas horas, o deputado federal Mersinho Lucena manifestou a opinião de que seu pai somente seria candidato ao governo do Estado dentro do esquema oficial se houvesse um consenso entre as forças políticas que dão sustentação a João Azevêdo. O próprio Mersinho tem sido cogitado como alternativa para uma candidatura ao Senado, embora, por via das dúvidas, ele mantenha intactas as bases na perspectiva de uma candidatura à reeleição à Câmara dos Deputados. O que se observa é que ainda há campo de manobra para convergências no bloco oficial em relação à formação da chapa. A incógnita é sobre se está havendo habilidade na condução dos entendimentos e na definição da melhor estratégia que consolide a hegemonia do projeto no poder estadual. Subestimar a relevância do prefeito Cícero Lucena no processo é um erro palmar de avaliação e cálculo político, com consequências imprevisíveis.