Lima Filho Na política, as designações de direita e esquerda nasceram durante a Revolução Francesa (1789). Nas reuniões da Assembleia Nacional, o lado esquerdo era ocupado pelos progressistas, e o direito, pelos conservadores. Nesse contexto, ser de esquerda sugere um posicionamento mais arejado, mais atento às questões sociais. Na outra ponta, a direita abraça posições voltadas à defesa do livre mercado e do conservadorismo.Naturalmente, ser de esquerda parece mais simpático do que ser de direita. Nos dias atuais, porém, esses polos antagônicos apresentam variações de toda ordem.Vamos ao que interessa.
Em inúmeros países, os dois modelos ideológicos se mostraram eficazes. São vários os exemplos. Nos dois primeiros governos do presidente Lula, o Brasil avançou consideravelmente, sobretudo na redução da miséria e da desigualdade social.Infelizmente, contudo, foi nesse mesmo período que eclodiu o maior escândalo de corrupção da história do país. Me incomoda a ausência de um pedido de desculpas — tanto do PT quanto do próprio presidente Lula. A tolerância à corrupção desmedida parece uma espinha de peixe atravessada na garganta da gente. Dá a impressão de que a esquerda é mais leniente quando o assunto é o desvio de dinheiro público.
A história ainda será contada.Hoje, a danosa polarização política — agora alimentada pelo próprio presidente Lula com o discurso de “nós contra eles” — só faz mal à nossa democracia. Mas é compreensível: enfrentando uma rejeição inédita, o presidente Lula está disposto até a se abraçar com um jacaré.Torço pelo seu sucesso? Claro que sim. Moro no Brasil. Sou brasileiro.
Em casa, desde muito cedo, e no Colégio São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro, onde estudei, recebi uma formação mais voltada à esquerda — especialmente no colégio. Estávamos enfrentando a ditadura militar. Os padres e professores faziam um incansável trabalho de conscientização.
Com frequência, nós, alunos, estimulados por eles, íamos à Praça da Cinelândia, no centro do Rio, gritar:*“O povo unido jamais será vencido!”*Apanhei em algumas ocasiões e me lambuzei de gás lacrimogêneo todas as vezes. Fortes emoções.
Vale lembrar que, em 1969, meu pai, o poeta Ronaldo Cunha Lima, foi cassado pela medonha ditadura militar. Fico pra morrer quando vejo os aloprados imbecis pedindo a volta dos militares.
É verdade que o presidente Bolsonaro contribuiu ativamente para esse devaneio, ao atacar nosso sistema eleitoral e adotar posições sinuosas sobre temas afins.Depois de uma vida inteira abraçado aos pilares da esquerda, hoje, prestes a fazer 65 anos, começo a fazer a curva para a direita — não a direita radical, nem a de Bolsonaro.
Falo da direita responsável: aquela comprometida com o desenvolvimento sustentável, com a liberdade de expressão, com justiça social, com um Judiciário verdadeiramente independente, com um Estado menos intrometido na vida das pessoas, com a transparência. Uma direita que pense no Brasil — e não apenas nas próximas eleições.