opinião

2020: Qual o palanque de Ricardo Coutinho? - Por Júnior Gurgel 

Desde o final do governo Burity (I) que todo “ex” é considerado um governador em férias. Começou com o próprio Burity, que retornou depois de quatro anos (1986), rompido com o candidato que elegera (Wilson Braga) e a máquina do Estado no comando de Milton Cabral. Derrotou Marcondes Gadelha e o próprio Braga para o Senado. Este resultado acachapante não tirou do homem do Canaã o status de “governador em férias”. Nas eleições de 1990 – a primeira com dois turnos – venceu no primeiro para Ronaldo Cunha Lima. As alianças para o segundo o derrotaram.

Ronaldo, Maranhão e Cássio, todos ocuparam a posição de “governador em férias”. Ganhando ou perdendo – as disputas sempre foram renhidas – o embate se inicia a partir das eleições municipais dois anos antes. Hora de mostrar força política nos principais colégios eleitorais, especialmente na “espinha dorsal” do Estado: Cabedelo, João Pessoa; Guarabira; Campina Grande; Patos; Sousa e Cajazeiras. A oposição sempre vencia nestes redutos, turbinando a candidatura do “governador em férias”.

Passados apenas oito meses – fora do governo – Ricardo Coutinho surpreende a todos, por ser o primeiro ex-governador a atingir sua compulsória na vida pública, sem chances sequer de ser considerado mais um “governador em férias”. Previmos neste espaço que a lua de mel entre um “ex” e seu sucessor nunca completa o primeiro aniversário.

Extraordinariamente, só no caso de José Maranhão que era vice de Antônio Mariz. Ambos não tinham “bases”, nem quadros políticos. Mariz não teve tempo de formar sua equipe. Maranhão deixou Ronaldo – no Senado Federal – governar por quase três anos. O único remanescente da equipe de Mariz, Mário Silveira – após o episodio do Clube Campestre – foi quem criou a estrutura para enfrentar Ronaldo, não através das urnas, mas, em duas convenções partidárias (PMDB 1998).

Combatendo em diversas frentes – criadas por ele mesmo – Ricardo Coutinho já sinaliza desespero, ao perceber que pode se tornar algo tão excêntrico na história política da Paraíba, quanto a sua imprevista eleição para a PMJP em 2004. O efeito “fermento” que deu robustez à sua trajetória até 2018 foi trocado por pela formula “sonrisal”. Sua liderança alicerçada no medo – usada de forma intimidatória – provocou uma debandada no núcleo girassol estranhamente movida pelo sentimento de “alforria” (?). Dissolveu-se no governo, na ALPB; e se diluiu em sua própria legenda, PSB.

A crônica política especula que irá liderar as oposições, divididas pelo abandono do ex-senador Cássio Cunha Lima e a inapetência do senador José Maranhão. Mas, como fará isto? Ser oposição ao governo que ele elegeu e esteve lá até noventa dias atrás? Desqualificam-se suas duas gestões. João Azevedo é continuísmo em obras, serviços e ações, em expansão, concebidas pelo próprio Ricardo.

Recomeçar se elegendo novamente prefeito da Capital? Falta-lhes o principal: discurso. Enfrentar duas máquinas? PMJP e governo do Estado? Seria um ato de ousadia inimaginável. Já sofreu duas derrotas consecutivas para os irmãos Cartaxos. A operação Calvário – calcanhar de Aquiles – não tem data e hora para terminar. E, quem subirá no seu palanque? Alias, em que palanque ele estará? Como ensina algumas correntes filosóficas, os “ativos” (fortes) sempre são derrotados pelos “reativos” (fracos). Ricardo superestimou a si mesmo, e subestimou valores de todos que o cercavam.

 

 

Fonte: Júnior Gurgel 
Créditos: Júnior Gurgel