caso marielle

Presa, mulher de PM é suspeita de ser mentora do descarte de armas no mar

Eliane de Figueiredo Lessa foi uma das quatro pessoas presas em operação da polícia

A mulher do PM reformado Ronnie Lessa, acusado de ser um dos assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, foi a mentora da ação para obstruir as investigações, segundo a Polícia Civil e o MP (Ministério Público do Rio). Eliane de Figueiredo Lessa foi uma das quatro pessoas presas em operação na manhã de hoje.

Segundo o inquérito, após a prisão de Lessa, Eliane montou um esquema para descartar provas de crimes do marido, que estavam em um apartamento no bairro do Pechincha, na zona oeste do Rio. Ela acionou o irmão Bruno Figueiredo, para articular o sumiço das evidências —entre elas, ao menos seis armas longas de uso restrito.

Bruno foi ao apartamento com Márcio Mantovano, o Márcio Gordo, e entregou o material a Josinaldo Freitas, o Djaca, segundo as investigações. A polícia divulgou hoje vídeo com imagens de câmera de segurança que mostra Mantovano retirando uma caixa que, segundo os investigadores, continha armas de Lessa.

A polícia diz que foi Josinaldo quem contratou um barqueiro na praia da Barra da Tijuca, também na zona oeste, e descartou caixas e bolsas em alto mar. Os investigadores dizem que foram pagos R$ 400 ao barqueiro.

Todos eles foram presos na operação de hoje, chamada de Submersus. Ronnie também foi alvo de mandado, mas ele já se encontrava preso. As suspeitas são de obstrução de Justiça, porte de arma e associação criminosa.

Segundo o delegado Daniel Rosa, titular da Delegacia de Homicídios da Capital, entre as armas descartadas, pode estar a submetralhadora HK MP5 usada para matar Marielle e Anderson.

“Tem uma probabilidade de ela ter sido descartada nesse arremesso. Além dela, foram outros fuzis. Também carregadores, lunetas, bandoleiras”, explicou. A polícia não localizou, contudo, o armamento que teria sido descartado no mar.

De acordo com as investigações, o grupo teria jogado as armas no mar em março deste ano, dois dias depois das prisões de Lessa e do ex-policial Élcio de Queiroz, outro acusado de matar Marielle e Anderson. O armamento foi descartado próximo às ilhas Tijucas, na altura da Barra da Tijuca.

Apartamento era depósito de armas

O apartamento do Pechincha seria mais um dos endereços usados como depósito de armas e oficina por Ronnie Lessa, segundo as investigações.

Há indícios de que o local não era usado como moradia, já que não havia objetos básicos para o funcionamento de uma casa. Porém, foi encontrado um torno para montagem de fuzis e chaves usadas especificamente em armas de fogo. O material será periciado.

“Essa ida ao apartamento e essa limpeza que foi feita foi exatamente no dia seguinte da prisão do Ronnie Lessa. Tivemos a informação de que aquele local era usado como depósito de armas no dia seguinte à prisão”, explicou a promotora Letícia Emily, uma das responsáveis pela investigação.

As investigações revelam que o imóvel no Pechincha é o segundo local usado como depósito e oficina para a montagem de armas por Ronnie Lessa. Durante a operação que o levou à sua prisão, em março passado, os investigadores encontraram 117 fuzis incompletos na casa de Alexandre Mota de Souza, amigo do policial, no Méier, na zona norte do Rio.

A Polícia Civil diz acreditar que exista ao menos mais um local utilizado por Lessa com essa finalidade, já que parte do material jogado ao mar pelo grupo não estava no apartamento do Pechincha.

Outro lado

O advogado de Elaine, Fernando Santana, disse que ficou surpreso com a prisão. “Elaine era testemunha, prestou depoimento aqui [na Delegacia de Homicídios] e agora foi presa?”, questionou o advogado, que também defende Lessa e Figueiredo.

Santana confirmou que Elaine pediu a retirada de uma caixa do apartamento um dia após a prisão do PM reformado. Porém, ele nega que o objetivo fosse obstruir as investigações. Segundo o advogado, a retirada dos objetos tinha o objetivo de entregar o apartamento, que teria sido alugado para os pais de Lessa.

Ele negou que dentro da caixa houvesse armas, como acusa o MP. Santana diz que o conteúdo eram objetos pessoais.

O advogado Guilherme Palpério, responsável pela defesa de Márcio Gordo, também confirmou que o cliente retirou a caixa do apartamento a pedido da mulher de Lessa. Contudo, negou que ele soubesse que haveriam armas no compartimento. Segundo o advogado, Mantovano era amigo da família e foi ajudar a remover objetos pessoais do imóvel.

“A defesa desconhece essa informação de que haveria armas dentro da caixa”, disse. “Não caberiam ali fuzis, na minha ótica. Ele reconhece que pegou a caixa e não sabia o que tinha dentro. Tinham tralhas que já estavam separadas: um ventilador, um ursinho, acho que uma vassoura também. Dali entregou a caixa para a Elaine.”

O UOL não conseguiu contado com a defesa de Josinaldo Freitas.

Fonte: UOL
Créditos: UOL