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Nuvem de poeira atinge Cuba e prejudica qualidade do ar na Flórida

Autoridades pedem que pessoas com problemas respiratórios permaneçam em casa; nuvem tem concentração mais alta de partículas de poeira observada nos últimos 50 anos na região.

A nuvem de poeira do deserto do Saara que atravessou o Oceano Atlântico e atingiu Cuba começou agora a afetar até a qualidade do ar na Flórida, nos Estados Unidos. Alguns especialistas chamam a intensa massa de ar muito seco com poeira do deserto africano de “nuvem de poeira Godzilla”. É um fenômeno que ocorre anualmente, mas parece ter se intensificado em 2020.

Impulsionado por ventos fortes, o pó do Saara viaja através do Oceano Atlântico do oeste da África durante a primavera no hemisfério norte. Nesta ocasião, a massa de ar seca e poeirenta percorreu 8 mil km até o Caribe e começou a encobrir desde o domingo, 21, San Juan, capital de Porto Rico, que parecia envolta em uma camada de neblina. Agora, um sistema de alta pressão empurra o pó saariano até a costa do Golfo da Flórida.

Em Miami, a qualidade do ar na quarta era considerada “moderada”, de acordo com o escritório de gestão de recursos ambientais e a secretaria de Saúde da cidade. As autoridades pedem que pessoas com problemas respiratórios permaneçam em casa.

A previsão é de que a qualidade do ar em Cuba também piore nesta quinta-feira, 25, e a nuvem deve continuar sobre a ilha até sexta-feira. Em Havana, o fenômeno causa uma deterioração considerável na qualidade do ar, segundo relatou o cientista Eugenio Mojena.

Ele explica que as nuvens de poeira são carregadas com material altamente prejudicial à saúde humana como “ferro, cálcio, fósforo, silício e mercúrio”, além de “vírus, bactérias, fungos, ácaros patogênicos, estafilococos e poluentes orgânicos”.

O que é a nuvem de poeira “Godzilla”
A massa de ar seco e carregada de partículas de areia se forma sobre o deserto do Saara no final da primavera, no verão e no começo do outono no Hemisfério Norte, e geralmente se desloca em direção ao Oeste sobre o Oceano Atlântico a cada três ou cinco dias. Quando ocorre, costuma ser de curta duração, não superior a uma semana. Porém a presença de ventos suaves em certas épocas do ano a tornam mais propensa a cruzar o Atlântico e percorrer mais de dez mil quilômetros.

É esse o caso, com uma gigantesca mancha opaca encobre há dias parte do Oceano Atlântico. Nas imagens capturadas por satélites, uma nuvem marrom que vai da África até o Caribe cobre o azul e branco vistos por satélite. Tradicionalmente, a atividade da camada de ar do Saara aumenta em meados de junho, alcançando seu ponto máximo do final deste mês até meados de agosto, quando começa a diminuir rapidamente.

Durante seu período de maior atividade, a camada de ar saariana chega até a Flórida, América Central e Texas, cobrindo uma área enorme que, incluindo as partes do Atlântico, é superior ao território dos Estados Unidos e do Canadá juntos.

Em vários países do Caribe, existe a recomendação para que os cidadãos usem máscaras e evitem atividades ao ar livre, dada a alta concentração de partículas no ar. Navios também foram advertidos sobre a baixa visibilidade para navegação. Especialistas afirmam que a atual nuvem tem a concentração mais alta de partículas de poeira registrada nos últimos 50 anos na região.

O fenômeno começou a ser observado em uma área do oeste da África há uma semana e agora já percorreu mais de cinco mil km pelo mar até o Caribe, passando por terra em partes dos continentes americanos, como a Venezuela.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) prevê que a coluna de poeira do Saara continuará se movendo rumo ao oeste pelo Mar do Caribe, alcançando áreas do norte da América do Sul, América Central e da Costa do Golfo dos Estados Unidos.

Vários países da área registraram a presença da poeira do Saara e usuários das redes sociais compartilharam imagens de paisagens alteradas pela nuvem, algumas com intensas cores diferentes no amanhecer e no entardecer.

Milhões de toneladas de areia
De acordo com a NOAA, a cada ano, mais de cem milhões de toneladas de poeira saariana sopram da África — e algumas partículas já chegaram até o Rio Amazonas.

A camada geralmente tem entre três e cinco quilômetros de espessura, e se encontra a uma altura de um a dois quilômetros na atmosfera. Segundo os especialistas, as nuvens de poeira contribuem de diversas formas para os ciclos da natureza no planeta.

O calor da camada ajuda a estabilizar a atmosfera quando o ar quente da nuvem passa por cima de ares mais frios e densos. A poeira mineral absorve luz solar, o que contribui para regular a temperatura do planeta.

Os minerais contidos na poeira também repõem nutrientes nos solos das zonas tropicais, que são afetados por chuvas. Mas os especialistas também alertaram para a presença de alguns elementos tóxicos que podem ser nocivos para algumas espécies.

Segundo a NOAA, o calor, a secura e os fortes ventos associados a esta camada de ar do Saara também podem facilitar a formação e intensificação de ciclones e furacões.A qualidade do ar é consideravelmente afetada e isso pode ter impacto sobre a saúde humana.

O ar seco e empoeirado tem aproximadamente 50% menos umidade do que a atmosfera tropical típica, o que pode afetar a pele e os pulmões.

Fonte: Estadão
Créditos: Estadão