eleições gerais

Conservador Boris Johnson consegue vitória arrasadora no Reino Unido, consolidando caminho para o Brexit

O resultado acachapante dá ao premier um cheque em branco para tocar seus planos para o Brexit, além de representar uma enorme derrota para o Partido Trabalhista e seu líder, Jeremy Corbyn

Confirmando o resultado das pesquisas de boca de urna, o primeiro-ministro Boris Johnson e seu Partido Conservador tiveram uma grande vitória nas eleições gerais de quinta-feira (12), obtendo uma maioria de 76 assentos, seu melhor desempenho em mais de três décadas. O resultado acachapante dá ao premier um cheque em branco para tocar seus planos para o Brexit, além de representar uma enorme derrota para o Partido Trabalhista e seu líder, Jeremy Corbyn.

A aposta de Johnson de convocar novas eleições para que conseguisse um Parlamento favorável ao divórcio da União Europeia — impasses fizeram com que sua data limite fosse postergada três vezes — deu muito certo. Os conservadores conseguiram eleger deputados em uma série de regiões no País de Gales, no norte e no interior da Inglaterra que, tradicionalmente, apoiam os trabalhistas.

Faltando apenas o resultado de um distrito eleitoral, os conservadores terão 364 de 380 assentos — para ter a maioria, bastariam 326 —, em seu melhor desempenho desde 1987, quando Margaret Thatcher reelegeu-se primeira-ministra. Comparando com a composição do Parlamento imediatamente anterior, os partidários do premier conseguiram aumentar sua presença em 47 parlamentares.

Em seu discurso de comemoração, pouco após às 7h desta sexta-feira (4h, horário de Brasília), o premier disse que este é um “novo amanhecer” e afirmou que a saída da UE acontecerá “sem mas, nem porém”. O divórcio, segundo Johnson, agora é uma “decisão irrefutável, irresistível e indiscutível do povo britânico”. Ele disse ainda, dirigindo-se aos eleitores tradicionalmente trabalhistas que optaram pelos conservadores, que “não irá os decepcionar”.

— Vocês podem voltar para o Partido Trabalhista da próxima vez, se esse for o caso, e eu me sinto honrado por vocês terem depositado sua confiança em mim — disse o premier. — Eu farei de minha missão trabalhar noite e dia, o tempo inteiro, para provar que vocês estavam certos ao votar em mim desta vez.

Ainda nesta sexta-feira, o premier irá ao Palácio de Buckingham para se encontrar com a rainha Elizabeth II e pedir autorização para formar um novo governo — tradição que, na prática, é apenas uma formalidade. Em seguida, Johnson deverá retornar à sede do governo, na rua Downing, onde fará um pronunciamento à nação. É provável que os novos deputados sejam empossados já no início da próxima semana e que a nova sessão parlamentar seja iniciada já na quinta-feira, após um discurso de praxe da monarca britânica. Já no dia seguinte, o Legislativo britânico deverá voltar a discutir o acordo do Brexit.

Derrota trabalhista
Os trabalhistas, por sua vez, sofreram sua pior derrota desde 1932, elegendo apenas 203 deputados — em 2017, nas últimas eleições gerais, havia conquistado 59 parlamentares a mais. Seu líder, Jeremy Corbyn, ainda não realizou seu discurso formal de concessão, mas disse durante a madrugada que foi “uma noite muito decepcionante para o Partido Trabalhista” e afirmou que não liderará a legenda nas próximas eleições gerais.

Ao reconhecer sua vitória pessoal como deputado representante do distrito de Islington North, Corbyn argumentou que as propostas de seu partido — plataforma focada em reverter cortes sociais realizados pelos conservadores — obtiveram “grande apoio popular” e afirmou que a polarização causada pelo Brexit contribuiu para a derrota.

— O Brexit polarizou e dividiu o debate neste país, ultrapassando bastante um debate político normal — disse Corbyn, que defendeu que seu partido faça uma “reflexão”. — Eu reconheço que isso contribuiu para os resultados que o Partido Trabalhista teve nesta noite por todo o país.

Conforme a dimensão da derrota foi ficando clara, aqueles fiéis a Corbyn apontaram seus dedos para o Brexit, enquanto outras alas trabalhista foram rápidas ao culpar a grande impopularidade de seu líder, eleito em 2015. Segundo a BBC, regras partidárias dificultam que ele seja forçadamente removido da liderança, mas lideranças da alta cúpula se questionam sobre sua manutenção no poder.

De acordo com o canal britânico, a intenção de Corbyn é continuar no cargo até que uma liderança de seu grupo dentro do partido esteja pronta para substituí-lo. O nome mais provável para isso era Laura Pidcock, mas ela não conseguiu se reeleger na quinta-feira.

Além de conservadores e trabalhistas, o Parlamento britânico terá 48 deputados do independentista escocês SNP, que conseguiu 13 assentos a mais que em 2017, e 11 Liberal Democratas — um a menos que na última sessão. Sua líder, Jo Swinson, que defendia a permanência britânica na UE, não conseguiu se reeleger. O Partido Unionista da Irlanda do Norte (DUP), por sua vez, elegeu oito parlamentares, também perdendo uma cadeira.

O crescimento do SNP, que ganhou 49 dos 59 assentos destinados à Escócia, poderá aumentar o movimento para um referendo sobre a independência do país, algo a que Johnson se opõe veementemente. A líder do partido, Nicola Sturgeon, disse que o resultado significa que o premier “deve aceitar que eu tenho mandato para oferecer à Escócia a escolha de um futuro alternativo”.

Com a vitória conservadora, a libra esterlina atingiu seu maior valor desde junho de 2018, chegando a 1,351 em relação ao dólar — na véspera, a cotação da moeda era de US$ 1,317. A libra também atingiu seu maior valor com relação ao euro desde dezembro de 2016, indicando que o mercado crê que o país adentra um período de maior estabilidade política.

Fonte: O Globo
Créditos: O Globo