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Após vencer Covid, Renan Dal Zotto busca manter legado de Bernardinho

Esperança de medalha de ouro, a seleção masculina de vôlei estreia com uma grande vitória mesmo antes de jogar: a presença do técnico Renan Dal Zotto nos Jogos de Tóquio-2020.

A partida contra a Tunísia nesta sexta (23), às 23h (horário de Brasília), na Ariake Arena, é recheada de expectativas. Há dois meses, o treinador recebia alta após 36 dias internado com quadro grave de Covid.

No hospital Samaritano Botafogo, no Rio, foi intubado duas vezes, contraiu pneumonia bacteriana e foi submetido a uma traqueostomia. Também correu risco de ter a perna esquerda amputada devido a uma trombose, mas respondeu bem a uma cirurgia vascular. Como disse à Folha de S. Paulo, Renan se viu morto.

Para chegar ao Japão, o treinador cumpriu uma rotina rigorosa de recuperação física, com até três sessões diárias de fisioterapia, enquanto a seleção foi comandada pelo auxiliar Carlos Schwanke na conquista da Liga das Nações, em junho, na Itália. Vinte quilos mais magro, Renan conseguiu andar, no máximo, 40 metros durante seis minutos em um dos primeiros testes físicos após sair do hospital.

Se havia dúvidas sobre as condições físicas para ser o técnico da equipe nas Olimpíadas, ele responde com caminhadas e ao menos 30 minutos diários na bicicleta ergométrica do centro de treinamento na cidade de Ota, localizada a 16km de Tóquio. Renan viajou ao país asiático acompanhado do médico da seleção, Felipe Malzac.

Embarcaram um dia antes da equipe e fizeram escala em Frankfurt, na Alemanha, onde aguardaram a chegada dos elencos masculino e feminino para seguirem até o Japão.

Toda essa maratona de incertezas fez do retorno de Renan o assunto principal da seleção, que vê nos Jogos a chance de consolidar o primeiro ciclo após a saída de Bernardinho do comando do time.

No cargo por 16 anos, o treinador conduziu o Brasil a dois ouros (Atenas-2004 e Rio-2016) e duas pratas (Pequim-2008 e Londres-2012). Assim, no dia a dia, Renan busca repetir o trabalho do antecessor.

“Ninguém quis reinventar a roda”, afirmou Renan à Folha. “A ideia é dar continuidade à filosofia que foi implantada desde a época do Bebeto, do Zé Roberto, e depois com o Bernardinho, de colocar na cabeça que a vontade de treinar tem que ser muito grande. Depois, o jogo é consequência do dia a dia.”

Presente em três Olimpíadas como jogador, o técnico assumiu o cargo em janeiro de 2017, sob desconfiança, já que havia quase dez anos que não conduzia um time à beira da quadra.

O próprio Renan não parecia seguro. Em seu livro “Ninguém É Campeão por Acaso”, ele conta ter sido convencido pelo tricampeão olímpico José Roberto Guimarães. Durante um almoço, o treinador da seleção feminina questionou: “O que o vôlei deu para você?”. A resposta: “Tudo, absolutamente tudo”. “Então, está na hora de você retribuir. O vôlei está precisando de você”, afirmou Zé Roberto.

Não demorou para o Brasil de Renan conquistar bons resultados, como a Copa do Mundo de forma invicta, em 2019, no Japão. A competição é realizada a cada quatro anos, e a seleção havia levantado a taça em 2003 e 2007. Além das campanhas vitoriosas, a comissão técnica conseguiu construir um grupo unido e com atuações vistosas. “A responsabilidade existe, sempre existiu e nós somos habituados a lidar com isso, além de ser algo que nos alimenta para buscar o nosso melhor sempre”, diz o treinador.

Gaúcho de São Leopoldo, Renan, 61, começou a praticar voleibol ainda na escola. Aos 16 anos, treinava no clube Sogipa, de Porto Alegre, quando foi convocado para defender a seleção brasileira adulta. Vestiu a camisa verde-amarela até os 29 anos. Ponteiro, ficou marcado logo no início da carreira por apresentar o “saque viagem” no final dos anos 1970 e pela atuação decisiva em Los Angeles-1984. É tido como um dos pilares daquele time, apelidado de geração de prata e que deu ao Brasil a sua primeira medalha no vôlei.

Renan também participou das Olimpíadas de 1980 (Moscou) e de 1988 (Seul), além de vestir a camisa da seleção em três Mundiais e três Pan-americanos. “Como atleta, você pensa em estar bem, fazer o seu melhor e estar preparado para o jogo. Como treinador, você pensa em todas as circunstâncias e situações, no planejamento, em extrair o melhor de cada um. É um trabalho bem diferente”, compara Renan.

Após encerrar a carreira de jogador em 1993, deu início à trajetória de técnico com o Palmeiras/Parmalat –ficou com o vice da Liga Nacional (hoje Superliga) e o Paulista. Na sequência, comandou o Chapecó e o Rio de Janeiro. De 1995 a 2005, atuou como gestor das equipes feminina e masculina da Unisul. Voltou à Itália em 2007 e sagrou-se campeão como técnico do Sisley Treviso na Supercopa.

Também administrou a equipe Cimed (2009 e 2010) e atuou no futebol, como diretor de marketing do Figueirense e diretor do Guarani. Em 2014, aceitou o convite para chefiar o departamento de marketing da CBV e, depois, foi o diretor de seleções. Até que, em 2017, assumiu o comando técnico da seleção.

Além de conquistar a Copa do Mundo, a equipe brasileira, sob o comando de Renan, obteve o vice do Mundial de 2018, da Liga Mundial (hoje, Liga das Nações), em 2017, e da Copa Pan-Americana (2018). Também levantou as taças da Copa dos Campeões (2017) e do Sul-americano (2017 e 2019).

Fonte: Notícias ao Minuto
Créditos: Polêmica Paraíba