Zika vírus causa necrose cerebral - alerta sociedade brasileira de neurologia Psiquiatria Infantil

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Tomografias indicam que malformação ligada ao novo vírus não só afeta tamanho do crânio de bebês, como provoca necrose em áreas do cérebro, o que pode deixar sérias sequelas

A microcefalia, doença que fez subir o nível de alerta em todo o país para as ameaças transportadas pelo Aedes aegypti, traz consigo um risco ainda mais preocupante, sobretudo para mulheres grávidas ou que pretendam engravidar. O distúrbio que provoca malformação cranioencefálica em bebês é ainda mais grave e causa danos mais severos ao recém-nascido quando desencadeado pelo zika vírus, um dos micro-organismos transmitidos pelo mosquito. A informação é da Sociedade Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil, seção Minas Gerais, e tem como base análise de tomografias de cérebros de pacientes apresentadas durante congresso sobre o tema neste ano, em São Paulo. Nos casos em que a microcefalia está associada à infecção por zika, as imagens mostram que, além de o perímetro encefálico dos recém-nascidos ser menor que 32 centímetros – limite que indica a enfermidade –, o cérebro apresenta pontos de necrose e calcificações. As alterações podem afetar áreas neurológicas importantes e provocar na criança sequelas motoras, visuais e cognitivas, entre outras.

Presidente da seção mineira da Sociedade de Neurologia e Psiquiatria Infantil, o neuropediatra Rodrigo Carneiro de Campos detalha as diferenças. Segundo ele, quando causada por outras razões – como rubéola, toxoplasmose, complicações na gravidez ou no parto e doenças genéticas –, a microcefalia resulta na diminuição do tamanho do crânio, mas o cérebro se mantém íntegro. “As imagens de recém-nascidos de Recife, apresentadas no congresso, mostram os dois tipos da doença. É possível ver que os casos provocados pelo zika vírus são mais severos, com áreas necrosadas, que resultam em calcificações. A depender da região acometida pela necrose, todas as funções vitais podem ser afetadas”, destaca o médico, que reforça o alerta para combate ao mosquito transmissor do vírus.

A gravidade dos casos é mais um fator a chamar a atenção para a necessidade urgente de medidas de prevenção contra a transmissão do micro-organismo. Diante da falta de vacinas para prevenir a febre zika e de medicações que evitem o desenvolvimento da microcefalia, a grande aposta das autoridades de saúde é no combate a criadouros do Aedes aegypti. “Essa é uma doença grave, que resulta em muitos prejuízos para a saúde do bebê. Por isso, a única medida eficaz é cada um fazer sua parte para evitar novos casos”, afirma Rodrigo Carneiro de Campos.

Por se tratar de algo novo, não descrito anteriormente na literatura médica, ainda não se sabe exatamente como funciona a relação entre as doenças. Um grupo de 80 pesquisadores brasileiros coordenado pelo Ministério da Saúde, por meio da Fundação Oswaldo Crus (Fiocruz), está trabalhando em pesquisas para aprofundar o conhecimento em relação à microcefalia e ao zika vírus. O ministério confirmou recentemente a relação entre o micro-organismo e o surto de casos de malformação cranioencefálica no Nordeste do país neste ano.

Em todo o Brasil, a relação entre a microcefalia e o zika é investigada em 2.782 bebês com a malformação, segundo o último boletim disponível, e em pelo menos 135 deles a associação entre as doenças foi comprovada. Em Minas são 52 diagnósticos sob apuração, 13 deles em Belo Horizonte. Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde ressaltou a importância do estudo e investigações sobre a relação entre a alteração em bebês e o novo vírus, para esclarecer questões como a atuação do agente infeccioso no organismo humano. Informou ainda que em Belo Horizonte – que decretou estado de emergência para o combate ao mosquito transmissor – está mantida vigilância intensificada e investigação dos casos suspeitos. Ainda não há diagnósticos confirmados de microcefalia na capital, destacou a secretaria. Já a secretaria estadual informou que segue e executa as recomendações oficiais do Ministério da Saúde.

PREVENÇÃO

Como o ciclo de reprodução do mosquito, do ovo à forma adulta, é curto (pode levar de cinco a 10 dias), o Ministério da Saúde reforçou recomendações à população com a chegada do período de férias. Por isso, mesmo em uma viagem curta é preciso estar atento. Um balde esquecido no quintal ou um pratinho de planta na varanda do apartamento, após uma chuva, podem facilmente se tornar focos do Aedes aegypti e afetar toda a vizinhança. É importante verificar se a caixa-d’água está vedada, as calhas totalmente limpas, pneus sem água e em lugares cobertos, além de garrafas e baldes vazios e com as bocas viradas para baixo, entre outros pequenos cuidados que podem evitar o nascimento do mosquito e as ameaças que ele transporta.

Apesar de o principal foco de alerta estar concentrado nas mulheres grávidas ou que pretendem engravidar, devido ao risco para os bebês, o zika vírus pode deflagrar pelo menos mais uma doença severa: a síndrome de Guillain-Barré. Trata-se de uma reação a agentes infecciosos, na qual o sistema imunológico do paciente passa a atacar a chamada bainha de mielina, que recobre e protege nervos periféricos, garantindo a condução dos estímulos de movimento. Entre os sintomas estão a paralisia ascendente, que começa nas pernas e pode subir para membros superiores e pescoço. A gravidade varia de acordo com cada organismo, mas pode deixar sequelas e até ser fatal, se afetar músculos da respiração e cardíaco.

Fonte: Estado de Minas